Profundezas do inferno

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Vanessa Soares Oliveira

 Esqueça todos os outros filmes que você assistiu sobre a Segunda Guerra Mundial. O longa-metragem húngaro Filho de Saul, que acaba de entrar em cartaz nas salas de São Paulo, não torna ninguém herói e muito menos narra o ponto de vista de um sobrevivente. Não fala sobre o Holocausto nem foi pensado para provocar empatia no público. Muito pelo contrário.

Trata-se de história sombria – como todas as outras inspiradas no pior episódio de crueldade da história – que faz mergulho no coração de um campo de concentração sob o olhar específico um homem forçado a esquecer sua humanidade quando se vê obrigado a trabalhar na escolta de prisioneiros a caminho das câmaras de gás e no recolhimento dos corpos para enviar ao crematório. Provoca profundas reflexões e náuseas em quem assiste.

No longa, Saul Ausländer (Géza Röhrig) é um integrante do Sonderkommando, grupo de prisioneiros isolados no campo e forçados a assistir ao show de horror realizado pelos nazistas. Esses homens ‘escolhidos’ tinham a tarefa de acalmar os judeus, fazê-los tirar toda a roupa e entrar nas câmara de gás com a desculpa de que tomariam banho. Depois, removiam, queimavam os corpos e limpavam o local para que não restasse nenhum vestígio do que ocorria ali. Tudo tinha de ser feito de forma rápida, pois novos comboios de judeus estavam a caminho.

Certo dia, enquanto trabalha em um dos crematórios, Saul descobre o corpo de um menino que assume como seu filho. Quando o grupo planeja uma rebelião, ele decide realizar a tarefa impossível de salvar o corpo das chamas, encontrar um rabino para recitar o Kadish dos Enlutados e dar ao garoto um enterro digno.

O diretor László Nemes teve parte da família assassinada em Auschwitz, complexo de campos de concentração e extermínio localizado no Sul da Polônia. A inspiração para a história veio do livro Vozes Por Debaixo Das Cinzas (tradução literal) – também conhecido como Os Manuscritos de Auschwitz, publicado pelo Memorial de la Shoah. Ele teve acesso ao conteúdo enquanto trabalhava em Paris. A obra relata o testemunho de antigos integrantes do Sonderkommando nos campos de extermínio que descrevem tarefas diárias, como o trabalho era feito, as regras que regiam o campo e de que forma eles organizaram certo tipo de resistência quando descobriram que estavam na lista para serem assassinados.

Filho de Saul ganhou o Grand Prix do Festival de Cinema de Cannes em 2015, o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro 2016 e concorre ao Oscar na mesma categoria. A festa de premiação acontece em Los Angeles, nos Estados Unidos, no dia 28.




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