Menina dos Olhos

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Miriam Gimenes

Ela é miúda no tamanho, mas gigante em conteúdo. Quem pensa que Bruna Lombardi se resume à sua beleza – atemporal, diga-se – e ao trabalho de atriz, tem de conhecer a fundo seu talento como escritora e também roteirista de cinema. É de aplaudir em pé

Um dos textos mais importantes da literatura brasileira, Grande Sertão: Veredas, escrito por Guimarães Rosa há exatos 60 anos, foi adaptado em minissérie produzida pela Rede Globo em 1985. A história, que se passava nas primeiras décadas do século 20, contava a trajetória de Riobaldo (Tony Ramos), jagunço que passa a vida à procura de respostas para questionamentos existenciais. Ele dividia o protagonismo com a personagem Diadorim, uma mulher que se vestiu de homem para vingar a morte de seu pai e encantou não só o sertanejo – para seu desespero – como o público da época. “Naqueles olhos e tanto de Diadorim, o verde mudava sempre, como a água de todos os rios em seus lugares ensombrados.” A ‘menina’ dos olhos? Bruna Lombardi é o nome dela.

E agora a dona dos olhos verdes da personagem do escritor mineiro pôde ser vista nas telas do cinema em filme, o qual, além de atuar, assina o roteiro, Amor em Sampa. A comédia romântica foi feita em parceria com o marido – com quem está há quase quatro décadas – Carlos Alberto Riccelli, e o filho, Kim Riccelli. O trio, junto com grande elenco, quis com a história lançar olhar diferenciado para a Terra da Garoa: o de que sua beleza e outros atributos podem superar o caos. “Fizemos sessões especiais no aniversário de São Paulo e ficamos impressionados, porque o público conversa com o filme. Ele (o espectador) está sendo tocado. Diverte, faz as pessoas darem risada, mas também tem pontos de identificação fortes”, comemora a atriz.

Na trama ela é a exuberante Aniz, mulher rica que quer fazer algo pelo bem da cidade. Por isso, compra a ideia do publicitário Mauro (Rodrigo Lombardi) de desenvolver projeto que tornará São Paulo mais sustentável. “Cada um de nós é metamorfose ambulante e a cidade também muda o tempo inteiro. Por isso, precisamos direcioná-las para o que queremos. Fazer o bem para colher o mesmo”, sugere. E este é o lema que Bruna Patrizia Maria Tereza Romilda Lombardi seguiu durante toda vida, seja em qualquer uma das funções que exerça: atriz, poeta, escritora, apresentadora, roteirista, produtora de cinema, empreendedora e ativista ambiental.

Filha da atriz Yvonne Sandner e do fotógrafo e cineasta italiano Ugo Lombardi – que chegou a produzir o filme Paisà, dirigido por Roberto Rosseline e com roteiro de Frederico Fellini –, Bruna não tinha como fugir do seu destino. Com 15 anos, já ‘desfilava’ seu talento com as letras e conquistou concursos de poesia na escola. Ela estudou no tradicional Colégio Dante Aliguieri, fundado por imigrantes italianos e sediado no bairro Cerqueira César, em São Paulo. À mesma época, começou a atrabalhar como modelo e, tempos depois, formou-se em Jornalismo e Marketing.

Seu primeiro papel na TV foi uma década depois, mais precisamente em 1977, na Globo, como Carla, de Sem Lenço, Sem Documento, de Mário Prata. No ano seguinte, já na Tupi, foi gravar Aritana em tribo de índios e conheceu Riccelli, protagonista da trama. E lá se vão quase quatro décadas de um amor ‘de novela’ que, para quem tem a oportunidade de presenciar, sustenta no olhar a paixão de casais que acabaram de se conhecer. “É sorte grande achar parceira na vida, para o amor, imagina quando é para o trabalho. A gente se dá bem, é aprendizado constante, cada dia a gente se dá melhor, cada dia se entende melhor. É assim também no trabalho”, diz Riccelli. Sobe o som de suspiros.

Voltemos à realidade. Bruna não tem vocação para ser figurante. Em paralelo à vida pessoal, ela fez a carreira crescer na proporção dos anos. Interpretou outros papéis de destaque – entre eles Diadorim –, produziu e apresentou por dez anos o programa Gente de Expressão, em que entrevistou inúmeras pessoas de renome, entre elas Dustin Hoffman, Mariah Carey e David Bowie. No cinema, produziu, roteirizou e estrelou Stress, Orgasm and Salvation; O Signo da Cidade; Onde Está a Felicidade? e, agora, Amor em Sampa. Como se definiria como roteirista? “É meu quarto filme. Acredito que trabalho dialogando com o público, como faço no meu Facebook, onde tem constante troca. Tenho claro dentro da minha cabeça desejo enorme que meu trabalho faça o bem. Para mim, é condição fundamental, sine qua non de escrever. Por isso faço esse esforço enorme que é produzir filme e levantar projeto desse (Amor em Sampa).” E sua contribuição ao mundo não se restringe a isso.

Ela também acaba de lançar o livro Jogo da Felicidade, oráculo moderno que decifra e revela, em 21 capítulos, as etapas da jornada de todos nós em busca dos sonhos e desejos. “Recentemente em um debate que participei, uma mulher deu um depoimento que tinha lido o livro e todos os dias de manhã ela abre uma página e acessa a página (do Face). Ela disse que foi a maneira que conseguiu sair da depressão sem medicamentos. E eu penso assim: se você consegue isso no trabalho, você já deu significado na sua vida.” Não teria como ser diferente. Suas influências para a escrita foram as melhores possíveis, já que conviveu com Mario Quintana, Rubem Fonseca, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes e Clarice Lispector.

Na página em questão, com quase 2 milhões de seguidores, além de divulgar seu trabalho, ela também posta frases de incentivo que ganham milhares de curtidas, centenas de compartilhamentos e comentários diariamente (chegam a ser 200 mil semanais). Para Bruna, algo de extrema responsabilidade. “Saber que tem pessoas que estão sendo alimentadas pelo meu trabalho, motivadas, empoderadas, encorajadas, que estou fazendo a diferença na vida delas é muito motivador.” E, por isso, ela não para, nem por um minuto: administra casa, carreira, casamento, filho, tudo com maestria.

NA INTIMIDADE

E o casamento duradouro, que gerou Kim, hoje com 34, segue o fluxo contrário ao que acontece com os casais famosos. Mas a sintonia dos dois pode ser sentida apenas ao presenciar o casal. Durante a coletiva do filme, por exemplo, a todo momento Riccelli a elogiava e fazia carinhos. O segredo? “Muito trabalho. Uma das tendências que as pessoas têm é de pensar ‘ah, meu príncipe e pronto’. Seja o príncipe encantado, o amor da sua vida, seja o que for, você tem de trabalh



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