Na terra de Fidel

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Eliane de Souza

Foto: Sxc
Ilha socialista comandada por Raul Castro oferece muito mais do que rum, charutos e salsa. Monumentos e prédios históricos, resorts e belas praias, atrações culturais, boa gastronomia e simpatia dos cubanos fazem valer a visita ao destino mais peculiar do Caribe. Foto: Sxc

Charutos, rum, carros da década de 1950, prédios em ruínas, socialismo e pobreza. É o que pensa a grande maioria dos brasileiros sobre Cuba. Mas resumir a ilha socialista a estes elementos é o mesmo que confirmar que o Brasil se define apenas por samba, café e Carnaval. Paradoxalmente, os cubanos conhecem muito mais o Brasil do que podemos imaginar, graças às novelas. A global A Favorita (de 2008) é a atual janela para o mundo em Cuba.

A ligação com o Brasil é maior do que se possa imaginar. É por influência nossa, inclusive, que todos os restaurantes particulares se chamam ‘paladares''. A inspiração veio da novela Vale Tudo (1989), onde a personagem de Regina Duarte montava um restaurante chamado Paladar. Não só o nome dos estabelecimentos, mas a própria culinária remete ao nosso tempero.

O prato mouros e cristianos, por exemplo, leva arroz, feijão-preto e carne de porco, muito parecido com o nosso baião de dois. A própria carne de porco ao molho de frutas cítricas é muito apreciada, o chamado lomo de cerdo, além, é claro, da grande variedade de peixes e frutos do mar.
 

Outro ponto em comum que poucos gostariam de lembrar é a pobreza. Embora nada seja comparado a um país que tem como salário médio 300 pesos cubanos, o equivalente a US$ 13, ou inacreditáveis R$ 21 por mês.

Se a situação de pobreza assusta em um lugar onde a ideia era de que prevalecesse a igualdade, o nível educacional da população também surpreende. Com analfabetismo zero e grande parte da população com Ensino Superior, não é incomum que o cidadão que peça sabonetes aos turistas fale três idiomas e tenha lido Nietzsche. A lógica em Cuba vai contra o discurso exaustivamente repetido pelos nossos pais no Brasil, o de que o estudo poderia proporcionar uma vida melhor.

Mas, para os cubanos, os estudos são a única forma de se alcançar a liberdade. Isso era o que diziam os revolucionários em 1959 com a implantação do sistema socialista na ilha caribenha colocando fim à ditadura de Fugêncio Battista e cortando relações com os Estados Unidos. E desde esta época as ruas foram tomadas por slogans pró-governo como Che, nosso eterno herói, Fidel, estamos com você, e a eterna frase de Che Guevara: Hasta la victoria, siempre. A ilusão é de que os cubanos vivem no melhor dos mundos. Com um país tão diferente se descortinando assim que se chega ao aeroporto internacional José Marti, é muito mais fácil deixar Cuba com mais dúvidas do que respostas. Mas também muito mais encantado do que convencido pelo sistema igualitário.

Chegar à capital, Havanna, ou La Habana em espanhol, é um desafio logo que se pisa no aeroporto. É evidente que tudo parou no tempo. O lugar é escuro, com decoração antiga e poucas esteiras de bagagens, o que obriga funcionários a empilharem malas de vários voos sendo observados por um cão vira-lata que custo a entender como chegou ao terminal de desembarque.

No táxi, a cidade se revela com seus carros antigos, casas emboloradas, quase uma por cima das outras, e muitos out-doors com mensagens revolucionárias . "Você é feliz vivendo em Cuba?", perguntei ao taxista. "Sou feliz por viver no meu país, trabalhando e ao lado da minha família." Só depois descobri que tive uma resposta delicada para uma pergunta proibida. Fazer oposição ao governo não é boa ideia em Cuba.

Até a chegada ao hotel é impossível não se encantar com a onipresença do mar. O Oceano Atlântico pode ser contemplado pelo Malécon, um muro quebra-ondas que se estende por sete quilômetros.

Cuba também revela todo o seu encanto com alguns monumentos importantes. Como o Capitólio, livremente inspirado no Capitólio de Washington e que até 1959 foi sede do governo. Hoje ele abriga o Ministério da Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Outro prédio do governo que rende fotos clássicas em Cuba é o Ministério do Interior. Uma estrutura de arame feita a partir da famosa foto de Che Guevara enfeita o lugar.




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