Talento de sobra

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Oscar Brandtneris

Mais uma vez, Santo André se mostra referência em arte e abrigo de grandes talentos. Além de música, artes plásticas e poesia, a dança é mais uma das inúmeras expressões artísticas da região. E os personagens de hoje, do Arte no Pedaço (artedopedaco@dgabc.com.br), vão decolar para Santa Catarina em 2016 para estudar na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, que está entre as cinco mais conceituadas do mundo. Não é para qualquer um.

Eduardo Fabrini, com apenas 13 anos, já transparece ser figura madura quando fala de seus sonhos e objetivos. No ano passado, foi convidado por uma amiga para participar de aula experimental de jazz na Academia de Dança Kleine Szene, de Santo André. Porém, por questões financeiras, seus pais não conseguiriam manter o curso.

Mas, como são poucos meninos matriculados na escola, eles costumam oferecer incentivo com bolsa integral. Eduardo agarrou a oportunidade e, quase de forma religiosa, chega na academia às 15h e vai para casa apenas de noite. “Sempre gostei de dançar, mas nunca tinha feito aula. A bolsa era para estudar balé clássico, e a diretora da escola disse que, mesmo assim, poderia fazer jazz também, que gosto muito e acho que é uma dança legal, mais livre”, conta o jovem dançarino.

Eduardo sempre assistia a algumas coisas sobre o Bolshoi na televisão e sonhava com isso. Até que ele foi pré-indicado para audição oficial que aconteceu no Rio de Janeiro no ano passado, mas não foi selecionado. “Mas eu não podia desistir, falei comigo mesmo que eu precisava estudar naquela escola”, ressalta. Até que surgiu a oportunidade de nova pré-indicação em Mogi das Cruzes. Finalmente a boa notícia: Eduardo foi selecionado para a audição final.

Frio na barriga, tensão e um pouco de medo. Eram 1.700 bailarinos e apenas uma vaga disponível para cada 70. Eduardo assistia à parte dos que não foram escolhidos indo embora cabisbaixos, mas abstraiu as cenas e manteve-se concentrado. Até que seu talento falou por si e a apresentação foi um sucesso. Em fevereiro ele vai morar lá, se matricular em uma escola regular – onde precisa ter notas boas para continuar estudando no Bolshoi – e prosseguir em busca de seu grande sonho.

Sua mãe, a professora Adriana Goulart Fabrini, enche os olhos de brilho quando fala do orgulho que sente em ver seu filho dando os primeiros passos na carreira. Ela e o marido dão todo o apoio para Eduardo, inclusive até pensam em mudar para Joinville, onde fica a escola do Bolshoi, para acompanhar o desenvolvimento do filho. Mas ela comenta que o mérito é todo dele. “Nós nunca precisamos falar o que ele deveria fazer. Foi sozinho fazer o teste na escola de dança, pega o ônibus e vai treinar todos os dias. Sua dedicação e responsabilidade são incríveis, não tenho nem palavras para descrever meu sentimento de alegria”, diz Adriana com um sorriso estampado no rosto.

E sobre preconceito por ser menino e dançar balé? “É muito pequeno perto de todo meu esforço e minha paixão pela dança”, afirma Eduardo. Ele recebe olhares tortos quando espera seus pais o buscarem na frente da academia de dança, mas existe barreira maior que o afasta de qualquer julgamento: o amor pela arte.

MAIS UM
Roberty Matheus, 16, também surpreendeu no domingo, dia da audição final. Mesmo sendo a primeira vez que participou da pré-indicação, conseguiu uma vaga na Bolshoi e também deixa ainda mais forte a competência de preparação de alunos da escola Kleine Szene. “Fiquei nervoso na hora, mas acho que fiquei mais ainda quando soube que o resultado sairia logo no domingo”, comenta Roberty. E foi a mãe de Eduardo quem o avisou que seu nome também estava na lista de aprovados.

O jovem iniciou na dança aos 12 anos e o balé clássico sempre fez parte de seu estilo principal. Durante este período, ele conta que fez algumas audições em outras escolas. “Comecei em Diadema. Em casa sempre me apoiaram muito, principalmente a minha mãe”, finaliza.




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