Amor pelo palco

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Raquel de Medeiros

Foto: Claudinei Plaza
Hilda Breda e Ana Maria Médici dedicam a vida ao que mais amam: o teatro. Foto: Claudinei Plaza

Nestes tempos em que a arte precisa de apelo comercial para sobreviver e os reality shows servem de porta de entrada para jovens, com ou sem talento, na TV e nos palcos, as amigas Hilda Breda, 58 anos, e Ana Maria Médici, 56, conseguem a façanha de contar mais de 40 anos dedicados ao teatro pelo simples desejo de fazer arte, sem pretextos. Não almejam dinheiro nem fama. É a arte pela arte, como defendia o escritor e poeta Théophile Gautier no século 19. “Nunca houve essa preocupação de que deveria fazer algo para aparecer. A gente só queria fazer teatro, como sempre fizemos”, explica Hilda Breda, que colocou os pés no palco pela primeira vez aos 14 anos.

Era a década de 1960 e o Teatro de Vanguarda influenciava a criação de grupos com forte apelo político e social, como o Teatro de Arena, que politizou a dramaturgia levando ao público discussões sobre a realidade nacional da época. Contra a maré, o Grupo Cênico Regina Pacis começava a dar o ar da graça em São Bernardo, sem a intenção de gerar polêmicas. “Não éramos um grupo de vanguarda, e fomos cobrados por isso. O que queríamos era fazer teatro de qualidade, levar a arte para várias camadas da população. A gente se apresentava em todos os lugares possíveis”, diz Ana Maria Médici. O que não impediu que peças como Liberdade, Liberdade, Quatro no Quarto e A Visita da Velha Senhora fossem barradas pela censura.

Hilda trabalhava como balconista em uma distribuidora de jornais e revistas quando foi convidada por Antonino Assumpção – seu futuro marido – para fazer parte do Regina Pacis. Foi botar os pés no palco para tomar gosto pela interpretação. “É uma emoção muito grande. Sempre que subo ao palco ou estou dirigindo, dá aquele frio na barriga. E o coração vai à boca. Você está emprestando a sua emoção para um personagem.”

Ana Maria foi levada ao teatro pelas mãos do pai, Alcides Médici. “Ele tinha veia artística. O Assumpção chamou meu pai para Pedreira das Almas, a terceira montagem do grupo. Eu acompanhava os ensaios.”

No início os espetáculos atraíam  público interessado em refletir sobre política e sociedade. Hoje, depois de quase 50 anos, a história é diferente. “Tem muita produção na área do musical, do besteirol, do stand up. O grande público quer rir, a verdade é essa”, observa Ana.

Veteranas dos palcos e da vida, as duas não amolecem. Hilda Breda e Ana Maria Médici estão mais que acostumadas a remarem contra a maré. “Se a gente não tivesse paixão, não estaria mais fazendo nada disso. Mas tem aquela coisinha que picou a gente. Não vamos desistir, não”, encerra Ana Maria como quem fecha as cortinas do palco só para ter o gostinho de reabri-las na apresentação seguinte.




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