Dedicação sem fronteiras

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Vinícius Castelli

 A arte pode mudar a vida de uma pessoa, derrubar barreiras, dar oportunidades e cruzar fronteiras. E isso não acontece somente no alto escalão da sociedade, mas também na periferia, em locais de risco, onde, muitas vezes a criminalidade fala alto. Mas tudo pode ter um bom caminho, com o apoio da família e do fomento cultural, é claro. Jaaziel Gomes Narciso, 32 anos, trombonista nascido e crescido na periferia de Mauá, é prova pulsante disso.

A música surgiu em sua vida por meio de seus pais, na igreja. Aos 15 anos ele começou a estudar e, em seguida, ingressou na Universidade Livre de Música. Agora alça voos grandiosos. Artista que faz parte da Ossa (Orquestra Sinfônica de Santo André) há uma década, ele embarca hoje para a Inglaterra para participar de concerto memorável com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo em parceria com a Orquestra Jazz Sinfônica do Estado. Narciso se apresentará na quarta-feira, na noite latino-americana do BBC Proms, um dos mais tradicionais e respeitados festivais de música clássica do mundo, que acontece no palco do Royal Albert Hall, em Londres.

A viagem dos músicos será rápida. Embarcam hoje, ensaiam na terça, o concerto acontece no dia seguinte e voltam na quinta-feira. O músico conta que o espetáculo apresentará seleção da música popular brasileira, passando por “Pixinguinha e Benedito Lacerda, Ary Barroso, Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil”.

Em 2013, o trombonista tocou no renomado Festival de Montreux, na Suíça, como parte da Banda Jazz Sinfônica de Diadema. Visitou também os Estados Unidos, França e Portugal. Mas mesmo já tendo experiência internacional, diz que será desafiador. “Ainda mais tocar um repertório bem arranjado em um dos mais renomados teatros do mundo, com capacidade para 6.000 pessoas”.

Narciso diz da importância de sua estada junto da Ossa. “Me sinto muito grato em fazer parte de uma das melhores orquestras do Estado. Já tive a chance de executar repertórios que dificilmente são tocados em outras orquestras, como a 3º Sinfonia de Shumman, Sagração da Primavera, Bolero de Ravel, dentre outros”, explica.

Narciso cresceu em local humilde, com tráfico de drogas acontecendo nas ruas. Viu muitos jovens que seguiram caminhos complicados e diz, seguramente, que a música mudou sua vida. “Conheço várias pessoas da minha época que já foram presas e até mortas. Por isso, acho que a música é forma de ascensão social, que muda o futuro de uma pessoa”, explica. “Seria bom se todas as cidades do Grande ABC tivessem uma orquestra como essa, que existe há mais de 26 anos”, conclui.




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