Décadence avec Élégance

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Andréia Meneguete

Foto: Divulgação
A socialite Carmen Mairynk Veiga ficou reconhecida nos anos 1960 não só por sua elegância, mas também por invejável beleza. É dela o título de maior consumidora  de alta costura, colecionando modelos de estilistas  franceses memoráveis, como Dior e Chanel. Em 2007, a casa Julieta de Serpa realizou exposição com todos  os figurinos comprados pela paulista ao longo de toda  vida.Foto: Divulgação

O high-society brasileiro mudou e com ele presenciamos a tese de Andy Warhol que bastam apenas 15 minutos de fama para estar nos burburinhos das colunas sociais

Reuniões entre famílias quatrocentonas, com bons costumes e regras de etiquetas à revelia dão lugar a cenários ostensivos preenchidos por indivíduos de um nome só no papel de celebridades que fazem questão de esbanjar dinheiro e poder diante dos holofotes. Os instrumentos que dão notoriedade continuam o mesmo: local badalado, muito champanhe, menu sofisticado e roupas de grife.

Entretanto, nome e sobrenome já não são mais passaporte para transitar na ala dos bem-nascidos. Muito menos ter a elegância e a sofisticação que antes eram inerentes às pessoas da alta sociedade brasileira.  Hoje, muita coisa caiu em desuso, como festas para amigos, joias herdadas de bisavó, jantares familiares em mesa posta com faqueiro de prata. Inclusive, é raro se ver também a criteriosa forma de se fazer colunismo social no Brasil. Não é segredo para ninguém que há muita gente que paga ou pelo menos oferece presentes caros para aparecer na mídia. Agora, o que interessa mesmo é ver e ser visto. E não importa quem seja, de onde veio e o que fez ou faz. Basta ter algum atributo convincente para os flashes virarem em direção do favorecido – que para aparecer só precisou fazer ensaio sensual para revista masculina, ter affair com algum artista de Hollywood ou até se meter em escândalos, barracos e brigas conjugais.

Desde os tempos dos cariocas Jacintho de Thormes, pioneiro do colunismo social brasileiro, e Ibrahim Sued, jornalista que deu glamour às páginas sociais dos jornais e revistas mais renomados do País, muita coisa mudou. Tudo porque nos anos 1950 a denominação e a prática que sustentavam o high-society brasileiro eram outros.

Apenas dinheiro não bastava para justificar a estada nos melhores eventos e badalações do eixo Rio-SP.  À época, as pessoas precisavam pertencer a família nobre e tudo que fazia parte daquele universo era mais do que normal para a confraria do luxo, servindo como exemplo e inspiração para os mortais que liam as colunas.

Nas notas publicadas, o de sempre: colunáveis realizando ações beneficentes, programando viagens de férias, celebrando o nascimento de herdeiros e organizando jantares comemorativos para mostrar a valorização da família. Vale ressaltar que não havia nada mais demodé do que falar sobre dinheiro – a não ser que a conversa girasse em torno dos negócios – ou exaltar as novas aquisições. A discrição era requisito básico, não podia faltar nas rodas dos grãfinos. Algo que parece esquecido em tempos de Eike Batista e Ronaldo Fenômeno, em que a divulgação de patrimônio virou quase que de domínio público. À propósito, esses, com certeza, seriam barrados no baile se vivessem nos tempos de ouro da alta sociedade. Desquitados, artistas e jogadores de futebol não eram bem vistos pelo grand monde. E ainda sem comprovação de árvore genealógica tradicional, nada feito. Não adiantava insistir, muitos ficaram a ver navios ao que se refere a ter trânsito livre nas badalações. Até o homem do baú teve que dar meia volta e rumar para casa. “Logo que ficou rico, Silvio Santos tentou participar dos encontros, mas foi barrado por não pertencer a uma família tradicional. Depois disso, nunca mais fez questão de comparecer a lugar nenhum”, revela a cantora Desiree Souza Aguiar Spolidorio, 58 anos, que circula nos bastidores da highsociety desde os 18.
 

VIRADA DE MESA

A explicação para a transformação do cenário vem junto com a evolução da sociedade em si. O acadêmico Fred Inglis pontua de forma exata em sua obra A Short History of Celebrity (sem edição em português) o conceito de celebridade, termo que surge no fim da Idade Moderna, quando havia célebres por causa da produção que faziam através da arte, da literatura, da moda ou da ciência. Nobres e burgueses passaram a patrocinar artistas com o objetivo de ganhar notoriedade, não apenas como no Renascimento quando famílias poderosas subsidiavam as artes pelo bom gosto e refinamento.

Foi no cenário da Inglaterra do século 18 que se estabeleceu os primeiros relatos da sociedade de consumo não por necessidade, mas por desejo criado por figuras inspiracionais. O resultado não podia ser outro: grupos sendo destacados por funções que exerciam, rendendo respeito e popularidade aos olhos da massa. Frente ao que se foi criado era inevitável que qualquer benfeitoria ou deslize comportamental virasse alvo de falações entre as pessoas que consumiam e se encantavam com as notícias de celebridades.

O poeta romântico inglês Lord Byron foi quem marcou os primórdios da indústria das fofocas por ter características que todo consumidor de notas sociais gosta de ter: mulherengo, boêmio e bravateiro. Então, temos aí boa mistura de gente que gosta de aparecer, acontecimentos picantes e público que aguarda ansiosamente por histórias infâmes e pitorescas. “O objetivo da coluna social é retratar o comportamento da sociedade. É possível analisá-la por meio do que está inserido nesse espaço na mídia. Guardada as devidas proporções, é quase uma crônica social. É possível enxergar comportamento em vigor naquele momento”, explica a colunista desta revista, Angélica Nicoletti.
 

FAMOSIDADE

Mas o termo celebridade ganha força com a entrada da televisão nas residências e diferentes personagens começam a fazer parte da vida das pessoas e servem como inspirações. O americano Andy Warhol com a sua Pop Art, na década de 1960, foi visionário ao propagar que “um dia todos terão seus 15 minutos de fama”. E ele utilizou de seu dom para personificar a transformação dos ídolos da sociedade contemporânea. A exemplo das pinturas do próprio Warhol que no lugar da princesa



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