Da vida real ao reality show

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Miriam Gimenes

Foto: Divulgação
Brito Jr. e Pedro Bial ousaram na carreira e ainda não ganharam a unanimidade. Foto: Divulgação

Guerra do Golfo, colapso da União Soviética e queda do Muro de Berlim. Ascensão de Lula de líder metalúrgico a presidente da República, Copa do Mundo da Coréia e do Japão e narração do Carnaval de São Paulo. Tais eventos são apenas alguns que compõem o currículo invejável de dois grandes jornalistas brasileiros: Pedro Bial e Britto Jr. Ambos, com mais de três décadas de carreira dedicada ao mundo da informação, passaram a integrar nos últimos dez anos o seleto time de apresentadores que comandam reality shows. Erro ou acerto? Só o tempo dirá.

O formato televisivo em que os participantes são vigiados por dezenas de câmeras 24 horas por dia, embora tenha conquistado telespectadores desde a primeira transmissão, é alvo de críticas. Ora são pseudofamosos em busca de uma capa de revista ou uma ponta na novela, ora são os já ‘famosos’ procurando não morrer na mídia. O saldo desta mistura é uma sucessão de brigas, barracos e inúmeras cenas de degradação humana em busca de alguns milhões de reais.

O fato é que, embora ainda exista público para programas neste formato, a audiência vem caindo nos últimos anos. Para alavancá-la, as emissoras atiçam cada vez mais os participantes, criando situações de conflito. E é aí que entram Bial e Britto Jr. A eles cabe o papel de pôr mais lenha nesta fogueira e ajudar na edição dos melhores momentos das 24 horas para prender o público e aumentar o número de televisores ligados. E para isso, tem de ser bom no que faz. Tem de ser dotado de coragem para abdicar, nem que seja por três meses, de fazer consistentes reportagens especiais para literalmente cuidar da vida dos outros.

Para o colunista de televisão do Diário do Grande ABC Flávio Ricco, não convém bater na tecla de que Bial e Britto tenham manchado suas carreiras. “Acho preconceito porque eles continuam sendo jornalistas. Os que mais criticam são os que mais assistem”, alfineta.

Ele diz que para inovar tem de pagar o preço. Ricco lembra do preconceito enfrentado por Silvio Santos quando lançou programa de auditório, pois alguns diziam que era só para empregada. O colunista de televisão Daniel Castro analisa de outro ponto de vista. “Vejo no Britto e no Bial dois jornalistas que emprestaram credibilidade e talento para formatos que necessitavam de um peso. E não deixaram de ser respeitados.” Na falta de sucessores para Faustão, Hebe, Raul Gil e Silvio Santos as emissoras buscam no meio jornalístico profissionais com know-how para apresentarem novos formatos. Até porque o merchanding é altíssimo.

Por mais que tenham ouvido críticas, Britto e Bial vão muito bem, obrigado. “Tenho 100% de felicidade (profissional). Foi ótimo, o risco compensou”, analisa Britto Jr., acrescentando que pretende especializar-se no formato. Bial, que ciceroneou a 11ª edição do BBB, já declarou que daqui a 50 anos se vê dando entrevista sobre o fato de ter sido um dos pioneiros do reality show no Brasil. Eles não cedem às críticas e levam a ferro e fogo a conhecida frase de Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra.”


A ESCOLHA

Britto Jr. acredita que tudo tem hora certa. Embora sempre tenha mostrado vontade de conduzir um talk show ou revista eletrônica, como o Hoje em Dia – chegou a executar projeto semelhante na Globo, que foi engavetado –, nem de longe sonhava em apresentar reality show. Com o convite de ir para a Record, em 2005, viu a chance de realizar seu sonho e encontrar novo rumo. Após duas décadas na reportagem, não via mais perspectiva de crescimento. Pensou bem antes de optar pela mudança. “Estou há 23 anos aqui (refletiu quando recebeu convite da emissora de Edir Macedo), mas tem uma hora que tem de decidir e ter coragem.” Arriscou e agarrou o desafio de apresentar o matinal.

Alguns, no entanto, disseram ser loucura deixar o cargo de repórter – também foi apresentador do SPTV e foi por um tempo VJ do Faustão – para uma nova empreitada. “Alguém mais conservador disse: Ah, o Britto abriu mão do jornalismo. As opiniões divergem. É normal. Não acho que existe uma verdade. Tudo agrega”, analisa.

Cita como exemplo o reality, cuja terceira edição terminou em dezembro. “O que a gente faz lá dentro de A Fazenda? Uma cobertura de um programa de diversão. Mostro ao público o dia a dia daquelas pessoas. E o que é um telejornal? Não é a rotina do mundo, do País, do seu bairro?”, questiona. É justamente isso que acontece: os realities só se sustentam se formarem uma novelinha, com direito a mocinho e vilão.

 

Foto: Divulgação
Britto Jr. ousou e já vai para a 4ª edição de A Fazenda. Foto: Divulgação

HERÓIS?

Bial foi repórter especial do Globo Repórter com apenas 25 anos. Também escreveu livro, compôs algumas músicas, fez coberturas históricas e, nos intervalos entre um BBB e outro produz para o Jornal Nacional e o Fantástico. Tudo sempre com maestria ressaltada por todos que tiveram a oportunidade de assistir o seu trabalho.

Assim como Britto, nunca havia pensado em comandar reality show. O primeiro que chamou sua atenção foi No Limite, estrelado em 2000 pelo jornalista Zeca Camargo. Quando surgiu o convite para o BBB, Bial aceitou por ser interessado no estudo da natureza humana.

Antes disso, o formato BBB – criado pela Endemol, empresa de entretenimento holandesa – foi oferecido ao apresentador e empresário Silvio Santos, que desistiu da compra e abriu espaço para a Globo. O empresário fez a Casa dos Artistas, que antecedeu o BBB1, e teve ainda de amargar um processo de plágio. O programa, que chegou somente até a quarta edição, rendeu a maior audiência da história do SBT.

A primeira edição do BBB aconteceu em 2002, conduzida por Bial e a atriz Marisa Orth. A dupla não deu certo e Bial continuou sozinho. Nos primeiros a



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