Intelectual bom de briga

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Christiane Ferreira

Foto: Andréa Iseki
Jornalista, editor de livos e consultor político, Luix Fernando Emediato não tem medo de polêmica. Foto: Andréa Iseki

Escritor e jornalista. Jornalista e escritor. Se para alguns a ordem dos fatores não altera o produto, esse não é o caso de Luiz Fernando Emediato, que é apaixonado por literatura. Ele vai a Brasília pelo menos duas vezes por semana, atua como consultor político na Força Sindical e também é conselheiro de Paulinho da Força. Quando o assunto é política, sai pela tangente e diz: “Não tenho o menor orgulho”.

Na adolescência, enquanto personalidades como a presidente Dilma Rousseff faziam parte da luta armada contra a ditadura, Emediato usava seu conhecimento para cutucar a ferida de quem quer que fosse. Aos 20 anos já era conhecido como o escritor que enfrentou a ditadura. E enquanto Wladimir Herzog era preso, torturado e morto, lançava o conto Como Estrangular um General. 

Aos 30 anos conquistou o Prêmio Esso de Jornalismo (principal prêmio da categoria) e, um ano depois, venceu Rei da Espanha, outra condecoração importante na área.
Cansado do jornalismo depois de ter chegado ao topo, trabalhou nos negócios da família e, em seguida, abriu a Geração Editorial, conhecida por publicar livros que outras costumam não editar. Emediato gosta de boa briga e não tem medo do que vem pela frente. Lançou, por exemplo, a obra Memórias das Trevas – Uma Devassa na Vida do Senador Antonio Carlos Magalhães. Como tudo tem um preço, não é raro a Geração enfrentar processos, encarados de forma tranquila pelo editor. Assim é Luiz Fernando Emediato, que não tem medo de polêmicas, é simples, apesar de todo o sucesso que alcançou em tudo o que fez na vida. Prova que talento e inteligência podem ser lapidados também com simplicidade – nesse caso, mérito para poucos.

 
INFÂNCIA POBRE E RICA

A infância em Bocaiúva, norte de Minas Gerais, no Vale do Jequitinhonha, foi de paradoxo. O pai de Emediato, Antonio, enriqueceu aos 20 e aos 26 perdeu todo o dinheiro da família. Luiz Fernando teve de conviver com dois lados da mesma moeda. “Meu pai faliu muito jovem. Então, era uma família pobre no meio de uma burguesia rural bem-sucedida.“

A história do pai aventureiro e, acima de tudo, sonhador vai virar o filme O Outro Lado do Paraíso, do livro homônimo e autobiográfico. A direção será de Breno Silveira, mesmo de Dois Filhos de Francisco. As filmagens acontecem neste ano.

Da infância pobre, Emediato extraiu lições ricas. Numa cidade sem biblioteca, saía “catando livros por tudo quanto é casa“. E quase como autodidata, aos 8 já havia lido obras como Os Três Mosqueteiros.

O gosto por escrever o levou por outros caminhos: o jornalismo. E ele foi estudar na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participando do efervescente movimento estudantil contra a ditadura. “Ao contrário da Dilma Rousseff, do Fernando Gabeira, que entraram na luta com armas, eu e meus colegas tínhamos a certeza de que era algo ingênuo, porque seria uma briga de pequenos grupos contra militares, que eram muito bem organizados. E a história nos deu razão.“

Emediato militava com as palavras no jornalismo, escrevia revistas clandestinas e contos que incomodavam, a exemplo de Como Estrangular um General. “Minha carreira literária começou assim.“

Questionado se não tinha medo do seu posicionamento, devolve com outra pergunta: “Com 20 e poucos anos e com aqueles ideais, alguém tem medo de alguma coisa?“


Foto: Divulgação
Luiz Fernando Emediato aos 25 anos na redação do Jornal do Brasil, onde trabalhou de 1973 a 1978. Foto: Arquivo Pessoal

JORNALISMO VERSUS LITERATURA

A carreira de jornalista foi meteórica. Durante os 17 anos em que exerceu a profissão, passou pelo Jornal do Brasil, O Estado de S.Paulo (onde ajudou a criar o Caderno 2) e foi repórter especial. Nos anos 1980, cobriu a revolução na Nicarágua, a guerrilha em El Salvador, ganhou prêmios e foi para o SBT implantar o jornalismo de âncora no Brasil, pois naquela época a apresentação era feita por um locutor. Encerrou a carreira. “Cheguei ao topo e não tinha mais o que fazer. Nunca pensei em me aposentar no jornalismo, na verdade nem queria ser jornalista, só fui porque tinha que ter uma profissão.“

Para Emediato, que viveu a fase do chamado new journalism – mistura de narrativa jornalística e literária –, a profissão vive situação de crise. “Os grandes jornais se transformaram em organismos empresariais, prestadores de serviço que estão eventualmente a serviço de algum interesse econômico ou político. Enquanto fui jornalista gostava de escrever sobre o comportamento humano e social.“

Ele nega ter visão romântica da profissão de antigamente.  “Romantismo era ficar trabalhando até as duas da manhã fumando e depois ir para o puteiro. Isso que era romantismo. As pessoas morriam jovens. Na minha época eu tinha o pé na terra, mas hoje acho o jornalismo pouco interessante para pessoas como eu.“


NA ESTANTE

Com o encerramento da carreira, mudou de área e em 1990 abriu a Geração de Comunicação, empresa de consultoria. Em paralelo, também trabalhou na Ativa Negócios, empreendimento do setor financeiro que empresta dinheiro para bancos, juntamente com dois irmãos. E é essa empresa que sustenta a família. “Porém, cheguei à conclusão de que meus irmãos eram melhores executivos do que eu. Eu estava à procura de alguma coisa que suprisse a minha necessidade de fazer algo fora a atividade empresarial.“

A edição de livros é sua paixão, concretizada com a abertura da Geração Editorial em 1992. Para ele, o melhor perfil que a define é o de ser uma “editora que publica livros que muitos não querem editar“.

A história não nega. Começou em 1993 com o livro-bomba Mil Dias de Solidão, de Claudio



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