(des)conectar

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Marcela Munhoz

Acordar, postar, curtir, deitar. Rotina virtual também é rotina. É hora de apertar o reset e voltar ao começo. Desconectar para verdadeiramente se conectar. Quando resolvi propor a mim mesma o desafio de não acessar o Facebook, o WhatsApp e o Instagram por um mês – de 1º de novembro a 1º de dezembro – estava em um grau de dependência muito elevado, admito. Sentia como se o celular fosse extensão das minhas mãos e como se o mundo virtual fosse tão ou mais importante do que o real. O mais louco é que sei que estou longe de ser a única a ter essa sensação. Aliás, os especialistas já estão chamando o tal vício em celular de nomofobia, abreviação de no mobile phobia, que significa medo de ficar sem o aparelho. Mesmo assim ninguém aceitou participar do desafio comigo.

 
Fiz questão de não desativar os aplicativos. A ideia era saber que as mensagens estavam lotando as ‘caixas de entrada’ e me controlar para não acessá-las. Foi mais difícil do que ima­ginava. Mas não é possí­vel que estivesse tão dependente de algo que há menos de três anos não fazia parte da rotina, como o WhatsApp, por exemplo (hoje, só no Brasil são mais de 38 milhões de usuários). E não deu outra: no ‘coma virtual’ percebi que as pessoas estavam mais viciadas do que imaginava.
 
Em algumas situações e lugares – como no aeroporto e consultório médico – me senti extraterrestre. A única com a cabeça erguida, a bem da verdade. ‘Ei, pessoal, olhem para mim, conversem comigo. Estou aqui na frente de vocês’, cheguei a pedir algumas vezes. Sensação esquisita. Pesquisa realizada pela empresa Vital Smarts Brasil: nove em cada dez pessoas afirmam que, pelo menos uma vez por dia, amigos ou parentes param de prestar atenção nelas para ver algo no WhatsApp. Também me senti sozinha. Mais sozinha nas situações em que estava rodeada de gente conectada do que na noite que cheguei em casa e não tinha energia elétrica. No escuro e sem redes sociais? Sim, sobrevivi para contar a história.
 
Em um mês, acumularam-se no meu WhatsApp 1.665 mensagens em 24 conversas diferentes. Poucas foram no Facebook e no Instagram. Algo de extrema importância? Absolutamente nada. Desde o começo da experiência coloquei na cabeça que quem realmente precisasse ou quisesse falar comigo ia dar um jeito de me encontrar. Troquei alguns SMSs de emergência profissional, mandei e-mails, liguei ­– sim usei o celular para o que ele realmente foi feito – para desejar parabéns a entes queridos e me esforcei para estar presente, em carne e osso, na vida das pessoas. A conta do aparelho aumentou em R$ 20 e perdi alguns seguidores. Por outro lado, voltei a ter a boa sensação de ‘esquecer’ o celular na bolsa, o trabalho rendeu o dobro, a leitura ficou em dia e tive boas conversas ao vivo. Ah, claro, a bateria durou que foi uma maravilha.
 
 
O mais engraçado, para não dizer triste, é que ninguém veio me perguntar por onde eu andava (salvo as pessoas mais próximas que tive de avisar). Isso mostra que o que realmente importa é o mundo real e que, na verdade, as ferramentas virtuais é que devem depender do nosso uso para existir e não o contrário. O objetivo nunca foi eliminar as redes sociais do meu dia a dia, mas chegar a um equilíbrio e a um consenso de como usá-las. Acredito que a missão foi cumprida. E não. A felicidade não é verdadeira só se for compartilhada, como dizem. Pelo menos não no mundo virtual. Topa encarar o desafio?



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