O medo tem asas

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Vanessa Soares

Entra e sai verão e ela não vai embora. A dengue, doença típica de estações chuvosas, já é velha co­nhecida dos brasileiros. Contudo, a falta de medidas drásticas no combate ao mosquito Aedes aegypti – que também transmite a chikungunya – apresentou ao País em meados de 2015 uma nova praga: o zika vírus. Com sintomas semelhantes a essas doenças, mas que se manifestam de forma mais branda, ele parecia, até então, quase inofensivo. Só que não é.  Sem nenhum registro da doença até o ano passado, quando o primeiro caso foi confirmado, o número de pessoas infectadas coincidentemente cresceu proporcionalmente ao de casos de bebês diagnosticados com microcefalia, o que acendeu alerta vermelho.

O Brasil é o primeiro País a fazer essa conexão. O Ministério da Saúde chegou à conclusão após realizar exames em um bebê portador de microcefalia e outras má-formações nascido no Ceará em novembro e que possuía o zika. Até então, não existia tal relação re­gistrada nos países que já conheciam o vírus. No boletim epidemiológico divulgado pela Pasta em 29 de dezembro – último publicado antes do fechamento desta edição – foram contabilizados 3.174 casos suspeitos de microcefalia relacionados ao vírus em 658 municípios distribuídos em 20 Estados. Desse total, 38 mortes de recém-nascidos foram notificadas como suspeitas.

De acordo com Munir Akar Ayub, infectologista do Hospital e Maternidade Brasil, o zika veio importado, provavelmente, da África ou da Ásia. O indivíduo contaminado pode não apresentar ne­nhum sintoma, mas quando os tem, aparecem de forma branda, como febre baixa, dor muscular e manchas na pele. Segundo o médico, mesmo com o surto de microcefalia, mulheres que querem engravidar podem seguir os planos, desde que os exames solicitados durante a gravidez continuem sendo feitos corretamente. Além disso, o diagnóstico é complicado. A rede pública de saúde ainda não disponibiliza o exame que detecta a contaminação. Quando há forte suspeita, o material é colhido e enviado, aqui em São Paulo, para o Instituto Adolfo Lutz. O procedimento não está disponível na rede particular.

O SUSTO DO DIAGNÓSTICO

Aos sete meses de gestação Regiane Ramos do Carmo recebeu a confirmação de que seu bebê era portador da microcefalia. Até então, todos os exames apresentavam medidas que condiziam com o que é considerado normal. “Receber a notícia foi um susto bem grande e não sabia o que poderia acontecer”, relembra. 

A microcefalia é uma má-formação congênita, na qual o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Neste caso, os bebês nascem com perímetro cefálico menor do que o normal, que habi­tualmente é superior a 32 centíme­tros. Essa lesão ocorre em algum momento durante a gestação,  principalmente no primeiro e no segundo trimestres devido a algum fator que provoca um processo destrutivo do encéfalo, ou seja, o zika vírus não é o único causador.

Não há tratamento específico. Cada criança desenvolve complicações diferentes – respiratórias, neurológicas e motoras. O filho de Regiane, Ryan Felipe, nasceu com o perímetro cefálico de 28 centíme­tros. Desde os 2 meses de vida ele realiza tratamentos que ajudam no seu desenvolvimento. Aos 5 anos possui um atraso global – não fica em pé sem apoio e não fala. Isso não significa que não compreenda o que acontece ao seu redor. “Apesar de não se expressar verbalmente, ele tem noção do que acontece em volta e expressa isso pelo olhar”, explica a mãe.

Com o tema tão presente no cotidiano desde que os casos aumentaram, Regiane incentiva as mulheres que receberam o diagnóstico recentemente. “O mais importante é nunca desistir e fazer tudo o que estiver ao alcance, mesmo que  alguém fale que  não tem jeito. As crianças são guerreiras.”

Combate ao mosquito

A prevenção ao zika vírus é a mesma que se aplica à dengue e à chikungunya. Exterminar o mosquito transmissor é a única solução. Para isso, é preciso ficar atento aos possíveis focos de criadouros. O mosquito se reproduz  em água limpa e parada.

As recomendações são as mesmas de muitos verões: manter a caixa-d’água sempre fechada, limpar as calhas, não deixar água da chuva acumulada nas lajes, manter tanques de armazenamento de água sempre limpos, colocar areia no prato das plantas, guardar garrafas de cabeça para baixo e guardar pneus em locais cobertos e abrigados da chuva.

Além disso, usar repelente, não permanecer em áreas expostas de manhã e no fim da tarde ­– que são as horas em que o mosquito é mais ativo –, preferir roupas compridas e de cores claras e inseticida de tomada ajudam a diminuir a chance de ser picado.

Avanço – A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou o registro da vacina contra a dengue produzida pela  empresa Sanofi, no dia 28 de dezembro. Os testes comprovaram a eficácia da imunização, que já havia sido aprovada no México e nas Filipinas. 

A vacina funciona na prevenção dos quatro tipos de dengue e poderá ser aplicada em pessoas de 9 a 45 anos. Não foi comprovada a eficácia em indivíduos fora dessa faixa etária. O esquema foi autorizado com um intervalo de seis meses entre as três doses. A Anvisa alerta,  porém, que a vacina não previne as outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti – zika e chikungunya.

 




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