Doce estranho

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Miriam Gimenes

O hiper-realismo deve ser algo inerente aos artistas australianos. Depois do furor causado pelas esculturas de Ron Mueck, que ocuparam grande parte da Pinacoteca do Estado há quase um ano – e atraíram mais de 400 mil pessoas –, agora é a vez de sua compatriota Patrícia Piccinini impressionar. Seu trabalho, com um toque surrealista, poderá ser visto a partir de hoje na exposição ComCiência, no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), em São Paulo. A abertura será às 9h.

À primeira vista suas esculturas despertam arrepio. Tratam-se de criaturas fantásticas criadas com base em modificações genéticas que, por vezes, compõem a cena com crianças. “Ela explora as transformações que o mundo está vivendo e isso resulta em arte. É forte e envolvente. Estes seres têm doçura e estranheza brutal”, explica o curador da mostra, Marcello Dantas.

“Sou interessada em descobrir o sentido do que é ser humano no âmbito da engenharia genética e da biotecnologia, e como essas tecnologias influenciam a maneira como nos relacionamos com o mundo. O mundo que crio existe em algum lugar entre o que conhecemos e o que está quase sobre nós (a imaginação ou o futuro). Minhas criaturas, apesar de estranhas e por vezes inquietantes, não são assustadoras. Em vez disso, é a sua vulnerabilidade que muitas vezes vem à tona. Elas pedem que as olhemos além de sua estranheza, nos convidando a aceitá-las”, diz Patrícia.

Assim como Mueck, ela também usa fibra de vidro e silicone para a confecção das esculturas, todas feitas em seu estúdio de Melbourne – que em muito se assemelha a um espaço de criação de efeitos especiais para o cinema, com seus ateliês de pele, unha ou cabelo. Um mundo à parte. “Ela tem um universo muito parecido com os filmes Senhor dos Anéis e Harry Potter. Isso mexe muito com a imaginação das crianças, tem um ‘quê’ de sonho”, completa Dantas. E, para atrair o público infantil, hoje, às 16h30, o Skywhale, um híbrido de tartaruga e baleia, irá sobrevoar o Vale do Anhangabaú.

São, ao todo, cerca de 25 criaturas, entre elas a Big Mother(uma figura agigantada, que se assemelha a uma macaca e amamenta um bebê); The Conforter (uma menina toda coberta de pelos acalenta um pequeno ser, de pele macia e pés fofos como um bebê humano, mas que tem uma boca agigantada e sem olhos –; ou ainda o The Observer (2010), um curioso menino que observa o mundo de um ponto de vista privilegiado e perigoso, o alto de uma pilha inclinada de cadeiras.

ComCiência – Até 4 de janeiro no CCBB (Rua Álvares Penteado, 112). Aberto de quarta a segunda, das 9h às 21h. Tel.: 3113-3651. Gratuito.




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