Jair Oliveira: filho de peixe

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Raquel de Medeiros

Foto: Andréa Iseki
Ele aprendeu deixar a música influenciar a vida, assim como a família a influenciar a música. Foto: Andréa Iseki

A música sempre foi inspiração para a vida de Jair Oliveira. Não tinha como ser diferente. Filho de Jair Rodrigues, nasceu ouvindo boas canções. Começou a carreira ao lado do pai e logo foi convidado para fazer parte do grupo infantil Balão Mágico, onde passou parte da infância. Foi graças à música que encontrou o grande amor de sua vida: a atriz Tania Kalill, que conheceu após um de seus shows em um bar em São Paulo. “A minha vida tem sido assim há alguns anos, dedicação com a música quase em período integral.”
Quase. Porque quando não está ensaiando, produzindo, compondo ou administrando a produtora S de Samba, onde tem como parceiro o músico Simoninha, Jair está em casa, na mais recente tarefa: ser pai. 

A partitura da vida dele ganhou nova nota há três anos, após o nascimento da primeira filha, Isabela. “Hoje volto para casa mais cedo para ficar com ela.” E agora quem inspira o cantor não é somente a paixão pela profissão, mas o amor pela família. Tanto que, vira e mexe, a conversa caía no mesmo assunto: as  filhas. Sim, no plural, porque o cantor e a mulher, a atriz Tania Kalill, vão ser pais de novo, em março. “Estou muito feliz com minha vida e agora ainda mais com a chegada da segunda filha. O negócio é curtir esse momento bom.”


COTIDIANO

Antes de começar a compor, o músico – que costuma dormir lá pelas 2h ou 3h – fica com a primogênita. Ajuda a dar banho e a organizar a casa. “De uns tempos para cá, vi que dá para fazer tudo sem abandonar a carreira.”

O dia a dia com a pequena integrante da família, inclusive, deu novos ares para a música de Jair. “Lancei um disco feito para Isabela e, depois, eu e Tania montamos um espetáculo, o Grandes Pequeninos, que ficou em cartaz até o meio do ano passado.” A inspiração veio de tarefas cotidianas de pais de primeira viagem, como a hora do banho, do passeio, da visita aos avós.

No projeto Grandes Pequeninos – Volume 2, que será dedicado à segunda filha, Laura, o cantor ganhou mais uma parceria. “A minha filha, com 3 anos e meio, tem feito as músicas comigo”, revela. 

Ele não abre mão do trabalho, mas sabe que dedicação à família é importante, algo que aprendeu com a mãe. “Nossa família só se sustenta até hoje por conta dessa devoção. Minha mãe sempre foi leoa, elo de ligação entre avós, primos. Ela tem esse poder e talento. Muito da nossa união é por causa dela.”

Por isso é que o músico sempre que pode tenta unir o útil ao agradável. “Muitas vezes, tento criar meus discos com uma produção que tenha a ver com minha família. Com Grandes Pequeninos foi a primeira vez que trabalhamos juntos, cerca de oito meses. Mas também não dá para ficar responsável pela família e no lado profissional estar infeliz.”


MÚSICA PRA COMEÇAR

O grupo infantil Balão Mágico estava no terceiro disco quando foi convidado para participar. “Eu não estava no maior sucesso do Balão, na época do Superfantástico. Mas eu era fã e ingressei com uma ligação. Não tive pressão de outras pessoas, pois comecei minha carreira pela afinidade com a música”, afirma Jair.

Ali, aprendeu a perder o medo das câmeras e a controlar a timidez. “O Balão me deu intimidade com a TV, auxiliou no meu desenvolvimento pessoal.”

No fim da infância, aos 12 anos, o Balão acabou. Aos 13 já compunha, mas não dizia a ninguém. Aos 15 mostrou para os pais. Aos 18 foi morar em Boston, onde fez faculdade de Música. “Cresci com muito samba, soul, funk dos anos 1970 e quando cheguei à adolescência tinha bagagem que não se limitava somente ao Balão. Tinha noção de jazz, música brasileira. Me interessei por produção musical. Compor também me chamava atenção. Eu cresci (risos). A música me chamou para outros caminhos.”


CORAÇÃO PAULISTANO


“Só me sinto em casa em São Paulo.” Paulistano ferrenho, Jair acredita que a cidade é o melhor lugar para se morar, apesar dos problemas. “Me atrai esse cordão umbilical que se prendeu a mim. Gosto do clima, das pessoas, da comida, da cultura. Claro que há coisas que acho um porre, como a violência, de não me sentir seguro, o trânsito, a poluição. Mas também fico pensando que tem solução e que os paulistanos podem ajudar. São Paulo é incrível e não perde em nada para Londres e Nova York.”

O cantor quer que suas meninas cresçam com a mesma paixão paulistana. Se a violência deixar. “Não vou dizer que não me preocupo com isso. Em outros lugares do mundo ainda é possível andar tranquilo. Isso é a única coisa que me faz pensar onde vou criá-las. Se acontecer – bate na madeira – talvez mude de opinião e vá para uma cidade mais calma do Interior. Mas a intenção até agora é fazer com que elas sejam boas paulistanas e são-paulinas (risos).”


DE PAI PRA FILHO

“Aprendi várias coisas com meu pai e o que mais admiro nele é a humildade.” Isso porque Jair Rodrigues não se prende às glórias da carreira. Continua sendo o mesmo cara  que vai à padaria comer sanduíche de mortadela – e prefere até do que ir a um restaurante bacanão, segundo o filho. “É um cara que trata bem todo mundo, do presidente da empresa à menina que vem limpar o camarim. Acho louvável.”

Jair Oliveira acredita que em todos os lugares, e não só no meio artístico, há quem pense que é melhor que o outro. “Só pelo fato de ter subido na escala, começa achar que vai morrer melhor. Tenho grande professor, que é meu pai. A gente é tudo igual, independentemente de quanto dinheiro consiga fazer com o trabalho. Ele tentou passar isso para a gente. Acho que conseguiu, porque compartilho do mesmo pensamento.”

O ensinamento entre pai e filho é uma troca. Na família não há espaç



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