Amor fora do padrão

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Oscar Brandneris

 O amor, inegavelmente, pode ser expressado de várias formas. Não importa a crença ou a opinião de cada um. O fato é que a maneira tradicional de se relacionar, que envolve um homem e uma mulher apenas, não é o único tipo de relacionamento no mundo real. E nada de achar que tudo isso é novo ou que o tema é contemporâneo, pois já na Grécia Antiga, por exemplo, as diferentes formas de união afetivas já eram discutidas. Inclusive, um relacionamento com mais de duas pessoas era considerado bárbaro, mas já existia. No Império Romano acontecia algo semelhante, mas com um viés relacionado à diversão: após os grandes banquetes, segundo relatos históricos, grandes orgias aconteciam entre os nobres aristocratas.

 
União poliafetiva, plúrima, concomitante, paralelismo afetivo, poliafeto ou poliamorismo são termos usados para explicar união estável e consentida entre mais de duas pessoas. Os ‘trisais’, como são chamados, vivem rigorosamente para provar que amar é ser livre e pensar no companheiro como propriedade privada é um erro. Por isso, acabam se apaixonando por mais de uma pessoa e desenvolvem estilo de vida fora do padrão, em que a maioria das pessoas se encaixa e julga ser a forma certa de se relacionar.
 
Da mesma forma que acontece no caso dos relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, pouco se avançou nas questões jurídicas que se relacionam com o chamado poliamor. Existe, nitidamente, tentativa de modular o comportamento humano e não reconhecer o que o conservadorismo denomina como ‘aberrações comportamentais’. Exemplo disso é o Decreto Legislativo 234 de 2011, nomeado como Cura Gay, forçando o Poder Judiciário a não reconhecer este modelo familiar.
 
De qualquer forma, tal tentativa de impedir que as pessoas desenvolvam seu próprio estilo de vida é falha. E fazendo conexão com a Europa, onde, como todos os cantos do mundo, também existe preconceito, há a história da Eliana Dinis, 29, musicista, que vive em Portugal com seu marido, Décio Dinis, 31, que também é músico, e a namorada Cristiana Azevedo, 20, atriz e coreógrafa. Sim, Cristiana é namorada dos dois. E isso é possível. Eliana conta à Dia-a-Dia que é casada com Décio há mais de 12 anos e que a nova namorada apareceu na vida dos dois há cerca de um ano. Eles se conheceram pela internet e simplesmente se apaixonaram. Cristina estava na Suíça e, algum tempo depois, voltou para Portugal, onde decidiram começar uma vida a três. “Ainda não conseguimos viver os três na mesma casa, mas lutamos por isso. Ainda não deu para casar também, pois em Portugal ainda não é legalizado, mas, sim, pretendemos fazer isso e ter uma união poliafetiva legalizada”, diz Eliana.
 
 
Sobre a rotina sexual, pelo fato de ainda não dividirem o mesmo teto, nem sempre acontece de dormirem os três juntos. Entretanto, sempre que possível, vira prioridade. “Temos vida sexual normal e muito ativa”. Em relação aos ciúmes, eles juram que entre os três não acontece, mas se uma quarta pessoa tentar se aproximar, aí o bicho pega. A família de Eliana sabe do relacionamento e aceita bem hoje em dia. Seu filho, inclusive, foi um dos primeiros a compreender e aceitar a nova situação. Entretanto, nem sempre é fácil. “Temos receio de contar para outras pessoas, pois a nossa relação não é bem aceita totalmente. Só quando nos sentimos preparados é que falamos. Algumas pessoas reagem mal, outras ficam muito curiosas”.
 
EM DESCONSTRUÇÃO
O termo ‘desconstrução’ é utilizado para definir a relação de Nataly (nome fictício) com seu marido. Segundo a dentista, que vive em Brasília, o relacionamento entre dois era fechado até a oportunidade de convidar sua melhor amiga para praticarem um menáge (sexo a três). Ambos, até um ano atrás, carregavam sentimento de ciúmes muito forte um pelo outro. Mas, segundo ela, esta não é a maneira certa de expressar o amor que sentem. “Meu marido, quando nos conhecemos, não aceitava ninguém de fora, sentia ciúmes doentio e ele não está tão avançado quanto eu nessa questão. Mas hoje a minha amiga convive com a gente, sempre nos visita e não existe mais este sentimento de posse. E, por enquanto, não tenho vontade de ter isso com outro homem, mas com mulheres. Tenho essa fantasia desde os meus 15 anos”, conta. Mesmo ainda não vivendo uma história de poliamor, Nataly não descarta essa possibilidade. Diz que pode sim se apaixonar pela amiga e que mesmo o sexo sendo casual, hoje já existe muito amor envolvido naquele momento, pelo menos para ela.
 
E um questionamento importante é o machismo que a própria dentista afirma presenciar nas redes sociais. Nos grupos designados para pessoas interessadas pelo tema, ela afirma que muitas mulheres aparecem buscando mais informações sobre o assunto por indicação do parceiro. Entretanto, “elas falam apenas de convidar uma mulher, pois se for homem, não pode”. “Dá dó, pois a desinformação dessas mulheres é um sinal forte do machismo que sofrem”, opina Nataly.
 
 



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