Poder Inspiração para o futuro

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Beto Silva

 “A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente.” A frase atribuída a Soren Kierkegaard (1813-1855) encaixa-se perfeitamente à doutrina implementada por Paulo Pinheiro (PMDB) desde que assumiu a Pre­feitura de São Caetano, em 1º de janeiro de 2013. Mais do que ações inspiradas no conceito do filósofo e teólogo, o peemedebista tem trajetória parecida com a do dinamarquês. Filho de comerciante com uma doméstica, Kierkegaard bateu de frente com movimentos e sistemas dominantes. Re­bento de um vendedor de material de construção (Antônio) e uma dona de casa (Jacy), Pinheiro chegou ao Palácio da Cerâmica após acabar com hegemonia de 30 anos de grupo petebista no comando da cidade.

 
Se há semelhanças, há também diferenças. Oriundo da fria Co­penhague, o dinamarquês era conhecido por levar vida solitária e isolada. Nascido em 29 de junho de 1943 na quente Cachoeira (Bahia), a 120 quilômetros da capital Salvador, o prefeito da cidade de maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil sempre conviveu em aglomerados, em contato com inúmeros parentes e o povo.
 
 
A começar pela família, de classe média. Paulo Nunes Pinheiro é o oitavo de 12 irmãos (oito homens e cinco mulheres). Estudou em escola particular no primário, mas nos anos seguintes fora matriculado em instituições públicas. “Eram mais qualificadas na época.” Fez o primário na cidade natal e partiu para Salvador, onde a infraestrutura de ensino era melhor do que no interior baiano. Morou com os irmãos em casa comprada pelo pai. “Valia a lei dos mais velhos”, recorda. Ao concluir o antigo colegial, hoje Ensino Médio, prestou dois vestibulares: para Medicina na Universidade Católica da Bahia e de Odontologia oferecida em faculdade militar. Passou nas duas, mas por influência do pai escolheu a primeira. “Ele não queria que eu tivesse ligação com militar.”
 
São Caetano entrou na vida de Pinheiro por meio de um amigo de um amigo. Na Bahia, estudou com um colega que conhecia um cirurgião plástico no município paulista. Não teve dúvida: veio fazer residência no Hospital São Caetano. Afinal, a cidade do Grande ABC lhe renderia melhores possibilidades de trabalho.
 
Mas a transição não foi tão simples. Além de ficar longe da família, com a qual tinha grande apego, deixou em solo baiano a noiva, Maria da Graça Hereda, sua namorada desde o ginásio. Deu entrada num imóvel, no bairro Barcelona, e o mobiliou com ajuda de um amigo, dono de uma loja de móveis e decoração. Sozinho, os contatos com parentes e a futura mulher eram só por telefone. Com tudo pronto, depois de um ano, foi para a Bahia, casou e voltou para trabalhar. Tudo muito rápido. “Não deu tempo de ter lua de mel direito”, diz Pinheiro, aos risos.
 
 
Graça, que já recebia o sobrenome Pinheiro do marido, desembarcou em São Caetano em 1976. Acom­panhou a trajetória do marido por clínicas e hospitais, onde ele fazia cirurgias plásticas e reparadoras. No início dos anos 1980, ainda na gestão Rai­mundo da Cunha Leite (MDB, 1977 a 1982), ingressou na Prefeitura como médico. Contabiliza, até hoje, cerca de 10 mil operações.
 
Foi no fim da administração do prefeito Walter Braido (1983 a 1988) que iniciou atendimento no centro da terceira idade no bairro Santa Paula, que alia atividades educacionais, de entretenimento e lazer, além de serviços de Saúde. “À época, ninguém queria ir para lá. Eu aceitei.” Foi ali que Pinheiro começou a ganhar popularidade.
 
POLÍTICA
A política entrou na vida de Paulo Pinheiro no início dos anos 1990. Paralelo à atividade do marido, Graça Pinheiro abriu restaurante na Rua Taipas, famosa via comercial do bairro Barcelona. O então prefeito Luiz Tor­torello (PTB, que morreu em 2014) conhecia a família e almoçava no lo­cal. Encontrava o médico no caixa do estabelecimento. “Eu saia do consultório e, ao meio-dia, ajudava no que era preciso. Se não colaborasse, Gracinha não me dava comida (risos). Meus filhos (Gica, Paulinho e Leandro) eram garçons”, conta o peemedebista.
 
Numa das visitas ao estabelecimento, Tortorello o convidou para ser candidato a vereador. “Eu respondi que não. Nunca passou pela minha cabeça ser político. Mas ele insistiu. Disse que precisava de mim porque a eleição iria ser dura.” O então chefe do Executivo, sagaz que era, convenceu Pinheiro a disputar cadeira na Câmara. E já estava com a ficha de filiação ao PFL (hoje DEM) no bolso.
 
 
Estava oficializado ali o primeiro político da família. “Houve resistência por parte do pessoal da Bahia, meus irmãos, sobrinhos. Tive de explicar para o pessoal.” Naquela eleição inaugural, em 1992, obteve 563 votos. Sem êxito. Mas insistiu. Nos anos seguintes, sempre aumentou o eleitorado e chegou em 2008 eleito para seu quarto mandato legislativo, com 4.440 sufrágios, o segundo parlamentar mais votado de São Caetano.
 
Em 2012, resolveu que era hora de dar salto na carreira política. Queria ser prefeito. Mas não teve apoio do grupo governista. Saiu do PTB e entrou no PMDB para ser candidato. Venceu. Quis o destino que ele sentasse na mesma cadeira daquele que o persuadiu a ingressar na política. Hoje está há 1.416 dias à frente do Paço.
 
COTIDIANO
Equipe da Revista Dia-a-Dia acompanhou um dia de trabalho do prefeito Paulo Pinheiro. Em 25 de novembro, quarta-feira, a agenda começou às 8h e foi até 21h30. Foram três eventos, três vistorias em escolas, uma caminhada pelo bairro Barcelona, onde ele deu os primeiros passos na cidade e duas entrevistas à imprensa, além, é claro, de despachos no gabinete do Palácio da Cerâmica.
 
Nessa maratona, o gestor deu 155 apertos de mão, tirou 11 selfies e recebeu três demandas, entre pedidos de aposentadoria de servidor e reparos em escolas. “Hoje não aconteceu, mas tem muito pedido de emprego”, relata. Tomou dois cafezinhos. Aten­deu a apenas um telefonema no celular. Foi chamado para conversar de canto por seis pessoas, a maioria secretários.
 
Também fez três discursos nas 13 horas e meia de jornada. Mais do que os pronunciamentos feitos na tribuna da Câmara


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