O catador e o menino

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Miriam Gimenes

Seu Domingos é uma figura bem conhecida entre os moradores da pequena Salto da Divisa, em Minas Gerais. Ex-alcoólatra ­– tanto que antes sua alcunha era o nome de uma marca de bebidas vendida por lá ­–, ele conseguiu largar o vício e hoje trabalha como catador de latinhas para sobreviver. O professor Ezequias Coelho Pena, que tem por hobby fotografar e filmar, estava com sua câmera em punho cobrindo uma festa do padroeiro da cidade e avistou a cena do catador em seu ofício diário. Com o intuito de fazer uma reportagem sobre o senhor em questão decidiu gravar. 

Até então, o único personagem da história seria o catador. Eis que um menino resolveu participar da história e emocionou a todos. Trata-se de Felipinho, que no dia 14 completa 3 anos. “O menino ficou olhando e se aproximou. Achei que ele fosse derrubar as latinhas, mas ele o ajudou a amassar uma a uma e a guardá-las nos sacos de lixo. Não houve quem não se emocionasse com a atitude dele”, conta Pena. E disse mais: “Ele não se importou se Seu Domingos estava sujo, barbudo, mal vestido. Quis apenas ajudá-lo. As crianças não têm paredes que as limitam. Para elas, todos são iguais.” 

Ezequias postou o vídeo despretensiosamente em sua rede social com a frase “há momentos em que um pequeno gesto transforma a vida de muitas pessoas.” Em apenas quatro dias de postagem, ele chegou a mais de 3 milhões de visualizações. Seu Domingos e Felipinho viraram celebridade e extrapolaram os limites da pequena cidade, que tem cerca de 7.000 habitantes. 

A mãe do garoto, Raquel Peixoto, o define como comunicativo, alegre, simpático. Diz que ele não chega a um lugar sem ser percebido. “Felipe não tem nem noção do que fez, porque o fez com o coração. Ele não tem maldade, não tem preconceitos, é amoroso. Outro dia fomos a uma pracinha e tinha um grupo de moradores de rua, mães com crianças, e ele queria parar para brincar com elas. Procuramos ensinar isso para ele desde cedo”, lembra. 

É disso que nossas crianças precisam e a receita não é difícil. O psicólogo da Harvard Richard Weissbour elencou em entrevista ao jornal Washington Post os cinco passos para criar crianças gentis e solidárias: mostre que a necessidade do próximo também é prioridade; diga para seu filho ser grato e solícito; ensine-o a demonstrar afeto ao maior número de pessoas, não só dentro de casa; ajude-o a lidar com sentimentos negativos e ­­– o mais importante – tenha uma conduta que sirva de modelo. 

Em tempos em que a tecnologia tomou o lugar das relações e que o amor ao próximo (um dos dez mandamentos, lembram?) tornou-se artigo de luxo, ensinar aos pequenos os preceitos básicos de um cidadão pode ser a saída para uma sociedade tão doente. Afinal, como disse o exemplar Profeta Gentileza, “a verdadeira gentileza é perfeito conforto e liberdade. Ela simplesmente consiste em tratar os outros exatamente como você adoraria ser tratado.” Que Felipe sirva de inspiração.

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