Direito de escolha

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Miriam Gimenes

Dia desses encontrei uma amiga da época da escola e conversávamos sobre conciliar trabalho e maternidade. Ela, por opção, assim que teve seu primeiro filho, há 7 anos, abdicou da profissão e decidiu dedicar-se inteiramente para ele. Agora tem outro pequeno, de 2. “Desde criança, quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse, sempre dizia que queria ser mãe. Amo isso e não me arrependo de ter parado.” Admirei sua convicção.

Mas e se fosse o inverso? Se ela, depois de todo esse tempo, quisesse voltar a trabalhar? A escolha de sair do mercado de trabalho ­­– embora implique em série de fatores, inclusive financeiro – é mais fácil do que voltar.

Isso porque, além de carregar a ‘culpa’ de ter de deixar a criança na escola ou sob a tutela de uma pessoa de confiança, muitas vezes a mulher sofre preconceito por parte das empresas. Pesquisa feita pela Catho, que faz recrutamento, mostrou que 28% das mulheres deixaram o emprego após terem filhos (homens apenas 5%). Das que quiseram voltar à ativa, 21% levaram mais de três anos para conseguir uma recolocação. Já os homens, apenas 2% tiveram dificuldade.

E foi a fim de ajudar essas mães a encontrarem um lugar ao sol em suas profissões que a agência TeamWorker, especializada em comunicação corporativa, criou, há pouco mais de um mês, a plataforma Contrate uma Mãe (www.contrateumamae.com.br). Nela está sendo feito um banco de currículos para que empresas parceiras da iniciativa o consultem quando precisarem de novas profissionais.

Na plataforma há um dado importante: o Royal Holloway, da Universidade de Londres, publicou que a gestação aumenta as atividades neurais do lado direito do cérebro, que é a parte responsável pelas capacidades cognitivas ligadas a criatividade, relacionamento interpessoal e percepção/controle das emoções. Elementos importantíssimos para qualquer profissional, certo?

Segundo uma das idealizadoras da plataforma, a jornalista Daniela Talamoni Araujo Verotti, mãe do Enzo, 3 anos, a mulher após a maternidade deve concorrer de igual para igual com outros candidatos em uma entrevista de emprego. “A mãe realmente tem novas habilidades. Não é simplesmente ‘ah, sou mais sensível’. A mãe aprende a gerenciar melhor o tempo, tem mais disciplina, fica mais organizada. Tudo isso só tem a acrescentar.” E o mercado de trabalho, acrescenta, está mais receptívo e flexível a esta nova realidade.

Em pouco mais de 30 dias, a plataforma já teve mais de 1.200 currículos cadastrados, nos mais variados perfis. Mais do que dinheiro, conseguir uma recolocação profissional ­ou abdicar dela, como o caso citado no início do texto, ­ cabe a cada uma. O importante é ter segurança ­– e apoio – para seguir qualquer que seja a direção. Se a força da maternidade é maior até do que as leis da natureza, como defende a autora norte-americana Barbara Kingsolver, enfrentar um mercado de trabalho será apenas um desafio. Desafie-se.

 



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