Marjorie Estiano: Agora, mais mulher

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Eliane de Souza

Foto: Daryan Dornelles
De mocinha recatada, a atriz revela que está na fase mais sensual da sua vida. Foto: Daryan Dornelles

A curitibana Marjorie Estiano, 28 anos, famosa na telinha por sua doçura em personagens marcantes, transformou-se numa mulher sensual. Ela tem apenas 1,62 m de altura, mas, pela  grandeza de suas interpretações, alguns podem achar que é um mulherão. Se fosse possíveltraduzir esta nova fase numa música, com certeza a canção escolhida seria Menina, de Paulinho Nogueira, cuja letra diz: “Me aparece assim de repente, linda, virou mulher“. Surge com os olhos bem delineados de preto e delicado vestido de renda preta, em contraponto com o tênis que denuncia meiguice. Definitivamente, ela se transformou e cresceu.
 
Marjorie chegou duas horas atrasada em virtude uma outra sessão de fotos que foi abortada no meio. O clima era de tensão. O calor do Rio de Janeiro só colaborava para derreter a maquiagem e exaltar ainda mais os ânimos. Entre vários telefonemas e negociação da assessora com a equipe de produção, Marjorie foi a única que manteve a serenidade. Estava em silêncio, recolhida, com pés no chão, sorriso sereno em riste, cabeça baixa e olhos de um lado para o outro observando a intensa movimentação apenas como espectadora.
 
Exigiu apenas que não houvesse troca de figurino. “Não acho natural que me vejam numa página com uma roupa e na seguinte com um look totalmente diferente.“ Demonstrou preocupação que o leitor ficasse a imaginar em qual momento ela teria tido tempo para trocar de roupa durante um bate-papo. Quis se mostrar a mais autêntica possível.
 
Visivelmente cansada, com dúvidas sobre as próprias respostas, estava disposta para conversar. Diz que sempre buscou ser protagonista. Quem não se lembra do seriado Presença de Anita? Da jovem misteriosa que morava numa casa que já foi cenário de um crime por amor e era apaixonada por um homem casado? O papel, que ficou com Mel Lisboa, também foi pleiteado por ela. Mas a pergunta que fica é a seguinte: se tivesse conquistado a personagem, será que seria lembrada por seus outros papéis? Provavelmente, não seria reconhecida pelo público como a filha batalhadora que lutou para combater o vício do pai alcoólatra ou a esposa que busca vingança por ter sido enganada pelo marido.
 
A dama sensual que poderia ter sido explorada no seriado de 2001 permaneceu adormecida e agora revela-se na fase atual. “Ser sensual era dificuldade para mim desde sempre. E não só como personagem na televisão. Quando fiz o teste para Anita já pensava que precisaria aprender, porque a qualquer hora surgiria uma personagem incrível e eu não estaria preparada.”
 
Este papel chegou: Marjorie Estiano pôde ser vista na microssérie Amor em 4 Atos, com capítulos independentes baseados em canções de Chico Buarque. No primeiro episódio, baseado nas canções Ela faz Cinema e Construção, fez uma cineasta noiva de um monarquista mauricinho em busca de inspiração para  produzir um videoclipe. Ela se encanta por um pedreiro, feito por Malvino Salvador. E a interpretação aflorou seu lado de luxúria. Longos cabelos escuros, olhar penetrante e doçura na pele.
 
A atriz sente-se mais poderosa. E não é só em frente às lentes ou na pele de algum personagem. Tanto que o guarda-roupa recheado de jeans e tênis deu lugar a vestidos e saltos bem altos. A mulher que já teve madeixas compridas na cintura antes da fama aprendeu a abrir mão da vaidade para mergulhar em seus personagens. Logo no início da carreira, em Malhação, cortou as madeixas, num look de cor vermelha e bem espetado.
 
O lado mais feminino de Marjorie também está em evidência na peça O Inverno da Luz Vermelha, em cartaz no Rio de Janeiro. Ela interpreta Cristine, prostituta francesa que vive no bairro Vermelho, em Amsterdã, Holanda. Lá se envolve em triângulo amoroso com dois amigos brasileiros. O texto rende cenas para lá de apimentadas entre o trio. Laboratórios em casas noturnas e aulas de francês deixaram Marjorie afinada com o papel. Ela, inclusive, canta no idioma, em performance de deixar o público masculino de queixo caído.
 
“Minha sedução nunca foi por este caminho óbvio, não me vendia muito por esta questão do corpo. Senti mudanças. Fiquei mais livre. Não digo que hoje sou outra mulher, mais sexualizada, mas Cristine ajudou a abrir meu leque."
 
O convite para fazer a peça foi surpresa. “Depois que terminei a Tôia (Caminho das Índias), fiquei um tempo pensando que tipo de personagem gostaria de fazer. Decidi que queria algo mais sexual, sabe? Meus papéis, até então, eram assexuados, como a Marina em Páginas da Vida. A Natasha foi a que tinha mais sex appeal, mesmo sendo em Malhação. Depois teve Maria Paula, em Duas Caras, de 2007. Então, surgiu o convite da diretora Monique Gardenberg para o espetáculo. Conhecia o trabalho dela, mas não o texto, que é do norteamericano Adam Rapp“, explica a atriz.

Foto: Daryan Dornelles
“Minha sedução nunca foi por este caminho óbvio, não me vendia muito por esta questão do corpo. Senti mudanças. Fiquei mais livre". Foto: Daryan Dornelles

PALCO

Embora a carreira como atriz atraia todos os holofotes, ela não deixou de exercer sua outra paixão: a música. Atualmente, está em pré-produção de seu terceiro álbum, ainda sem previsão de lançamento. A rotina tem sido tomada por escolhas de repertório e experimentações. Não é do tipo de intérprete que leva ao palco canções autobiográficas, mas não abre mão de letras com as quais tenha identificação. Em busca de influências apresentou recentemente o show Combinação Sobre Todas As Coisas. As canções vão desde Cajuína, de Caetano Veloso, passando por Quizas, de Osvaldo Farrés, e até Ne Me Quitte Pas, conhecida no Brasil na voz de Maysa.

A veia musical pulsa desde a adolescência, quando começou a estudar teatro e canto aos 15 anos,



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