Escrever é preciso

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Rodrigo Mozelli

Quando se lê, várias portas se abrem na mente. Tanto para aguçar a imaginação quanto para compreender melhor o uso correto do idioma. O ato de escrever está atrelado ao primeiro, pois a leitura é a base para a escrita. Com o advento da internet, das telas touches e dos computadores, as gerações que já estão inseridas neste mundo acabam deixando de treinar a escrever. Muitos não são nem familiarizados com a própria letra e recorrem ao internetês – simplificação, abreviação, ou supressão de letras usadas na internet. Também pode significar glossário de termos utilizados na web, telecomunicações, televisão interativa e outras áreas tecnológicas – até nas provas.

 
E isso não é uma boa para o desenvolvimento, como explica a grafóloga Ana Cecilia Amado Sette. “Esses jovens logo vão entrar no mercado de trabalho e já no Enem muitos não passam por causa da grafia, que é ‘suja’, borrada, ilegível e malcuidada.” Letra ilegível, aliás, pode dificultar o entendimento das redações e tirar pontos do candidato.
 
A grafologia é o estudo que analisa a escrita para definir traços de personalidade de quem escreve. O estudo é tão importante que as técnicas são usadas, inclusive, pela polícia para identificar autenticidade de assinaturas, documentos e cartas. “O essencial, na verdade, não é se a letra é feia ou bonita, mas sim se é legível, simples ou rápida”, complementa. Além disso, Sette é defensora do uso do famoso caderno de caligrafia nas escolas e do ensino da disciplina desde cedo. “O que acontece é que os alunos não têm mais ‘saco’ para isso.”
 
A professora de Língua Portuguesa da Etec de Ribeirão Pires Rosimeire França Pereira também ressalta a importância do conteúdo, mas acredita que as ideias são mais valiosas do que como são apresentadas. “Tratamos hoje de abordagem educativa, na qual a caligrafia não importa tanto desde que as ideias estejam postas. Sabemos que nem todos possuem letra legível. Hoje, pode-se escrever em letra técnica, bastão ou até digitar”, pontua.
 
 
Sobre as dificuldades enfrentadas pelos estudantes nas provas ‘oficiais’, a professora opina: “O grande desafio é fazer com que os jovens entendam que a Língua Portuguesa não é apenas disciplina escolar, mas ferramenta de possibilidades sociais e isso só ocorre quando a língua é utilizada para exposição de ideias por meio dos textos. Não podemos nos preocupar com caligrafia se o estudo do idioma, na cabeça dos jovens, ainda não teve toda sua utilidade revelada. Eles precisam produzir textos, mostrar seu discurso, argumentar, relatar, narrar, publicar ideias, só por meio da produção textual.”
 
NA PELE
O estudante do curso de Ciência e Tecnologia da UFABC Raul Teodoro Machado, 19, já teve problemas com suas redações. Quando criança, sua mãe rasgava folhas de seu caderno que estivessem com a grafia ruim. Isso o motivou, mas não foi o suficiente para ser aprovado de primeira na faculdade. “Quando fiz a prova, tive dificuldade de desenvolver as ideias. (A redação) Ficou muito ruim. Sabia que tinha ido mal, por isso me preparei para o ano seguinte fazendo cursinho, assisti mais às aulas, comecei a ler mais notícias e livros para melhorar o vocabulário e treinei a escrita”, conta Machado. Para melhorar a letra, Ana Cecilia Sette dá conselhos. “As meninas podem escrever diários. Já os garotos podem escrever qualquer coisa, um sonho que teve, enfim, desde que seja algo prazeroso.”
 
 



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