De braços abertos para a arte

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Marcela Munhoz

Ele tinha alegria no olhar. Falava o que vinha à cabeça. Via o mundo da forma mais simples. Era criança no corpo de adulto. Emocionou milhares e mudou a vida de alguém. Por completo. Para Marcos Frota, 60, Tonho da Lua não foi só um personagem de novela. Segundo ele, o moço de Pontal D’Areia simplesmente nunca deixou de ser, de existir. E, diferentemente de muito ator que faz questão de se despir por completo de todos os personagens, Frota morre de orgulho ao falar do ‘seu menino’.

“O Da Lua foi um divisor de águas para mim. Nunca imaginei como um garoto como aquele, com aquele jeito, pudesse me ensinar tanto, pudesse me revelar os segredos e os mistérios da minha profissão. Ele, acima de tudo, abriu minha espiritualidade e me deu a lição que nenhum artista pode esquecer: o caminho da humildade, da simplicidade. Não podemos perder tempo com o exercício da vaidade, precisamos focar no ofício que escolhemos. E quem me colocou isso com muita clareza foi o Tonho da Lua”, conta.

Por isso, Frota – que tinha 37 anos quando interpretou o personagem – vibrou ao saber que Mulheres de Areia ia ser reprisada na televisão (no ar no Canal Viva, de segunda a sábado, às 15h30). “O Tonho faz parte do inconsciente coletivo dos brasileiros. Quatro ou cinco gerações curtiram a história dele e agora têm a chance de se divertir e se emocionar novamente. Ele rompeu a barreira do tempo.” O personagem foi tão especial na carreira do ator que seu mais novo desafio é levá-lo aos cinemas. “No último capítulo, ele vai embora com o circo, a história podia partir daí. Adoraria unir minha trajetória de picadeiro com a de Tonho.”

Dos 40 anos de carreira do ator, dezenas deles foram vividos em turnês, sob a lona. O circo é outra paixão declarada de Marcos Frota. “É meu exercício de cidadania. Minha missão é manter o espetáculo vivo, profissional, com empatia com o público, despertando o sonho nas crianças, formando nova geração de artistas”. E ele não está só falando da boca para fora. O paulista criou a Universidade do Circo, a UniCirco, com sede nacional no Rio de Janeiro. O projeto – assinado pela Petrobras dentro da área de desenvolvimento, cidadania e responsabilidade social – fica em um parque público na Quinta da Boa Vista e atende 800 crianças e adolescentes com oficinas gratuitas. “É a maneira que encontrei de retribuir tudo o que recebi nos 40 anos de carreira. A missão é impregnar de magia, de alegria e de escolhas esses alunos que descobrem ali a possibilidade de realizar seus sonhos, além de passarem a exercer sua cidadania com plenitude. Com a arte é possível indicar novos caminhos”. E ele – que está em cartaz com o Circo dos Sonhos até o fim do mês na Avenida Senador Vergueiro, em São Bernardo – pretende trazer o projeto à região.

Frota sente-se praticamente em casa ao falar do Grande ABC. Ele foi professor na Fundação das Artes, em São Caetano, de 1979 a 1984. “Éramos eu, a Cássia Kis, o Antônio Petrin. Decidi minha profissão depois que fui dar aula. Lá, trabalhei com Ulysses Cruz, um diretor fantástico. Foi quando percebi que meu lugar realmente era no palco. Depois, me apresentei no Teatro Municipal de Santo André algumas vezes, com peças como O Coronel dos Coronéis e A Cerimônia do Adeus. Também lembro muito bem de ter participado de um festival de teatro amador muito bacana em Diadema. Então, é região pela qual tenho um sentimento de gratidão. Foi aí que deu-se a formação do meu caráter, o despertar da minha espiritualidade.” O andreense Petrin, 77, lembra da época em que ministrava curso à noite para adultos e Frota, de manhã para as crianças. “Ele atuou com a minha mulher em A Cerimônia do Adeus e, mais para frente, foi meu filho na peça Caixa de Sombras.” O diretor Ulysses Cruz também tem boas recordações. “Marquinhos também foi fundamental para a minha profissão. Foi momento de descobertas e de grande entusiasmo. Construímos ali a base do que somos hoje e Frota sempre demonstrou vontade e disponibilidades únicas. Espero que ele arranje mais tempo para produzir e atuar no teatro “, conclui.

E desde então, o ator interpretou dezenas de personagens, como o surdo-mudo Tomás em O Sexo dos Anjos (1989-1990) e o cego Jatobá na novela América (2005). “Os dois me trouxeram consciência enorme de cidadania e me fizeram abrir luta para a inclusão de pessoas com deficiência. Basta ver na próxima Paraolimpíada no Rio de Janeiro como as equipes brasileiras vão se sair bem, somos potência no esporte. Então, utilizar a força da audiência em novelas de horário nobre na Globo realmente foi um diferencial.” Embora Frota fale com tanto carinho do seu ofício como ator – ele nasceu, inclusive, na Rua do Ator, Vila Olímpia, em São Paulo –, nem sempre a profissão fez parte da sua vida. “Depois da Capital morei na fazenda, fui pedagogo, fiz Educação na PUC. Só percebi que meu lugar era mesmo no palco quando virei professor em São Caetano.”

E a vida de docente voltou anos mais tarde na vida de Frota. Mas na ficção. Hoje ele está no ar como Menelau, diretor da escola Leal Brazil, em Malhação. “Ali tenho a oportunidade de deixar bem claro à nova geração que, além do talento, o que conta para a carreira artística é o caráter, a personalidade. Sobre o conteúdo do folhetim, é de extrema importância. Falamos sobre a Aids, por exemplo, sobre preconceito. A informação e a discussão são essenciais. A escola participativa também é bacana. Fiquei bem feliz de ver os alunos de São Paulo ocuparem as escolas e reverter decisão do governo. É importante que não pare por ai, que se discuta o conteúdo, a grade curricular e de que maneira a escola deve e pode contribuir para que as pessoas façam suas escolhas. Só ocupar e ser contra isso e aquilo não são o suficiente.”

Falando em nova geração, Frota contracena com Livian Aragão, filha de Renato Aragão, com quem seu filho Davi – fruto de relacionamento com Carolina Dieckmann – estuda desde pequeninha. “Agora é minha colega de profissão. Também estaremos juntos no filme do pai dela”, conta Frota. O ator é o vilão de Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood, que já está sendo gravado e ainda não tem data de lançamento. “Poxa, trabalhar com o Renato é algo único. Ele faz parte da memória afetiva das pessoas. Quem não se



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