Pouca vida para tanto mundo

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Marcela Munhoz

 Quem gosta de viajar já parou para pensar em quantos lugares ainda têm para visitar. E o mundo é tão grande que listas não são suficientes para suprir tamanha oferta. Mas, quem sabe um livro? Foi o que fez a jornalista Patricia Schultz ao relatar suas experiências pela Europa, África, Ásia, Austrália, Estados Unidos, Canadá, America Latina e Caribe em 1.000 Lugares Para Conhecer Antes de Morrer (Sextante, 972 págs., R$ 27, em média), guia que ficou entre os mais vendidos do The New York Times em 2003. Desde então, a profissional, com mais de 25 anos de experiência em turismo, já atualizou a obra diversas vezes. “A recente tradução será lançada no Brasil ainda neste ano”, conta Schultz para a Dia-a-Dia.

 
O que significa viajar para você?
Viajar é uma educação que sempre abriu meus olhos e meu mundo. Sempre tive curiosidade em saber sobre as outras pessoas e como elas vivem suas vidas. Viajar é uma maneira excitante de entender o ser humano e, indiretamente, a mim mesma. O caminho mais curto para conhecer a si mesmo é viajar pelo mundo.
 
Você acredita que em uma só vida é possível conhecer tantos lugares assim?
Não, a não ser que você viva até os 200 anos! Mas a proposta do meu livro é abrir a cabeça das pessoas para as possibilidades que o mundo oferece e apresentar lugares que, provavelmente, não estariam na sua lista. Então, você pode escolher aqueles que parecem especiais.
 
Que critérios você utiliza para selecionar os locais que entram nos seus livros?
Quis criar excitante mix de destinos que sempre me fascinaram, desde lugares famosos até aqueles pequenos e desconhecidos. Tudo que me fez parar minha viagem por um momento ou que tirou meu fôlego. Eles não são todos Grand Canyons ou Taj Mahals. Alguns desses lugares são especiais pela alegria simples ou insights que despertam. São pequenas e grandes maravilhas.
 
 
Como se organizar, de forma prática e econômica, para dar a tal volta ao mundo?
Parece que viagens são sempre determinadas por tempo e dinheiro. Algumas vezes eu gostaria de planejar as duas coisas, outras simplesmente aproveitaria oportunidade com antecedência mínima. Viajar é sempre prioridade para mim. Sou da escola em que viver significa acumular experiências e não coisas. De alguma forma, sempre consegui gerenciar minha vida para que isso acontecesse.
 
Tem algum lugar que conquistou seu coração e que você não pensaria duas vezes em morar, inclusive?
A Itália! Verdi (Giuseppe, foi famoso compositor de óperas) disse: “Você pode ter o universo se eu puder ter a Itália”. Não é um país muito grande, mas desde o Norte (Alpes, Veneza, a linda região dos lagos) até o Sul (o estilo La Dolce Vita, Sicília, Pompeia, a comida incrível) é repleto diversas possibilidades de viver milhões de aventuras.
 
Tem algum lugar que você não voltaria jamais?
Provavelmente, mas isso não significa que eu não me diverti lá. Há algo a aprender em todos os lugares, mesmo que não queira mudar para lá e se estabelecer.
 
O que pode dizer do Brasil?
Minha primeira viagem ao Brasil foi em meados dos anos 1980. Eu viajei sozinha para o Rio de Janeiro, Manaus, Belém e Salvador. Já voltei muitas vezes depois disso e sempre me parece mágico. A diversidade presente na América do Sul não é clara para quem nunca a visitou.
 
 
Quando você conhece um lugar, como se organiza para não perder os detalhes importantes (comida, pontos turísticos, cultura)? Você usa guias, aplicativos, entrevista moradores?
Sou muito ‘old school’ na minha pesquisa. Às vezes, compro entre três e cinco guias do mesmo destino antes de viajar e também me perco nos materiais disponíveis na internet. Quando eu chego no destino, converso com qualquer pessoa que me esbarro para ter uma visão local – o motorista de táxi, garçom, recepcionista do hotel. Também compro jornais e assisto às emissoras de televisão dos locais.
 
Você fotografa e anota tudo?
Sim. Muito do que eu fotografo pode não ser interessante para os outros, mas serve como memória visual de algo que me cativou. Tomo notas ao longo do caminho. Também tenho uma memória bastante confiável.
 
 
Sabe falar quantas línguas?
Minha mãe nasceu no Sul da Itália, contudo só aprendi italiano quando morei em Florença por três anos após a faculdade. Para mim, é o idioma mais bonito do mundo. O português brasileiro sempre me fascinou bem – eu tentei aprender sozinha e saber espanhol me ajudou muito nisso. Passei um ano na Universidade em Madri e isso transformou meu mundo.
 
Você é jornalista de turismo, certo? O que acha da invasão dos blogs com o tema? Acha que os cadernos clássicos de Turismo em jornal e revista vão durar?
Realmente não entendo a proliferação de blogs de viagem. Eles começam com a intenção de gerar receita para o blogueiro, mas, na maioria dos casos, o máximo que conseguem é uma viagem de graça ou estadia em hotel. Mas eles pagam o aluguel? Claro que existem várias exceções daqueles que fazem sucesso com isso, mas a maior parte...
 
Quais lugares estão na sua lista das próximas viagens?
Mal posso esperar para voltar ao Myanmar em novembro (também conhecido por Birmânia é um país localizado no Sul da Ásia). Nunca experimentei conhecer as cidades que ficam ao longo do rio Ayerwaddy por meio de um cruzeiro fluvial. Burma é um dos lugares mais autênticos, exóticos e hospitaleiros da Ásia e a Belmond tem um luxo requintado. Outros lugares que destaco no mundo são Cingapura, Sicília, Irã e São Petersburgo. Já estive lá antes, mas há aquele ditado que diz que “não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio”. Sempre há novas joias a se descobrir.
 


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