Além do Laiá-laiá

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Karine Manchini <br> Especial para o Diário

O Brasil e sua mistura de povos e raças carregam consigo diversas origens culturais. Os movimentos musicais não são diferentes. Pagode e samba, originalmente, eram nomes de festas com batuque da época dos escravos. O samba se transformou primeiro em gênero musical no início do século 20. Somente por volta do fim dos anos 1970 e começo dos 1980, em uma quadra em Cacique de Ramos, no Rio de Janeiro, foi desenvolvido um tipo de samba com instrumentos diferentes. Grupos, como o Fundo de Quintal, e sambistas, como Almir Guineto e Jorge Aragão, deram início ao pagode.

“Trata-se de samba cadenciado, com sua estrutura rítmica. A formação dos grupos também era nova: um cantor principal e outros, atrás, fazendo vozes e tocando alguns instrumentos. Um deles é o banjo, de origem norte-americana, mas com cordas afinadas como um cavaquinho”, explica o doutor em Comunicação e professor da Universidade Metodista Herom Vargas.

O pagode foi chegando devagar até que, na década de 1990, ganhou cara mais ‘comercial’ e estourou. Raça Negra, Exaltasamba, Soweto, Só pra Contrariar, Molejo, Negritude Júnior, Katinguelê, Art Popular, Pixote, Karametade são alguns nomes que trouxeram a junção de melodias, sobretudo super-românticas, e batidas com interferência de instrumentos eletrônicos.

PAGODEIROS COM ORGULHO

Por essas e outras, o pagode marcou gerações. Há quem continue selecionando os hits para o setlist da vida. “Comecei a escutar quando tinha 10 anos por influência dos meus tios. Ouço até hoje e curto muito Raça Negra, Art Popular, Fundo de Quintal e Molejo”, conta o comerciante de São Bernardo Alexandre Carlos Festa, 31 anos. A empresária Mariana Romanini Chippari, 34, de Ribeirão Pires, também foi testemunha do sucesso dos anos 1990. Ela é tão fã que consegue enxergar as mudanças que o estilo sofreu no decorrer dos anos. “Acho que hoje as letras são mais ‘melosas’ e, principalmente, muito repetitivas, tem ‘laralalá’ demais. Em quase todas as músicas se ouve só isso”. E completa: “As letras românticas do Exaltasamba, Raça Negra e Katinguelê marcaram muito a minha adolescência.”

Engano de quem pensa que o pagode marcou somente a faixa etária dos 30 anos. Prova viva é o estagiário de comunicação Augusto de Souza, 23, de Santo André. Fã de Exaltasamba, Os Travessos, Só Pra Contrariar, Sensação, Pique Novo e Katinguelê, ele conta que o estilo sempre foi trilha sonora para os começos e términos de relacionamentos.

Souza não lamenta ser ainda criança quando o estilo musical estourou. Pelo contrário. O estudante vê grande vantagem em poder, aos poucos, descobrir mais um grupo de pagode daquela época. Ele também percebe diferenças entre os ‘pagodes’. “Antigamente, o processo era mais simples. Se o compositor estava sofrendo, com um papel e uma caneta na mão ele escrevia uma letra que fazia chorar junto. Não se preocupava tanto em criar algo épico, só queria criar”, analisa o jovem, que festeja a sorte de ter conhecido o cantor Péricles. Eles moram em bairros próximos em Santo André. 




Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados