Mães e filhos

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Miriam Gimenes

Falam que você só compreende sua mãe quando é uma. Concordo. Senti o real sentido da palavra ­­­­e a sua responsabilidade na primeira noite que trouxe o Lucas para casa. Éramos somente eu, ele e Deus. Eu aprendendo a ser mãe e ele sendo apresentado à vida. E durante as noites e dias em claro, que não foram poucos ­– ele nunca foi chegado a dormir ­– inúmeras vezes me peguei pensando como minha avó havia conseguido amamentar 14 filhos. Sim, porque se ainda não te avisaram, o processo não é tão fácil quanto parece nos comerciais. Dói demais, o seio fica dilacerado, o leite pode empedrar e a criança tem de aprender a sugar. O?nosso ‘relacionamento’ demorou três meses para ser dito normal.

Mas não há nada mais simbólico da relação entre mãe e filho do que o ato de produzir o alimento para ele. De poder sustentá-lo, pelo menos até os 6 meses de vida, com o seu corpo. E será assim a vida toda. O?leite seca, mas o vínculo e a dedicação não. Minha mãe (que na foto que ilustra a coluna afaga meu filho), a décima dos 14 irmãos, ainda que fosse uma criança, cuidou dos mais novos como se fossem seus. Viu um morrer de fome em seus braços. Cresceu, saiu do interior do Ceará e veio trabalhar em São Paulo. E, em uma viagem de férias para o seu Estado, conheceu meu pai, paulista da Mooca, durante o trajeto. Dois anos depois, se casaram. Ela não pensava em filhos. Queria, pelo menos uma vez na vida, ser livre.

Só que engravidou na lua de mel. Depois que nasci parou de trabalhar para cuidar de mim e, pouco tempo depois, do meu irmão. Temos apenas dois anos de diferença. Era tempo de dinheiro curto, fraldas descartáveis estavam fora do orçamento e, para complicar, nós vivíamos doentes. E, por muitas vezes, a vi refazer as contas com meu pai para que de forma alguma a falta de grana prejudicasse os nossos estudos. Ele trabalhava, ela segurava as pontas em casa. Sempre.

Cresci, me tornei uma adolescente não muito fácil, brigamos por muitas vezes ­ – e o fazemos ainda hoje, quem nunca? –, mas é ela, somente ela, quem sabe, só de me olhar, o que se passa dentro do meu coração. E que dispensa ao meu filho uma ternura sem fim.

Eu, que não sabia a origem do Dia das Mães, comemorado no segundo domingo deste mês, fui pesquisar e descobri que se trata da ideia da norte-americana Anna Jarvis, que criou um memorial à mãe, Ann Maria Reeves Jarvis, no dia 12 de maio de 1907, dois anos depois de sua morte e militou para a criação da comemoração, tempos depois difundida pelo mundo. Não quero esperar a minha fazer a passagem para agradecê-la e reconhecer, ainda que por aqui, que sem seu amor eu nada seria. Feliz Dia das Mães!

Miriam Gimenes é repórter do Diário há uma década e mãe do Lucas, 3




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