Rei da praia

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Miriam Gimenes

Foto: Nário Barbosa
Amir Slama exterminou o preconceito com a moda praia e ganhou respeito internacional. Foto: Nário Barbosa

Uma explosão atômica pode repercutir de diversas formas na história da humanidade. Muito embora seja sinônimo de proporções negativas – vide Hiroshima e Nagasaki – foi um evento como este, mas em caráter experimental em um atol no oceano Pacífico, que deu o nome a uma das principais invenções da moda: o bikíni (em inglês). Tudo porque, à época de sua criação, na década de 1940, as mulheres que ousavam vesti-lo causavam efeito parecido ao da tal arma nuclear. E haja atitude para desfilar nas areias.

Amir Slama, historiador por formação, até podia saber dos bastidores que permeiam as peças tão adoradas pelas brasileiras e que se tornou sua fonte de trabalho. Mas não entrou de maneira explosiva no mundo da moda, teve crescimento gradual, porém rápido. O estilista de descendência romena e iraquiana nasceu no Bom Retiro, na Capital, e imprimiu estilo próprio, criou acessórios e fez a Rosa Chá romper os limites do território verde-amarelo.

Embora a autoria dessas peças ultrafemininas tenha sido motivo de disputa entre os estilistas franceses Jacques Heim e Louis Réard, foi o brasileiro que rompeu tabus ao perceber que as peças não precisavam parecer uniformes ou ser combinadas de forma certinha. Vem daí o divisor de águas no beachwear. No ano 2000 desfilou na semana de moda 7th on Sixth, em Nova York. E os biquínis foram elevados ineditamente ao prêt-à-porter.

O historiador de moda João Braga lembra que antes de Amir outras marcas iniciaram a popularização das vestes que embelezavam, principalmente, as orlas cariocas. Uma delas foi a Blue Man, de David Azulay, que teve seu auge quando uma das criações foi usada pela modelo Rosi di Primo, conhecida como a musa da tanga, e também a marca Bumbum Ipanema, de Cidinho Pereira. A Rosa Chá foi a que teve maior visibilidade, com a abertura da loja em Lisboa.

Em duas décadas, Amir criou uma marca forte. Após 16 anos uniu-se à Marisol, porque não tinha know-how em logística. Nove meses depois desligou-se, porque perdeu espaço na criação. E quem é o artista sem seu objeto de desejo? Aventurou-se como empresário da noite e mostrou, mais uma vez, que as grandes paixões nunca morrem. Voltou à estaca zero e idealizou grife com seu nome, com peças sob medida. O objetivo agora é decolar.
 
E se depender de suas clientes VIPs, cuja lista inclui as atrizes Bárbara Paz, Luana Piovani e a top Naomi Campbell, ele continuará bem representado nos mais de 7.000 quilômetros de praias brasileiras e nas infinitas areias em solos estrangeiros.


UM NOVO CAMINHO


Ao longo dos 17 anos à frente da Rosa Chá, Amir rompeu barreiras em relação ao beachwear, antes visto com ressalvas. Os números comprovam: a produção era de 25 mil peças ao mês, com um total de 23 lojas abertas no Brasil, 120 clientes multimarcas internacionais e 200 no mercado interno, além das operações em Miami, Lisboa, Nova York e Istambul.

Antes de Amir, outros brasileiros arregimentaram o cenário fashion internacional. Ocimar Versolato, de São Bernardo, fez seu primeiro desfile em Paris em 1994. Todos, sem exceção, esbarravam na falta de investimentos. Por isso nomes de expressão como Amir, Valdemar Iódice, Lino Villaventura, Alexandre Herchcovitch, Walter Rodrigues e Serpui Marie criaram a Abest (Associação Brasileira dos Estilistas), em 2003. “Conseguimos apoiar os estilistas no Exterior”, lembra Amir, há seis anos na presidência da entidade. Na próxima eleição não será candidato, pois acredita que o distanciamento vai dar oportunidade a outros, “senão vira Egito, Líbia.”

Com o incentivo, a moda brasileira passa a ditar tendência em solos internacionais. Amir lembra que até os anos 1980 as referências vinham apenas de fora. “O próprio consumidor tinha postura de colonizado e só se comprava o que vinha do Exterior”, acrescenta o historiador João Braga. Há nesta década um grito de independência e as diminuem de tamanho, adaptando-se ao lifestyle brasileiro.

Surgem musas como Luiza Brunet e Monique Evans, que se tornam adeptas das tangas. Na década de 1990, as mulheres queriam mais acessórios. “Era um grito de liberdade para criar seu próprio estilo”, analisa o estilista. É nesta parte da história que entra Amir e a Rosa Chá.

Porém o sucesso não o impediu de cortar o cordão umbilical com a marca. E ele não foi o único. Meses antes Tufi Duek afastou-se da empresa AMC Têxtil, atual dona das grifes Forum, Triton e Forum by Tufi Duek. Apaixonado, Slama não ficou muito tempo longe dos tecidos. “Desliguei-me no dia 30 de maio. No dia 2 de junho fui convidado pela C&A para montar uma coleção fast-fashion. Me resgatei.”

Esta tendência criada na Europa pela Zara e H&M foi incorporada nos últimos anos pelas lojas de departamento brasileiras, que têm convidado estilistas renomados para criarem coleções rápidas, entre eles Isabela Capeto, Oscar Metsavaht, Reinaldo Lourenço e, recentemente, Stella MacCartney. Além de aumentar as vendas, diminui-se o preconceito. “Vejo por mim: há um tempo chegava em Paris e corria para Louis Vuitton e Dior. Hoje vou à H&M porque percebi que qualidade todo mundo tem. O diferencial é o design”, analisa Amir, que também assina produtos de houseware para a Tok&Stok e Trousseau.


Foto: Nário Barbosa
A evolução do biquíni no incrementado estilo da Rosa Chá. Foto: Divulgação

LUXO É EXCLUSIVO


Em outubro do ano passado, Amir abriu loja homônima no endereço mais badalado da Capital: a Rua Oscar Freire. A ideia é ter mais contato com o consumidor. Os artigos regulares têm preços que variam de R$ 250 a R$ 400. Nos artesanais, o valor varia de R$ 500 a R$ 3.000.
 
Além dos biquínis, Amir desenvolve vestidos, calças e blusas inspirados na praia. “Hoje o luxo é m



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