Latino: a festa continua

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Raquel de Medeiros

Foto: Fernando Mazza
Processo judicial e morte recente do pai não abalam cantor, que comemora 17 anos de carreira. Foto: Fernando Mazza

Ele é narcisista e não se preocupa em esconder a característica. Seja pela roupa extravagante, pelas joias que usa ou pelos elogios que solta a si mesmo durante a sessão de fotos. “Alto, moreno...”, brinca o cantor. Tira o boné e avisa: “É da Gucci, lançamento, ninguém tem”. Não gosta de simplicidade. É fissurado por roupas e acessórios de marca e carrega na orelha uma pedra de diamante.

Latino não anda sozinho. Gosta de ser bajulado. Tem sempre um ou mais integrantes da sua equipe – de cerca de 40 pessoas, entre músicos, assessores de imprensa, gerente de marketing etc –  para acompanhá-lo em eventos e entrevistas. Inclusive, ajudando-o a sair de saias justas.

“Você se considera brega?”, é questionado. “Se ser brega é ser sucesso, quero ser brega o resto da vida. Bicho, vendi 5 milhões de discos sendo brega. Como vou sobreviver não sendo brega agora?” A pergunta, no entanto, incomoda. “Eu me considero tudo: brega, cult, eu faço show pra milionário o tempo todo! Aliás, 60% do meu público hoje é AA”, defende-se. Os assessores dizem que ele é querido pelos empresários, que entram desconfiados nas festas animadas pelo cantor, mas que alguns minutos depois já estão dançando, descontraídos, ao ritmo de Latino.


FÁBRICA DE HITS

Brega ou não, o fato é que o cantor tem dezenas de hits circulando por aí. Entre eles, Festa no Apê, Me Leva e Cátia Catchaça.  Mas o que explica um cantor com esse rótulo conseguir cerca de 30 milhões de acessos em apenas uma música no YouTube? É o que aconteceu com Amigo Furaolho, segundo o músico, que nem chegou a ser tocada nas rádios. Latino credita o sucesso à facilidade de descobrir fórmulas de hits. “De tanto ouvir tudo, você acaba criando um laboratório musical na cabeça, daí vai criando fórmulas de métricas fáceis. Pega a harmonia e faz quase uma cópia idêntica, mas com outra pegada, uma produção mais atual e pronto.”

Para Latino, mais importante que música com letra consistente é fazer com que ela grude na cabeça das pessoas. “Faço 20 músicas e vou testando. Mostro para o pedreiro, para a vizinha, a empregada. A gente pode apostar em algo que não vai dar em nada, mas tento errar o mínimo.”


EM BUSCA DA FAMA

Latino sente orgulho de ter confiado no talento, mesmo tendo sido colocado em dúvida diversas vezes. Inclusive pela própria família. “Ninguém me incentivou. Meu pai não gostava muito da música, achava que era coisa de vagabundo. Achava que tinha que estudar, virar militar, fazer doutorado, ter carreira mais sólida. Falava que com esses besteiróis eu nunca chegaria a lugar algum.” E se defende: “Mas meus besteróis têm conteúdo de brincar, de curtir com a galera, de falar do cotidiano.”

Vendedor nato, Latino teve o comércio como ganha-pão por muito tempo. “Vendia sanduíche natural na praia, roupas, trabalhei como vendedor nos Estados Unidos.” Depois, ainda em solo norte-americano, trabalhou na equipe de David Copperfield e participou de alguns musicais. “Sempre fui ligado à arte e à venda  hoje consigo relacionar as duas coisas em benefício próprio. Muito louco, né?”

Foi a persistência típica de vendedor que lhe ajudou a chegar onde está. Na época em que procurava por uma chance, bolou estratégia inusitada: “Tinha feito Baby Me Leva, mas não queriam me receber. Então, contratei um cara com carro de som para passar pela Sony por duas horas, sempre no horário do almoço, para a minha música ficar no subconsciente do diretor artístico. Na hora que me ouvisse iria lembrar.” A tentativa não deu certo. Porém, não desistiu.

Foto: Fernando Mazza
"Meus besteróis têm conteúdo de brincar, de curtir com a galera, de falar do cotidiano" - Foto: Fernando Mazza

Mostrou o trabalho para o DJ carioca Marlboro, que ouviu e decidiu lançar a música no seu programa. Baby Me Leva alcançou o primeiro lugar e entrou para a programação geral da rádio. O fato gerou curiosidade de outras emissoras, que resolveram investir também. E o que era motivo de piada, virou hit no Rio de Janeiro.


O LADO B

“Tenho duas casas: moro aqui (São Paulo) e no Rio”, afirma o cantor. Mas  ele passa grande parte de seu tempo dentro de um ônibus. O canto improvisado de Latino tem de tudo. “Tenho praticamente um quarto todo mobiliado no meu ônibus. Até cadeira de massagem eu tenho. Agora quero botar um transport, vou malhando a viagem inteira. Manter esse corpinho aqui, magrinho, é difícil.”

A namorada, ele diz que vê pouco. “Ela viaja às vezes comigo, mas é muito raro. Cada um tem seu trabalho, a gente não pode abrir mão.”

Mas não é todo dia que há festa e empolgação no apê de Latino. O cantor tem que aprender a conviver com a ausência do pai, que morreu há um ano. “Apesar ter sido contra a minha carreira, eu sentia que no coração e na alma ele me amava muito e estava orgulhoso por eu ter alcançado meu objetivo, mas não podia admitir. Era muito doloroso para ele.”

Além do luto, o cantor responde a  processo judicial, acusado de abuso sexual por uma menor de 16 anos. O fato teria ocorrido em 2007, após show em Minas Gerais. “Eu desconheço essa história”, diz. Os assessores interferem. “Ele não pode falar sobre esse assunto”, rebate um deles. “Íamos focar só na carreira mesmo”, adverte a outra assessora. “Até porque gosto de mulher gostosa, não gosto de criança”, finaliza o músico. Sem papas na língua, Latino questiona: “Acabou?”. Ele quer botar ponto final na entrevista.

Se fica um pouco sem jeito na hora de responder perguntas pessoais, na frente das câmeras tem total liberdade. De



Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados