A face do mal

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Miriam Gimenes

 Sete décadas se passaram desde que Adolf Hitler morreu. E, assim como seus ideais já conhecidos, tudo que provém dele causa polêmica. Desde o dia 1º de janeiro a ‘Bíblia do Nazismo’, o livro Mein Kampf (Minha Luta, em alemão), que traz suas memórias, tornou-se de domínio público. Ou seja: qualquer um pode publicá-lo. Tanto os leitores alemães quanto brasileiros – algumas editoras se interessaram em lançá-lo – não gostaram nem um pouco da ideia de ‘difusão’ dos preceitos nazistas.

Polêmica também causou o romance As Benevolentes – Uma Anatomia do Mal, de Jonathan Littell, vencedor do Grande Prêmio da Academia Francesa e do Goncourt 2006, que ganha adaptação teatral inédita até dia 28 de fevereiro, no Teatro Arthur Rubinstein na Hebraica, em São Paulo, com direção de Ulysses Cruz.

A peça narra a trajetória de Maximillian Aue (personagem fictício), que será interpretado pelo ator Thiago Fragoso. Trata-se de um burocrata que se torna oficial da SS nazista (uma das mais famosas divisões paramilitares de Adolf Hitler) e participa dos principais eventos que marcaram a ascensão e queda do Terceiro Reich, incluindo a derrota final do exército alemão com a tomada de Berlim pelos aliados, passando pela implantação dos campos de concentração de Auschwitz e Birkenau.

Thiago, que se preparou durante meses para o papel – este é seu primeiro monólogo e ele está se dedicando exclusivamente a isso – diz que o Littell passou cinco anos pesquisando para compor o livro, que foi um best seller e só na França vendeu 700 mil cópias. Define o texto, um verdadeiro tratado da maldade humana, como ‘provocador’. “Max é um cara desprovido de empatia e, embora escreva suas memórias com um olhar crítico, não se arrepende de nada que fez. A nossa intenção é discutir a natureza humana, por isso o subtítulo da peça, e não falar da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Não há justificativa para os males que causou, mas o que vai argumentar é que o que ele fez qualquer um faria.”

Em que sentido? “Você pode dizer que o carrasco é mal, mas o que dizer da pessoa que conduziu o trem que levou as pessoas para o campo de concentração? Ou do homem que entregou a lista de judeus para o policial que foi capturá-los? E o que dizer da pessoa que produziu a tinta que imprimiu essa lista? Ele mostra toda cadeia de produção, que se qualquer uma dessas pessoas dissesse ‘não’ poderia interromper o sistema e todas elas foram responsáveis. Isso é muito perturbador.”

É claro que Max distorce os fatos, mas faz a plateia se atentar de que as maldades de outrora ainda existem na sociedade atual e devem ser barradas. “Temos horrores muito parecidos (aos daquela época). A quantidade de mortes violentas por ano é uma das maiores do mundo. Está faltando empatia, compaixão dentro da nossa própria sociedade.” Todos nós, acrescenta, temos a oportunidade de tomar pequenas atitudes que podem, de certa forma, melhorar a vida das pessoas que são vítimas e mudar a engrenagem do sistema. Vale a reflexão.

As Benevolentes – Clube Hebraica, Teatro Arthur Rubinstein (Rua Hungria, 1000). Temporada até 28/2. Sextas, às 21h30 (R$ 60); sábados, às 21h (R$ 80) e aos domingos, às 18h (R$ 80). Vendas no site www.ingressorapido.com.br ou na bilheteria do teatro. Informações no telefone 4003-1212.




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