Educação no Brasil

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Andréia Meneguete

Foto: Diário do Grande ABC
Investimento é bilionário, mas o Brasil ainda deixa a desejar em políticas públicas e avança a passos lentos rumo ao cenário ideal. Foto: Diário do Grande ABC

Há 70 anos, o austríaco Stefan Zweig publicou a obra Brasil, País do Futuro, que se transformou em frase pronta a qualquer projeto para a Nação. Sem tom futurista, o livro relata as possibilidades de evolução social e econômica do País no mundo pós-guerra. À época, dos 42 milhões de brasileiros, 43% eram analfabetos. A realidade mudou, mas não segue com voz tão esperançosa.

Mesmo com o investimento de R$ 8 bilhões em Educação no governo Lula, o empenho não é suficiente, já que cerca de 700 mil crianças estão fora da escola e 9,7% da população continua analfabeta. Os que estão em salas de aula saem sem condições favoráveis de entrar em universidade gratuita, o que acaba exigindo a criação de programas sociais como o ProUni (Programa Universidade para Todos) e Fies (Financiamento Estudantil), para custear a universidade privada, já que não há base suficiente para ingressar na rede pública.

E no meio desse imbróglio, de acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), existem ainda 20,3% analfabetos funcionais, que leem e escrevem, mas não interpretam textos. “Atingimos a democracia educacional quantitativa, mas não qualitativa. Garantimos o ingresso da criança na escola, mas não a permanência e o aproveitamento”, justifica a professora da faculdade de Educação da USP  Silvia Collelo.

A explicação pode estar no passado elitista que persegue a história da Educação no Brasil. A escola pública surgiu nos anos 1930, mas só a Constituição de 1988 garantiu o direito de ensino a todos. O futuro visualizado pelo austríaco ainda insiste em não chegar: hoje, apenas 25% dos estudantes entram na universidade pública.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que 90% dos alunos estão em escola gratuita, mas recorrem à rede particular para cursar a faculdade. “O aluno chega sem preparo. Temos de destinar um ano do curso superior só para tentar lecionar o que ele não aprendeu nos anos anteriores”, explica o reitor da Uniban, Heitor Pinto Filho.

Para falar sobre os problemas e as soluções para o ensino no Brasil, a Dia-a-Dia Revista convidou o senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque.

DIA-A-DIA REVISTA – Qual é a importância de se investir em Educação?

CRISTOVAM BUARQUE – Diversas. Primeiro eu diria social, a única forma de quebrar a desigualdade é garantindo Educação igual para todos. Não há como quebrar a desigualdade social optando por somente dar Bolsa Família todo mês. Segundo é a importância da questão econômica. Estamos no século da era do conhecimento, o futuro não está em exportar ferro, suco de laranja ou bens industriais. Está em exportar bens com alto conteúdo de inteligência, resultado da ciência e da tecnologia. E tudo isso só acontece se tivermos uma boa rede de universidades, que só virá se os alunos tiverem excelência e eles só serão bons se o ensino de base, que é o infantil, for de qualidade. É por meio da educação que a gente desenvolve a cultura, o respeito que levaria à proteção do patrimônio, o fim da violência e, até mesmo, da corrupção. Países onde há menos corrupção são os mais educados. Elevando o nível de conhecimento da população, conseguimos aumentar o rigor eleitoral e a participação na sociedade.

DIA-A-DIA REVISTA – Como a falta de investimento na Educação pode causar os abismos sociais?
CRISTOVAM – Pegamos como exemplo o futebol. Raramente se vê um craque no futebol filho de rico, porque a bola é redonda para todos, a dedicação aconteceu de igual para igual. Na Educação, as escolas são redondas para alguns e quadradas para outros. Na seleção, que é o Ensino Superior, só os mais preparados passam, na maioria das vezes, os filhos da elite.
Com uma educação excelente desde a base, o filho do pobre e do rico na mesma escola vai se destacar pelo mérito pessoal e não pelo dinheiro disponível. Diminuímos, então, os abismos sociais.

DIA-A-DIA REVISTA – Quem faz parte desta elite que tem acesso ao ensino privilegiado?

CRISTOVAM  – Todos aqueles que ganham acima de cinco salários-mínimos, que têm todos os dentes na boca, que possuem seguro- saúde, que descontam da declaração do Imposto de Renda o valor para pagar a escola particular. São todos que terminaram uma boa universidade e que têm casa própria. Por isso, tenho um projeto que obriga filho de parlamentar em estudar em  escola pública, isso faria mudar a visão e vontade de transformação.

DIA-A-DIA REVISTA – O que falta para que a Educação seja ideal para todos?

CRISTOVAM – Duas coisas atrapalham. Uma é cultural. Nós, por alguma razão, somos um povo que não acha a educação importante. Ninguém é visto como rico porque é culto, ao contrário, é chamado de louco. A formação intelectual não é considerada. Para nós, ricos são aqueles que têm conta no banco, roupa bonita, carro novo. O segundo ponto é social, resolvemos as questões sempre pela camada de cima da população e abandonamos os problemas do núcleo de baixo, que são a saúde, o trabalho, o transporte, a segurança e a educação, que entra nesse meio. Isso no ponto de vista de tomar a decisão para fazer mudanças positivas. No plano da educação, tínhamos que fazer a revolução educacional, como tantos países fizeram. E o que atrapalha é que a educação de base é municipal, que está nas mãos dos prefeitos que não têm o interesse de atuar nisso. As cidades são pobres, não têm dinheiro e vontade para investir na revolução educacional.

DIA-A-DIA REVISTA – O que seria exatamente esta revolução educacional?

CRISTOVAM  – Consiste em federalizar a base. É criar um plano de carreira nacional do magist&e



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