Nas águas do São Francisco

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Miriam Gimenes

A última vez que Ivann Gomes, o Batoré, entrou em um rio foi em 1971, no Pajeú, em Serra Talhada, Pernambuco. Ainda era uma criança. Voltou somente agora a ‘se banhar’ em água doce e por um motivo nobre: ele está no elenco da próxima novela das 21, da Rede Globo, Velho Chico, que deve estrear em março. A trama, criada por Edmara Barbosa e Benedito Ruy Barbosa, se passará às margens do rio – por isso o nome – e tratará do conflito de famílias rivais por água, terra e negócios. Esta é a primeira vez que Batoré faz uma novela. Na história ele será um delegado (sem nome), que estará presente na primeira fase da trama, divida em três partes. Confessa estar ansioso. “É impressionante a estrutura de lá (Globo). Na primeira cena que fui gravar minha voz nem saia, ficou tremida. Depois consegui me soltar.”

Pediu ajuda ao ator Rodrigo Lombardi, que será Capitão Rosa, seu companheiro de cena. “Fiquei muito tenso, é uma estrada diferente a ser percorrida. Não sinto dificuldade em fazer rir, porque Deus me deu esse talento. Sinto dificuldade em fazer algo sério.” Mas se valendo de uma reflexão de Jô Soares, que disse, segundo ele, ser mais difícil um ator virar humorista do que o contrário, está confiante.

Isso porque já recebeu feedbacks positivos dos diretores, que escolheram a dedo a sua participação no folhetim. “O produtor de elenco disse que ficou três semanas me procurando para o convite. Me achou na pousada em que estava hospedado, em Bertioga, por conta de uma foto que postei na rede social. Eles achavam que eu me daria bem no papel.” Por conta da desenvoltura com o vocabulário nordestino, conseguiu até o aval para inserir seus ‘cacos’ no texto. Mas ele é exigente consigo mesmo. “Acho que dei apenas 30% do meu potencial por enquanto. Eu não gosto de me ver, acho que minha voz é feia, minha postura é feia. Eu sou feio”, brinca.

O humorista nunca esteve em novelas, mas entrou para televisão na década de 1990, em A Praça é Nossa, onde ficou durante 11 anos. Depois disso, aposentou o personagem pelo qual ficou conhecido – dono dos bordões ‘Ah, para ô!’ e ‘Você pensa que é Bonito ser feio?’ – e foi eleito vereador de Mauá duas vezes (o último mandato foi cassado). Ainda sonha fazer novamente o inesquecível Batoré na televisão.

E ele, que já desfilou por alguns ofícios ao longo da vida – foi até jogador de futebol semiprofissional –, como se define hoje? “Como um guerreiro, sempre. Tenho projetos e a consciência de que não nasci para duas coisas: acordar cedo e trabalhar.” O humorista pode virar ator, mas o ator nunca deixará de ser humorista.




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