Chris Flores

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Andréia Meneguete

Foto: Gustavo Scatena
Profissional que veio na contramão dos estereótipos da televisão brasileira e atingiu audiência. Fotos: Gustavo Scatena

Não se encaixar nos padrões de beleza atuais e resistir às exigências superficiais do mundo que se trabalha podem ser fatores capazes de minar o próprio sucesso.  Mas quando se tem talento, conteúdo e carisma, isso não passa de simples generalização que não se aplica à realidade. Assim é Chris Flores, uma profissional que veio na contramão dos estereótipos da televisão brasileira e atingiu a desejada audiência. Com vocês, a exceção que toda regra gosta de ter!

Enquanto algumas crianças brincavam somente de bonecas, ela já convivia, desde os 4 anos, entre os ritmos de minuetos e valsas, além dos passos ensaiados exaustivamente dos pliés, fouettés e pirouéttes. Isso sem contar as aulas de piano, paixão que crescia juntamente com as habilidades de bailarina. E tanta dedicação e estudo resultaram em um convite para estudar no reconhecido instituto londrino Royal School – no qual somente aqueles que passam por difíceis e desconcertantes provas e avaliações podem entrar. O fascinante e desafiador mundo profissional do balé não foi suficiente para convencer totalmente a adolescente da classe média paulistana que ali estava o seu futuro.

No momento crucial da carreira de bailarina – com apenas 16 anos –, ela decidiu ir na contramão e desistir de tudo para seguir outra profissão: jornalismo. Nada foi em vão. As seis horas diárias de treinos na companhia de dança Cisne Negro serviram como antídoto motivacional e laboratório de muito aprendizado e disciplina para a vida, mesmo que a jovem ainda não pudesse reconhecer naquele tempo. As incertezas da mudança não foram negativas. A vida, como sempre, se apresentava sábia a todo momento, inclusive na hora de traçar o destino de uma pessoa que sabia o que queria.  

Na ocasião, a desistência não se deu em tom de derrota, pelo contrário, aconteceu porque Chris Flores queria algo que fosse pertinente à sua realidade e não somente aos seus dons. Seguir firme com o balé exigiria, futuramente, que a dançarina abrisse mão de se realizar como mulher. Ela não queria deixar de lado o sonho de ser mãe e de acompanhar o crescimento do filho. E se não for pedir demais, ainda jantar todas as noites com aquele que seria seu marido. Enredo óbvio e bem ensaiado que toda menina no auge da sua adolescência quando pensa no futuro.

Foi exatamente assim que a apresentadora do programa Hoje Em Dia, da Rede Record, traçou sua trajetória profissional. Seu sonho de formar opinião, utilizando como instrumento as palavras, também prevaleceu e era maior do que qualquer oportunidade de reconhecimento e conquistas que o balé ia lhe dar. “Eu queria mudar o mundo, fazer a diferença. Coisa de jovem que acha que é socialista, que pode transformar tudo, fazer revolução”, revela Chris Flores, no auge da maturidade dos seus 33 anos. Não pensar mais em como seria a vida na dança foi o primeiro momento, de vários em sua vida, que o mundo da vaidade bateu à sua porta e ela o dispensou, sem cerimônias. Embora pareça contraditório, já que hoje a moça sorri todos os dias pela manhã na televisão.

Chris Flores, no entanto, queria mais, mas em âmbito diferente, em outro contexto. Ansiava mudar o mundo, fazer a diferença para alguém, mais especificamente o leitor. Para  chegar ao alvo, ela utilizou persistência de bailarina e foi atrás do que queria, até integrar o setor de comunicação do comitê da campanha Política do então governador de São Paulo Mário Covas, em 1998.

As habilidades do balé foram requeridas no meio político. Foco, seriedade e muita disciplina acompanharam a jornalista pelo tempo em que foi responsável pela agenda de eventos e produção de textos da campanha do tucano, que consumia suas noites de sono. “Tive que lidar com a pressão e os prazos curtos.  Isso sem contar com alto nível de estresse. Mas foi enriquecedor para minha carreira.”

A política já havia sido inserida a todo custo nas conversas familiares quando o pai, Gilberto Valladão Flores, gerente de vendas, perdeu todas as economias no governo Collor. Por isso, a paulistana sabe o valor do trabalho e da importância dele. O interesse por política e assuntos internacionais vem à tona e ela fica a vontade de ir a campo e produzir reportagens factuais. “Ao ver o que aconteceu no Japão tive vontade de pegar as malas e ir até lá, cobrir o fato.”

Considerou marco histórico o encontro da primeira mulher presidente no Brasil, Dilma Rousseff, e o primeiro líder norte-americano negro, Barack Obama. “Nossa presidente vai contra todos os conceitos que fazem de uma mulher. Ela quebrou paradigmas. É separada, tem postura firme e está conseguindo desempenhar muito bem seu papel. Não tenho dúvidas de que conseguirá ir além.”


DIFERENTES PAPÉIS

Como toda mulher, ela também vem cheia de paradoxos, gostos diferentes e aptidões diversas. E não teme o novo. Tal característica justifica a saída da política para vivenciar os bastidores das celebridades ao ser convidada para trabalhar como repórter de uma revista do segmento. Mais uma vez, o trabalho foi reconhecido e a jornalista virou editora. Só que ali, naquela função, também ouve despedida – e por conta própria. Motivo? Realizar o sonho de ser mãe.  “Ser mãe sempre esteve nos meus planos. Não sabia como aconteceria, mas isso era uma certeza. Larguei meu cargo de editora para ter uma vida mais calma, com horários definidos, dentro de uma empresa“, revela .Por seis meses, Chris Flores coordenou o departamento de comunicação do SBT. E como nem programação tem estabilidade na televisão do senhor do Baú, que dirá departamentos institucionais.

Uma coisa é fato, na vida desta mulher o que não faltam são idas e vindas, chegadas e despedidas, paradoxos e complexidades. Tudo sem perder a coerência e o foco no que acredita.

Ela é tão paradoxal que consegue passear de Beethoven ao heavy metal, de política nacional à celebridades internacionais. Assim com a mesma facilidade que foi do jornalismo para apresentar na televisão.

A rápida aparição na coluna de cinco minutos em horário matinal se transformou em quatro horas. E o melho



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