A melodia do ensino

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Vanessa Soares

De acordo com o dicionário, música é a ‘combinação harmoniosa de sons e a arte de se exprimir por meio deles’. Procede do grego mousikós – musa – que significa inspiração, poesia, harmonia e encanto. Tem o dom de mexer com a atmosfera do ambiente e é capaz de aflorar sentimentos e provocar sensações. Um campo específico que vem ganhando força nos últimos anos é a música como método pedagógico de aprendizado infantil.

Musicalizar nada mais é do que tornar o indivíduo sensível ao fenômeno sonoro. A musicalização na infância desenvolve a criança como um todo, tornando-a um ser humano melhor. Este desenvolvimento abrange múltiplos aspectos, incluindo o psíquico, motor, sensorial, criativo, afetivo, racional e social. Por este motivo, desde agosto de 2008 a música passou a ser conteúdo obrigatório no Ensino Básico de todo território nacional para alunos até o 5º ano.
 
De forma lúdica, por meio de brincadeiras, jogos e atividades, a musicalização contribui de forma singular na formação das pessoas. “No sentido de educação musical, o fim do processo não é exatamente a música, muito embora se apresente o produto, mas isso faz parte de um processo maior, no qual o fim é o ser humano. A música desempenha um papel transformador e dá oportunidade do autoconhecimento e, a partir desse discernimento, permite que o indivíduo atue melhor em sociedade”, afirma Carlos Kater, musicólogo, compositor e educador musical.
 
Além disso, estudos realizados na Europa e nos Estados Unidos comprovam que tocar um instrumento ou cantar em coro auxilia nos cálculos matemáticos e no raciocínio lógico. Israel Ludovico, professor de Musicalização e canto coral no Colégio Adventista de Santo André, explica o motivo: “O cérebro entende música da mesma forma que uma matéria exata. Enquanto o indivíduo canta, por exemplo, o órgão calcula qual intensidade as cordas vocais precisam atingir para alcançar uma determinada nota musical”.
 
Para Kássia Leandro de Oliveira, orientadora de arte na escola de música Maestro Alfredo Della Ricca, em Ribeirão Pires, o contato com a música promove algo que vai muito além dos benefícios já citados. “Ela mostra para a criança como será capaz de desenvolver aquela atividade e promove a satisfação em ver que todo seu desempenho pode ser recompensado. Isso faz com que esse aluno seja cada vez mais centrado em suas atividades”, afirma.
 
Incentivado pela paixão por música e em educar, Kater criou o projeto A Música Da Gente. A primeira edição foi desenvolvida com cerca de 300 alunos de 9 e 10 anos da Escola Municipal Arlindo Miguel Teixeira, em São Bernardo, entre 2013 e o primeiro semestre de 2014. Como resultado, a turma coordenada por Kater gravou um CD com 35 faixas musicais de autoria dos estudantes. Hoje o projeto contempla cerca de 350 alunos entre 8 e 11 anos do CEU (Centro Educacional Unificado) Celso Augusto Daniel, também em São Bernardo. Nesta segunda edição, o Música Da Gente preza pelo processo de criação como um todo. O objetivo final é a gravação de um DVD com 30 músicas instrumentais compostas pelas crianças.
 
Levando em consideração que a melhor aprendizagem é construída passo a passo, as composições são todas coletivas e a maioria dos instrumentos utilizados foi desenvolvida pelos próprios alunos, como chocalhos, caxixis, tubos de PVC e marimbas de garrafas. Porém, ao longo do processo, as crianças também são apresentadas a instrumentos musicais convencionais como violão, flauta, violino, pandeiro, entre outros. “O importante hoje é que o educador dê oportunidades para que cada aluno se expresse musicalmente, criando e interpretando em grupo canções originais. A todo instante é favorecida a construção da escuta dos participantes, pois sem ela, sem a sua construção constante, não há, na verdade, música viva”, conclui.
 
 
Além da obrigação
 
Motivado pelo mesmo sentimento por educar, o Colégio Adventista de Santo André também possui em sua grade aulas de musicalização, cumprindo, assim, a obrigatoriedade da lei. De forma lúdica, por meio de atividades com instrumentos musicais como chocalho, clava e guizo, Ludovico promove brincadeiras que ajudam as crianças a entenderem com maior facilidade conceitos como forte e fraco e grave e agudo, entre outros. “O contato com a música facilita a alfabetização, a memória, o ritmo, a rima e ajuda no desenvolvimento do autocontrole e da disciplina”, explica a coordenadora pedagógica da instituição, Solange Correia Boaventura.
 
Além disso, são propostas atividades paralelas com música. Em datas comemorativas como Dia das Mães, Dia dos Pais, Páscoa e Natal, por exemplo, um grande coral com cerca de 350 crianças entre 3 e 10 anos ensaiadas por Ludovico se apresenta para pais e familiares. Já para as turmas acima do 5º ano as atividades musicais são opcionais. Os alunos dessas turmas podem participar de aulas de canto e arranjos de vozes. Neste ano, estudantes do 6º ao 9º ano formam um coral de 120 vozes, que ensaia uma vez por semana e se apresenta em igrejas da região.
 
No Ensino Médio, o critério para as aulas musicais é maior. Um projeto coordenado por Ludovico formou uma banda com alunos que possuem interesse e vocação musical. Eles desenvolvem repertório autoral e estão em processo de gravação do primeiro CD com a participação da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).



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