Cauby, o imortal se reiventa

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Sergio Lemos

Há 30 anos, a pauta de um jornal de faculdade era entrevistar Cauby Peixoto em Santos. A primeira reação foi torcer o nariz. Por que a reportagem não era com a Blitz, Paralamas ou Legião, em alta com a juventude na época? A entrevista foi com o intérprete de Conceição após o show. A estrela da noite fez a recepção no banheiro em pé, sorridente e, acima de seus 1,86 m, estava uma ducha de plástico. Sua humildade conquistou e deu ideia para a foto e legenda que ilustrariam o trabalho: ‘Cauby cantando no chuveiro’. E assim foi.

O tempo passou e um dos maiores cantores brasileiros vivos continua humilde e simpático. Agora por telefone, Cauby, 84 anos, novamente fala sobre sua carreira à reportagem. ele se apresenta hoje, às 21h, no Teatro Bradesco (Rua Turiassú, 2.100, Bourbon Shopping), em São Paulo. O show é o 120 anos de Música ao lado de Ângela Maria, parceira desde a década de 1960, quando o cantor a prestigiava em sua boate no Rio de Janeiro.

Os dois vieram a gravar 22 anos depois o disco Ângela e Cauby apenas “por que os produtores e gravadoras não se interessaram”, segundo ele. Embora o mercado fonográfico tenha tido altos e baixos, Cauby não guarda qualquer ressentimento. O artista faz questão de agradecer sempre, pois nunca teve insucessos. Para ele, “só não haviam gravações e talvez por isso estivesse afastado algumas vezes da mídia”.

Com quase 200 trabalhos gravados e mais de 1.500 músicas em sua discografia, o cantor tem certeza de que é querido e, por isso, sempre se reinventa. Prova é o mais recente CD A Bossa de Cauby Peixoto (Biscoito Fino), feito em cinco dias e idealizado por ele ainda no leito do hospital (Cauby ficou internado no início do ano). Ele chegou para seu produtor, arregalou os olhos e sugeriu: “Vamos gravar bossa?” O disco conta com clássicos, inéditas em sua voz e outras regravações. O repertório é composto, entre outras, de músicas de Tom Jobim, Johnny Alf, João Donato e Aloysio de Oliveira.

Além do musical Cauby, Cauby que volta em 2016, estrelado por Diogo Villela, novos projetos e realizações não faltam para esse niteroiense que decidiu cantar quando ouvia Orlando Silva aos 7 anos. Quando informado pelo Diário que o cantor das multidões completaria 100 anos se estivesse vivo, rolou um burburinho entre sua equipe. Enquanto digeriam a notícia para, quem sabe, inventar mais um produto, Cauby fazia questão de salientar que nunca se considerou sucessor de Orlando. “Ele foi meu primeiro ídolo”, enfatiza.

Ídolos e parcerias nacionais e internacionais fazem parte do vasto currículo do cantor, entre eles, Nat King Cole, Frank Sinatra, Bing Crosby, Carmem Miranda e até Louis Armstrong. Todos contemporâneos da fase em que Cauby Peixoto mostrava seu talento em terras de Tio Sam e onde chegou a emplacar o quinto lugar entre álbuns mais tocados nos Estados Unidos. A Europa também faz parte de sua história e lembra com orgulho e tristeza do Bataclã, a casa de shows francesa, onde ocorreu a carnificina do dia 13. “Estou muito triste.”

Mas o Professor, um dos seus apelidos carinhosos, quase nunca fica de baixo astral. Ele conta que é feliz a maior parte do tempo, pois sempre fez o que gosta e não se imagina trabalhando com outra coisa. O mais longe que Cauby vai ao cogitar-se em outra carreira seria a de produtor musical. De bem com a vida, ele diz que o único gênero que não cantaria é funk, mas não por preconceito e sim porque optou pela carreira romântica, mesmo tendo gravado um dos primeiros rocks nacionais, Rock’n’roll Copacabana ao lado de Erasmo e Roberto Carlos no filme Minha Sogra é da Polícia de 1958.

Quanto aos novos cantores que surgem nos reality shows, ele é otimista. “Eles podem cantar melhor, pois dispõem de mais recursos hoje.” Ao lembrar que também teve que amaciar sua voz no início de carreira, Cauby acha apenas que os iniciantes precisam um pouco mais de afinação. Conselho simplório, considerando sua longevidade, resultado de “uma vida regrada” e interpretações dignas da realeza de quem está no alto da carreira e num grande palco por mérito. Isso porque, segundo o próprio, se estivesse mais perto do público ainda teria suas roupas rasgadas.

120 Anos de Música – Show. Hoje, às 21h. Teatro Bradesco – Rua Turiassú, 2.100. São Paulo. Ingr.: R$ 50 a R$ 180 (www.ingressorapido.com.br).




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