Avenida Paulista totalmente livre

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Marcela Munhoz

Algumas das melhores lembranças da infância de muita gente remetem à sensação de liberdade ao ter a chance de brincar sem medo na rua até a mãe chamar para tomar banho e jantar. Isso sem contar com os domingos aproveitados do começo ao fim nas ruas de lazer. Nas décadas de 1980 e até início da de 1990, especialmente dentro dos bairros, ainda não era tão difícil encontrar vias fechadas com cavaletes e disputadas por patinadores, skatistas, ciclistas e brincadeiras sem fim. Este cenário nostálgico está de volta e foi construído em, nada mais, nada menos, do que na principal avenida do Estado de São Paulo: a Paulista. Não acredita? Basta dar um pulo lá aos domingos, das 9h às 17h, e ver com os próprios olhos o que está rolando.

Trata-se do programa Rua Aberta da prefeitura de São Paulo. A iniciativa visa incentivar a apropriação dos espaços públicos da cidade, consolidando as relações sociais nos bairros. Quando o projeto foi inaugurado, em 18 de outubro, o prefeito Fernando Haddad (PT) disse: “Não dar uma chance à ela (Avenida Paulista) seria um grande prejuízo.” Contando com a estreia foram seis domingos e, por enquanto, pesquisas apontam que a maioria dos moradores da Capital (cerca de 64%) é favorável à medida.

E não é para menos: o que se vê na Paulista é, essencialmente, boa opção de turismo para quem vem de outros Estados, países e – por que não – para os próprios moradores da região, que podem chegar tranquilamente ao local de metrô (Estação Paulista, Linha Amarela, Consolação, Brigadeiro e Trianon-Masp, Linha Verde). Lembrando que, aos domingos, transportar bicicletas no Metrô é permitido.

Pela Paulista dividem espaço com os visitantes carrinhos de food truck, artistas e barraquinhas com artesanato. É só dar um passeio para ser convidado a pular corda e brincar de amarelinha. Para Adriana Coleto, 39 anos, de Ilha Solteira, interior de São Paulo, ter a chance de ‘sentir’ a Paulista deste jeito é privilégio. “Ver as crianças à vontade não tem preço. Estou me sentindo em casa. É uma medida tão simples que não deveria incomodar tanta gente. Dá para ficar sem usar carro por aqui só um dia na semana, ao menos”, diz a técnica de segurança do trabalho.

Paulo Roberto Visconde, 32, também aprova a iniciativa de abrir a Paulista para os pedestres. Com deficiência de locomoção, ele diz se sentir livre podendo percorrer toda a extensão de 2.800 metros. “É boa opção de divertimento, me sinto independente e o clima é ótimo. Além disso, a Paulista é um dos poucos e bons exemplos de acessibilidade. Me sinto realmente muito confortável por aqui.”

Mais do que as atrações que invadem a avenida só aos domingos, outras já tradicionais também ficam abertas. Quem estiver por lá, pode aproveitar e dar um pulo no Masp, Casa das Rosas, Itaú Cultural, livraria Fnac, Conjunto Nacional, Parque Trianon, contemplar o mural colorido do Eduardo Kobra, além de visitar os shoppings da região. Bares e restaurantes ficam funcionando. A dica é pedir um dos generosos pratos do Charme da Paulista. Não custa tão caro e a cerveja vem sempre bem gelada.

Artistas aproveitam palco alternativo para mostrar serviço
Algo muito comum em outros países, esbarrar com artistas de rua é uma das preciosidades que a Paulista fechada para veículos está trazendo no ‘pacote’ de benefícios. Antes mesmo de o projeto ser aprovado, alguns deles já ‘batiam ponto’ por lá aos fins de semana. Agora a ‘concorrência’ aumentou. E muito. Bandas de blues e rock, cantores ao violão, covers e mágicos disputam um espacinho na tão famosa via. O Elvis da Paulista, por exemplo (com direito a página no Facebook com esta denominação), já é figura mais do que conhecida por lá. Há pelo menos três anos, Marcio Henrique de Aguiar faz show vestido de ‘Rei’. E não é só aos domingos.<EM>

O cantor Diego Goldas, 30 anos, do Rio Grande do Sul, é outro que sempre tocou na avenida e ainda está se adaptando à chegada dos colegas de profissão. “A concorrência é forte, mas não dá para pensar só no dinheiro agora. Acredito que a medida ajuda, no fim das contas, a arte de uma forma geral. Quanto mais artista, melhor. As pessoas vão se acostumando com a possibilidade de ver as manifestações ao ar livre. É bom para conhecer, ampliar a cabeça.” Ele reforça, como cidadão, que é absolutamente a favor da avenida fechada aos veículos aos domingos. “É muito bonito ver todo mundo por aqui, dividindo o mesmo espaço”, conclui.

Além dos aplausos, das selfies e do reconhecimento dos visitantes, os artistas também aproveitam para fazer divulgação do trabalho, vender seus CDs independentes e, de quebra e com toda a justiça do mundo, ‘passar o chapéu’ para arrecadar algum troco. Se a prática é tão famosa e antiga em lugares como a Calçada da Fama, em Los Angeles, nos Estados Unidos, por que não repetir a atividade tão saudável por aqui também? Vale a pensa separar uma grana extra para levar no domingo de passeio.




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