Pé no peito dos preconceitos

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Oscar Brandtneris

 O choque causado com o novo disco de Emicida, Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa, começou com o lançamento do clipe da faixa Boa Esperança. A história do roteiro mostra domésticas e funcionários de uma casa de alto padrão que se rebelam contra os patrões por conta de toda a humilhação e abuso sofrido por eles. Taça de vinho na cara, cuspe no prato principal servido no almoço, fogo nas roupas: tudo para criticar e revidar o que o próprio rapper afirma na música: favela ainda é senzala.

Logo na primeira faixa do disco, Emicida canta sua composição, chamada Mãe, que fez para homenagear sua mãe e todas as outras mães que encaram as responsabilidades da vida sozinhas com muita força, mesmo seguindo um caminho incerto e cheio de pedras. “Quando vi Deus, ele era um mulher preta” é a frase que finaliza um dos versos mais fortes da faixa.

A sonoridade do disco todo é arriscada, quase uma reformulação do rap que experimenta sonoridades, misturas de percussões africanas e batidas de funk. Com corais e participações especiais, é perceptível um toque rebuscado, feito com capricho e desprendido de padrões, mas sem perder a essência do estilo que é voz das ruas: confrontar os estigmas enfrentados pelos pobres e oprimidos.

Passarinhos, que possui participação de Vanessa da Mata, talvez seja a mais diferente do trabalho de estúdio. Dentro de uma pegada mais pop e leve, até a letra dá uma trégua entre tantas críticas e mensagens mais pesadas. A faixa está tocando em diversas rádios do Brasil, ajuda na propagação da mensagem e dá abertura para que mais gente conheça toda a obra. Mas nada de afrouxar e dar tanta trégua.

Mandume, a pancada nos ouvidos volta com força total. Drik Barbosa, Amiri,Rico Dalasam, Muzzik e Raphão Alaafin ajudam Emicida à mandar mais uma mensagem sobre preconceito, feminismo, piadas sobre pessoas de pele negra. “Eu já morri tantas vezes antes de você me encher de bala” é o trecho que fala sobre a violência policial sofrida pelos moradores de comunidades. Marcelino Freire interpreta Trabalhadores do Brasil, sem instrumentos ou notas de música. Dentre as frases, a mensagem resume o mais importante: ninguém é escravo de ninguém.




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