Ficção versus Vida Real

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Miriam Gimenes

Foto: Divulgação
Ilusão e realidade se confundem dentro e fora das telas. Foto: Divulgação

Você já deve ter esbravejado com uma trama de novela e, consequentemente, sentido raiva do personagem envolvido com a história em questão. E deve ter xingado o Totó (Tony Ramos) em Passione quando ele resolveu dar uma segunda chance à vilã Clara (Mariana Ximenes) mesmo depois de ela tentar matá-lo. Não se preocupe, você é uma pessoa normal.

O problema é levar isso para o lado pessoal (leia-se vida real) e, por uma ironia do destino, deparar-se com a jovem Mariana pela rua e resolver dar-lhe um safanão pelo fato de ela ter tentado assassinar o coitado do Totó. Ou encontrar Gabriel Braga Nunes, o Léo de Insensato Coração, e xingá-lo por estar enganando a apaixonada Norma (Glória Pires). Pois acredite: tem gente que é capaz disso.

Inúmeras são as histórias de atores – principalmente os que interpretam vilões – que, ao andar pela rua ou fazer compras no supermercado como qualquer outro mortal, foram vítimas de tapas, insultos ou desdém por conta do personagem que estavam interpretando à época.

Especialistas em dramaturgia dizem que isso existe porque as pessoas gostam muito de comparar as situações da dramaturgia com sua vida. “Os núcleos são muito próximos de nossa realidade, as falas, os bairros. Você parece estar vivendo dentro da história, por isso é normal achar que está inserido na novela”, explica o especialista em telenovelas Claudino Mayer. <EM>Neste quesito, ele destaca as tramas de Manoel Carlos. Além de ambientar todos os folhetins na orla carioca, Maneco confere tanta realidade aos personagens que os telespectadores realmente acreditam que eles existem e moram no Leblon.

O especialista lembra que os vilões da Idade Média, quando entravam em cena nos teatros, usavam máscaras e capa para não apanharem na rua.

É claro que hoje não é assim e há a consciência de que se trata de ficção, mas as pessoas relacionam suas emoções com as dos personagens. “Neste sentido, podemos dizer que o público completa-se por meio da telenovela e contribui para completá-la cotidianamente”, acrescenta o também especialista em novelas Mauro Alencar.

Só não é normal relacionar o personagem ao ator, ser humano, o que pode ser um caso de patologia, segundo a psicanalista Elizandra Souza. “Geralmente isso acontece porque a pessoa não consegue lidar com os próprios conflitos, toma as dores de um personagem de ficção e tenta descontar no ator”, analisa.


VIRTUAL

A psicanalista acrescenta que a confusão do mundo real com o fictício é intensificada pela internet. É que nela há conversas com pessoas virtuais, as quais não se conhece pessoalmente – podem até não existir – mas que o interlocutor idealiza como feitas de carne e osso.

Isso é tão verdadeiro que os blogs destinados a personagens têm sido um recurso de autores de novelas para reforçar a verossimilhança da história e manter a interatividade com telespectadores.

O da personagem Luciana (Alinne Moraes), de Viver a Vida, por exemplo, teve um boom de acessos. Até o final da novela, os internautas conversavam com a personagem como se ela existisse mesmo. Apareceram até comentários dando parabéns pelo casamento dela com Miguel (Mateus Solano).




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