Reflexão e arte em quadrinhos

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Marina Teodoro

 Hoje, 20 de novembro, é comemorado o Dia da Consciência Negra. Em todo País, escolas, fóruns e palestras estão neste momento promovendo discussões sobre direitos humanos e combate ao racismo. Mas, para o cartunista Mauricio Pestana – que abre mostra amanhã no Sesc Santo André –, a temática vai muito além desta data. Andreense, negro e com mais de 30 anos de carreira, ele também é publicitário, escritor e atual secretário municipal de Promoção da Igualdade Racial de São Paulo.

Aluno da Escola Poliarte de São Paulo, iniciou suas vivências artísticas e logo ingressou como cartunista em um dos veículos mais influentes da época, o jornal O Pasquim, conhecido pelas corajosas críticas a comportamentos sociais da época, onde teve a chance de se aproximar de figuras como o icônico desenhista Henfil. Sua trajetória em lutas sindicais e humanistas sempre o manteve ligado aos assuntos que defendem as minorias, o que o fez dedicar sua carreira à busca por direitos iguais.

E é com essa temática que a exposição Pestana: 30 Anos de Arte Pela Igualdade vem ao Sesc. A mostra – que será encerrada em 31 de janeiro – é gratuita e reúne cartilhas, cartuns, posters e livros ilustrados e escritos pelo artista como, por exemplo, o Manual de Sobrevivência do Negro no Brasil, com desenhos de Pestana e texto de Arnaldo Xavier.

“Ao mesmo tempo em que celebramos o fim da escravidão, lamentamos que o tema, mesmo após 400 anos, ainda seja tão atual”, declara o curador da mostra, Claudinei Roberto da Silva, sobre um dos motes abordados por Pestana. As obras, datadas desde 1987 até os anos 2000, ainda propõem reflexão sobre situações cotidianas que acontecem em pleno século 21.

Para Silva, o tema deve ser discutido com urgência, já que todos os dias somos bombardeados, principalmente pela mídia, com situações preconceituosas e que ferem os direitos humanos. “Casos de racismo em lugares inusitados, como estádios de futebol, intolerância religiosa que promovem guerras, desigualdade social, quando a televisão mostra o jovem da periferia sendo abordado de maneira diferente pelo policial, tudo isso precisa ser repensado.”

DENÚNCIA
Outros assuntos como relações de trabalho, Segurança pública, igualdade entre gêneros e Educação também fazem parte das duras críticas do cartunista. “Por se tratar de quadrinhos, tiras e misturar a imagem com poucas palavras, a comunicação se torna muito direta, diferente de outras obras de arte contemporânea”, analisa o curador.

Dispostos pelos corredores da entrada principal da unidade andreense do Sesc, quem visitar o local, dificilmente não perceberá os traços de Pestana. E que sejam realmente vistos é um dos seus principais objetivos. “Nem todos terão empatia com o tema, mas a reflexão é unânime. Alguns cartuns provocam riso, o que facilita a transmissão da mensagem”, comenta Silva.

Por se tratar de críticas explícitas à sociedade, espera-se que o público sinta um desconforto ao primeiro contato, entretanto, a ideia do artista é transformar a estranheza em reflexão. Discussões são bem-vindas, ainda mais se forem para além do âmbito da exposição. “Em uma sociedade que se propõe democrática, não se pode ignorar a existência dessas mazelas. É preciso falar dos problemas. Considero a mostra, além de pedagógica, fundamental”, finaliza Silva.

Pestana: 30 Anos de Arte pela Igualdade – Exposição. A partir de amanhã até 31 de janeiro. As visitações podem ser feitas de terça a sexta das 10h às 21h30, e aos sábados, domingo e feriados, das 10h às 18h30. Sesc Santo André – Rua Tamarutaca, 302. Tel.: 4469-1200. Entrada gratuita.




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