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Élvis Clóvis
Arlinda reclamava que nunca cheguei perto da cozinha. "Você não lava um copo, Elvis!" Reconheço que tinha um receio natural de macho. E se vazasse na internet minha foto lavando uma forma de bolo? Certa vez, Arlinda viajou com as amigas. Já nas primeiras oito horas de sua ausência, uma pilha de louça superava a altura da torneira. Não havia um talher limpo. No quarto dia decidi encarar a esponja. Conchas e pratos brotavam. Aquilo não acabava. Parei e corrigi minha pose de homem com H. Quando me voltei para o monte de panelas, uma delas me chamou a atenção. Não era nova. Devia ter seus 30 e poucos anos. Segurei-a diferente das outras. Lavei, enxuguei e deixei o resto lá. Sentei com ela no sofá e a admirei por dezenas de minutos. Algo em mim estava diferente. Fiquei com medo e corri para o quarto, mas uma força me trouxe de volta à sala. Abracei a panela. Beijei-a ardorosamente. Dormi com ela aquela noite e na noite seguinte, quando Arlinda voltou e nos flagrou. Me separei de Arlinda, mas deixei tudo para ela, exceto a panela e um joguinho de copos com os quais montamos uma família num quarto e sala bem pobrezinho, mas tudo muito limpinho, brilhando e com muito amor.
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