Notas maiores que palavras

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Oscar Brandtneris

Chega um momento em que não é mais possível enxergar um caminho se a opção for continuar no mesmo lugar, parado, insistindo em fazer tudo da mesma forma. E mudar, seja de vida ou de lugar, exige mistura de coragem, loucura e sede de conquistar tudo aquilo que se sonha. Na música, nem sempre quem busca fazê-la de verdade, em sua essência, consegue ser reconhecido com facilidade. A luta é diária e um personagem aqui do Grande ABC é a prova viva de que vale insistir no que se gosta de fazer. Um momento ruim não vale a emoção de poder ver sua música passando por cima de fronteiras e quebrando barreiras, sejam elas culturais, de idioma ou de falta de dinheiro. O importante é viver.
 
Edi Roque é nome conhecido por aqui, principalmente quando o assunto é seu sobrenome. Produtor e guitarrista, música sempre foi sua profissão, desde a adolescência. Depois de desenvolver, produzir e participar de diversos projetos, seu último trabalho foi o disco instrumental Truth, segundo de uma trilogia que está sendo finalizada em uma aventura por Hollywood, bairro central de Los Angeles, nos Estados Unidos. Sim, Edi, em uma mistura de loucura e coragem, decidiu ir atrás de um sonho: elevar o nível de sua verdade, que é a arte.
 
“Acredito que todo artista possui o sonho de vir para os Estados Unidos, pois aqui é onde começou a indústria de forma profissional e organizada. É o lugar onde as coisas acontecem, onde tratam a arte com respeito e ninguém te pergunta onde trabalha além de ser músico, pois aqui elas entendem a música como profissão. Ela é mais valorizada e respeitada”, afirma.
 
A indústria da música e cinematográfica é, basicamente, o resumo de Hollywood. Os maiores estúdios e gravadoras estão por lá. Talvez o Brasil não fosse mais casa para um artista inquieto e um pouco perdido depois de assistir a alguns de seus planos dando errado. “Às vezes, é melhor você mudar de lugar do que tentar mudar a cabeça das pessoas”, diz o próprio. “Então, eu me vi em uma situação em que eu iria ter que recomeçar a minha vida, mas sem esperança com as coisas que eu tinha ao meu redor no Brasil. Então, decidi me reconstruir em um lugar onde sempre foi meu objetivo chegar e onde sei que meu trabalho seria reconhecido”, diz.
 
Por lá, a vida anda agitada. Além da produção do último disco da trilogia, Edi Roque também está trabalhando como músico e colaborando na produção de trabalhos de diversos artistas. As bandas de rock The Quarantined e Rise Lillyth, o cantor Charlie Wilson Smith – artista tradicional da região – e até uma banda country chamada Souls of Passion são alguns dos trabalhos que Edi se envolveu paralelamente.
 
“É uma maneira de conhecer as pessoas. Logo na primeira semana sai percorrendo pelos estúdios. Aqui rola um processo de colaboração e convivência entre esses músicos. A cidade é grande, com muita gente e muito artista. Aqui há competitividade, mas é mais saudável, pois não existe ninguém querendo roubar o lugar de ninguém. As pessoas aqui podem investir na música que gostam e viver disso. No Brasil, o pessoal do jazz toca sertanejo, por exemplo, pois é o que vai te dar agenda, shows e o que vai fazer você conseguir viver de música”, afirma o artista.
Mas como a vida, infelizmente, não é justa com todo mundo, existe o lado escuro e triste de Hollywood. Na hora em que o sol se esconde e apenas as luzes dos postes clareiam a cidade, sobram as vidas perdidas de pessoas em situação de rua que tiveram seus sonhos esmagados, perdidos, roubados ou que, simplesmente, não conseguiram chegar em algum lugar melhor. Dentro disso tudo, nasceu o single Homeless Lullaby, que nada mais é do que uma canção de ninar para estas pessoas que enfrentam situação subumana.
 

“A música começou quando eu cheguei em Hollywood. Já era de noite e depois de passar por aquela coisa toda dos turistas, calçada da fama, sobraram os moradores de rua e cada um com um sonho que foi perdido, roubado, assassinado. Dormir talvez seja o único momento em que elas consigam estar em paz”, explica. Só ouvindo para entender a energia das linhas de guitarra. A missão de passar a mensagem sem dizer uma palavra sequer é cumprida, vencida com muito amor e gosto pela arte. Edi Roque deixa isso evidente em todos os trabalhos que se dedica. Quebrou a tal barreira do idioma, da cultura, e tem a faca e o queijo para produzir seu trabalho sem descer um degrau sequer. Chega de recomeços, é hora de viver e olhar o horizonte.




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