Coleção de clichês

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Miriam Gimenes

Foto: Divulgação
Telas mostram garotas de programa glamourosas. Foto: Divulgação

A história é de uma moça jovem, bonita e glamourosa. Ela pode até ter uma vida sofrida, mas, mesmo com as intempéries cotidianas, sonha em encontrar o príncipe encantado que salvará seu destino. Esse enredo parece com o da mocinha que estamos acostumados a ver em filmes e novelas. Só que há um detalhe: a tal moça consegue renda trabalhando como garota de programa.

Embora a realidade de mulheres que optam por esta profissão na vida real não seja tão colorida assim, as tramas insistem em fazer um estereótipo distorcido. No filme Bruna Surfistinha, por exemplo, que já atingiu 1 milhão de espectadores, a garota de classe média deixa a família para se entregar à chamada vida fácil. Embora a história seja baseada em fatos da vida real, a protagonista penou muito antes de perder o anonimato.

Para o autor do livro Almanaque da Telenovela Brasileira, Nilson Xavier, os escritores costumam usar estereótipos em todos os tipos de personagens. “Não só prostitutas como também nordestinos, judeus e gays têm perfil já determinado. Não é culpa da telenovela, mas uma coisa antiga, que vem do cinema.”

É por isso que, por mais dificuldade financeira que a personagem tenha, ela sempre está bem vestida, maquiada, linda, animada para festas e em busca do parceiro perfeito.

Vez por outra, acontece de mostrar as agruras da profissão, como foi feito em Belíssima, quando Taís Junqueira (Maria Flor) aceitou convite para ser bailarina na Grécia e acabou sendo obrigada a trabalhar como prostituta. Histórias como essa são recorrentes na imprensa, mas pouco lembradas nas telas.


VIDA ROMÂNTICA?

A antropóloga Ligia Kras acredita que tanto os autores de filmes quanto os de novelas usam este estereótipo porque o público tem interesse nesse tipo de enredo. “Sexo vende. Mas sexo com amor vende mais ainda.”

Ela cita o filme Uma Linda Mulher, protagonizado por Julia Roberts e Richard Gere, como referência. “O filme explorou ao máximo alguns clichês da profissão, como o fato de a garota de programa não beijar na boca. Mas todos ali passavam o filme torcendo por isso, pelo momento em que o envolvimento aconteceria e, nesse caso, o sexo era um mero detalhe, pois o beijo tornava-se o momento máximo de legitimação do amor.”

Segundo Ligia, essa visão é muito diferente da que se tem da profissional do sexo na realidade. Todos veem a prostituta como aquela que fica na esquina e dá em cima do marido, briga na rua, usa roupas constrangedoras aos olhos alheios e que ninguém acha romântica ou tem vontade de dar um abraço.

A profissão, que é tida por muitos como a mais antiga do mundo – embora não exista registro –, no Egito Antigo era um ritual. As prostitutas eram consideradas mulheres sagradas e recebiam presentes em troca de favores sexuais. É claro que hoje o tratamento não é o mesmo:elas têm de se contentar em receber o pagamento e agradecer quando não são agredidas nas esquinas da vida.




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