Os 350 km até Paraty

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Marcelo Monegato

Foto: Marcelo Monegato
Igreja Matriz de Paraty tem ar bucólico. Foto: Marcelo Monegato

Férias não combinam com estresse, preocupação, nervosismo. O que todo mundo –  exceção aos workaholics – quer durante o verão é calçar os chinelos e cair no mundo. Fugir do corre-corre dos grandes centros em busca de paz, descanso, tranquilidade, boas lembranças e diversão. Aceita uma sugestão? Que tal ir de carro até a cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, pela Rodovia Rio-Santos? Bagagem no porta-malas e pé na estrada. Dica: esvazie o cartão de memória da máquina fotográfica. Cenários paradisíacos não faltarão...

São mais de 350 quilômetros. Por isso, pressa é algo que deve ficar em casa. Para fugir dos caminhões que utilizam a Via Anchieta rumo ao Porto de Santos, a sugestão é descer pela Nova Imigrantes. Antes do trecho de serra, são quatro pistas muito bem cuidadas e sinalizadas – não há com o que se preocupar. O limite de velocidade é 120 km/h, há fiscalização eletrônica e policiais estrategicamente posicionados. Destaque para os pontos de atendimento da Ecovias (administradora do Sistema Anchieta-Imigrantes). O único pedágio no nosso caminho até Paraty fica ainda em São Bernardo (R$ 18,50).

Antes de encontrarmos os cenários de tirar o fôlego, passamos pela poluída e sempre cinzenta Cubatão. Apesar da pista duplicada e o piso de boa qualidade, o excesso de caminhões e a grande quantidade de entrada e saída de veículos pesados fazem com que o motorista redobre a atenção. Ponto importante é com relação aos pedestres e ciclistas locais que trafegam pelo acostamento. Cuidado redobrado à noite, quando a visibilidade é sensivelmente prejudicada.

Deixamos o trecho sob concessão da Ecovias e entramos definitivamente na Rio-Santos (Rodovia Manoel Hypólito do Rego). E as condições de tráfego mudam sensivelmente. Agora a pista é única (uma vai, a outra volta) e o limite de velocidade é 80 km/h. A sinalização é prejudicada pelo mato alto que esconde as informações de determinadas placas – muitas, inclusive, pichadas por vândalos. Vendedores de bananas erguem suas tendas de lona preta para vender as frutas. A alguns metros, crianças brincam no meio do mato. O tempo, para elas, parece ser um detalhe.

Em contrapartida, o cenário também muda. Começa a ganhar cores. A obscura Cubatão fica no retrovisor. À frente, o sol tenta romper as nuvens. Pequenos pontos azuis do céu se misturam com a ainda verde Serra do Mar do lado esquerdo. O cheiro de mato invade o carro. Purifica os pulmões castigados pela poluição. E o vento no rosto parece renovar o espírito.


BERTIOGA

O tráfego, antes tranquilo, fica intenso. Estamos nos aproximando de Bertioga. Rotatórias com lombadas fazem o ritmo da viagem diminuir no perímetro urbano. Populares estão à beira da rodovia em pontos de ônibus que param no acostamento para pegar os passageiros e retornam à mesma obrigando os demais motoristas a frear. Motociclistas trafegam sem capacete. É possível flagrar pai, mãe e criança pequena apertados em cima de uma moto.

Percebemos, então, que a fiscalização diminui drasticamente. A presença de fiscais do DER (Departamento de Estradas e Rodagens), responsável pela rodovia, é praticamente zero. A PRF (Polícia Rodoviária Federal) também não se faz presente. Talvez por isso, pela sensação de que nada vai acontecer, as irregularidades sejam corriqueiras. O perigo faz parte do dia a dia dessas pessoas, que atravessam a rodovia com crianças no colo e grandes sacolas nas mãos.

Escolhemos a Riviera de São Lourenço para fazer a primeira parada. Esticar as pernas, tomar um café e amansar o estômago. O clima é agradável – e bastante requintado. Entre um Porsche e outro, encostamos no Shopping Riviera Center. Entramos no Ponto da Cultura Book & Tabacco para tomar um expresso e comer um pão de queijo. Boa oportunidade para ver as manchetes dos jornais, ‘zapear’ alguns CDs e DVDs e escolher uma boa literatura – companheira ideal para os momentos à beira-mar.
Quem já estiver com muita fome – mas muita mesmo – pode parar no restaurante MarEmonti e saborear a feijoada (R$ 60) servida aos sábados.


UNA, JUQUEÍ, BORACÉIA...

Voltamos para a estrada. O mar, aos poucos, vai ganhando espaço na paisagem. Hora de pisar descalço na areia e curtir um dos presentes que a natureza nos reserva até Paraty. Escolhemos Barra do Una, já em São Sebastião. Antes de chegar à praia, surpresa: uma bela e pequena igreja abençoa os visitantes.
Pisamos na areia e, por sorte, caímos em um local muito especial. O encontro do Rio Una com o mar. Solitário, o pescador lança seu anzol em busca de uma presa. Ao longe, uma mulher rema de pé sobre a jangada. E do outro lado da margem, pessoas almoçam em um restaurante. No mar, crianças brincam de pegar jacaré. No horizonte, alguns jovens pulam das pedras na água. A sensação de paz é total.

A caminhada é longa e há muito o que ver e aproveitar. Decidimos deixar por alguns quilômetros nossa ‘guia’ Rio-Santos e chegar a Juqueí por uma estradinha acidentada, mas muito bonita. Subimos e descemos a montanha e rapidamente avistamos uma das mais belas praias do Litoral Norte de São Paulo. Infelizmente, algumas gotas caem sobre o para-brisa. Inoportuna, a chuva apresenta o cartão de visitas e mostra que nos acompanhará durante todo o fim de semana.

Em São Sebastião, a oferta de hospedagens é grande. À beira da rodovia não há hotéis ou motéis para os viajantes de passagem. Mas, entrando na cidade, o número de pousadas é bom. São vários os tipos, com os mais variados preços. As mais requintadas passam dos R$ 200 a diária (casal) e as mais simples podem ficar abaixo de R$ 100 (casal). Na alta temporada, no entanto, os preços tendem a ficar salgados como a água do mar.


Foto: Marcelo Monegato
Vizinha de Paraty, Trindade é uma boa opção p


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