Debaixo do mesmo teto de Kurt

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Marcela Munhoz

Quando se dedica um momento do dia para escutar Nirvana, nunca fica por isso mesmo. Todo material que a internet oferece, desde os vídeos do Live at Reading, de 1992, até as entrevistas e gravações caseiras de Kurt Cobain, fazem com que seja possível mergulhar dentro de um universo único, repleto de talento, profundidade e inquietação.

Pode-se até classificar o estilo do Nirvana como grunge. Mas, antes de qualquer coisa, é necessário perceber o quão orgânicas são as músicas, letras, linhas de guitarra e sonoridade na hora da gravação. Simplesmente, a banda deu voz à hiperatividade jovem e perdura até hoje como exemplo de fazer um rock sujo, mas cheio de poesias introvertidas e criatividade despertada no caos que era a vida pessoal de Kurt.

Para retratar com um pouco mais de detalhe sua caminhada antes da fama até formar o Nirvana que todos conhecem, os italianos Danilo Deninotti e Toni Bruno criaram o quadrinho Kurt Cobain – Quando eu Era um Alien (Editora Conrad, 96 páginas, R$ 39,90, em média). O graphic novel recebeu tradução para o português e é peça essencial para os fãs da banda. É possível sentir a atmosfera em que Kurt cresceu, dentro de uma família desestruturada, que acabou fomentando sua visceralidade e talento. Música sempre foi o seu refúgio e a única coisa que, de fato, ele deveria ter feito em sua curta passagem por aqui.

A história mostra que Beatles e The Monkees foram algumas das primeiras influências roqueiras de Kurt. Ele, ainda menino, treinava riffs de guitarra de músicas do AC/DC e Kiss. Mas sempre houve o anseio de colocar para fora tudo o que perambulava dentro de sua cabeça, sempre confusa e angustiada, fazendo com que ele se sentisse, quase que literalmente, um alien dentro de sua casa e ao lado de sua família.

O trabalho faz parte da coleção O Clube dos 27, que retrata a trajetória de diversos artistas que morreram aos 27 anos de idade. O primeiro nome lançado foi o de Amy Winehouse, e Kurt Cobain foi responsável por ilustrar a segunda edição. Jim Morrison, Jimi Hendrix, Robert Johnson e Brian Jones também devem ganhar uma edição cada um. A de Robert Jonhson, um dos maiores artistas de blues do mundo, terá sua história lançada pelos quadrinistas em 2016.

ESCUTANDO
Mas, pensando bem, por mais que a história seja bem contada e ilustrada de uma maneira diferente, nada melhor do que a forma tradicional de mergulharmos no universo de um ídolo musical: escutando. E é por isso que os fãs de Kurt Cobain estão com muita sorte este ano. O disco Kurt Cobain: Montage of Heck traz o lado mais íntimo do músico com suas gravações caseiras, em que registrava todas as ideias que tinha. Coisas raras e nunca divulgadas estão presentes neste disco.

Com 31 registros que percorrem entre músicas só com vocalização ou o som ambiente do quarto de Kurt, é impossível não sentir emoção e entrar no clima dos registros de áudio caseiro. A sujeira no som, sua voz nua e crua e até mesmo os ruídos do gravador trazem um conteúdo rico e que revela o que realmente foi Kurt Cobain: um gênio grande demais para este mundo, que não aguentou a pressão de ter de jogar o jogo. Mas isso não quer dizer que ele fracassou, pois, se for considerado que nos fones de ouvido de vários jovens andando na rua ainda tocam Nirvana, ele cumpriu sua missão. Tentou, marcou, inventou.




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