Pela estrada afora ela vai...

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Marcela Munhoz

Cheryl Strayed, 26 anos, tinha acabado de perder a mãe, odiava o emprego e estava vivendo casamento conturbado. Ela decidiu, então, colocar a mochila nas costas e se aventurar sozinha por três meses pela Pacific Crest Trail, trilha de mais de 1.700 quilômetros que passa pelo deserto de Mojave, atravessa a Califórnia e o Oregon, até chegar a Washington, nos Estados Unidos. Ela voltou renovada.

A história da norte-americana, hoje com 48 anos, foi contada no filme Livre (2014), com Reese Witherspoon como protagonista. Não que seja necessário ter qualquer tipo de busca pessoal, problemas ou tramas a curar para pegar a estrada – e o roteiro nem precisa ser tão ‘natureza selvagem’ –, mas Cheryl é inspiração para muitas mulheres que também resolvem fazer as malas e embarcar, sozinhas, em grandes aventuras ao redor do mundo. Por que não?

Este panorama é cada vez mais real e palpável também no Brasil. De acordo com pesquisa de sondagem do consumidor, divulgada ontem pelo Ministério do Turismo – junto à hashtag #RespeitaAsViajantes’ , uma em cada sete brasileiras que pretendem viajar nos próximos meses, vai fazer isso sozinha (cerca de 17,8%). O índice, maior dos últimos dez meses, é superior a intenção entre os turistas do sexo masculino (11,8%) .“É importante lutar pelo empoderamento das mulheres e temos que trabalhar para garantir a segurança das nossas viajantes”, avaliou o ministro do Turismo, Marx Beltrão.

Estudo do site Airbnb diz que o Brasil está entre os países que lideram o ranking de mulheres viajando sozinhas. As asiáticas são as que mais embarcam em aventuras pelo mundo. E quem não tem condições de bancar uma viagem de avião, paga para percorrer as estradas do País mesmo. A Guichê Virtual, startup de venda de passagens de ônibus online, constatou que ir desacompanhada tornou-se tendência. “Durante a semana, o motivo é profissional. Nos fins de semana, vão para lazer. As viajantes do Grande ABC costumam ir muito para o Litoral Sul e Interior de São Paulo”, conta Halyson Valadão, diretor de operações.

Entre os principais motivos para viajar sozinha, de acordo com as entrevistadas para este caderno, está a vontade de viver a experiência, só depois aparece a falta de companhia. Quem vai, volta elencando mais vantagens do que desvantagens. “Prefiro porque não preciso fazer concessões”, conta Ana Paula Teixeira, 37. Sabrina Levensteinas, 36, concorda: “Assim dá para fazer os passeios no meu ritmo, definir meu roteiro da maneira que eu quiser. É grande sensação de liberdade!”. Para Flávia Dessoldi, 26, a experiência proporciona conhecer a si mesmo, seus limites, suas inseguranças e superar cada um deles da melhor maneira que desejar. “Descobrir-se como a melhor companhia que você pode ter é algo que não tem preço”, conta.

Além disso, segundo elas, viajar sozinha não significa estar sozinha, a não ser que a mulher queira isso. “Sempre que tenho a chance, converso com as pessoas a minha volta. Seja na praia para olhar minhas coisas, seja nos passeios, no hotel, onde puder. Sem contar que fiz muitas amizades por onde passei”, conta Andréa Mastercoachm, que criou a página e grupo no Facebook com o nome Mulheres Que Viajam Sozinhas. “Fico bem comigo mesma e com meus pensamentos. Percebi que me viro quando é preciso sem esperar que façam por mim. Viajar só me traz senso de independência, recomendo a experiência fortemente”, dá o recado.

Tomar certos cuidados nunca é demais

De acordo com pesquisa feita do site TripAdvisor, os destinos mais procurados pelas viajantes são Londres, Paris, Nova York, Roma, Barcelona, Buenos Aires, Bancoc, Istambul, Rio de Janeiro e São Paulo. Aliás, o Observatório de Turismo e Eventos da SPTuris divulgou ontem o perfil da turista que chega à Capital paulista.

Ela tem entre 30 e 49 anos (47,6%), viaja sozinha (46%) e sua principal motivação é o lazer (30%), seguido por negócios (23,5%) e visita a amigos e parentes (21%). A pesquisa mostra ainda que a maioria permanece na cidade, em média, por três dias e visita, principalmente, a Avenida Paulista, a Rua 25 de Março, o Parque do Ibirapuera, o Masp e Mercado Municipal.

Outras listas apontam os países ‘mais perigosos’ para as mulheres conhecerem sozinhas. Fazem parte do levantamento lugares como Índia, Turquia, Tailândia, Egito, Colômbia, África do Sul, Marrocos, México, Quênia e também o Brasil. Na verdade, o que importa é sempre tomar cuidado.

Quando foi à Índia, Ana Paula Teixeira, 37 anos, estranhou e prezou por cuidados. “Ser mulher turista na Índia é difícil. Os homens estranham, perseguem e não respeitam. Tomei muitas precauções como andar vestida próximo ao que as indianas modernas usam. Mas, mesmo assim, tive que me exaltar várias vezes com homens”, conta. Flávia Dessoldi, 26, passou um perrengue em São Francisco, nos Estados Unidos. Ela pegou ônibus errado e foi parar na periferia, em um bairro só de negros. “No caminho para o ponto em que passava a linha que precisava pegar para voltar, fui empurrada várias vezes para fora da calçada. Uma mulher me xingou bastante e me ameaçou com uma garrafa”.

Para evitar situações de perigo, todas pesquisam bem os países escolhidos (principalmente sobre sua cultura), planejam muito bem as viagens com roteiros detalhados (de preferência com um app de mapas que funciona off-line), avisam cada passo que estão dando para quem ficou no Brasil (passam nome e número de telefone dos hotéis, dados sobre voos), não chegam a noite nem andam em lugares isolados quando está escuro, não cruzam fronteiras sozinhas, guardam bem as coisas de valor, deixam cópias dos documentos, especialmente passaportes na caixa de e-mails, não aceitam bebidas de estranhos, usam apenas serviços de transporte oficiais – táxi, shuttle, vans ou ônibus. 




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