Nos cinemas e além desta vida

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Marcela Munhoz

Após sucesso lá fora, documentário ‘Amy’ chega para acalentar também a saudade dos fãs brasileiros

 

Ano de 1998. Amy Jade Winehouse e sua turma comemoram o aniversário de uma amiga, que registra tudo. A adolescente de lábios carnudos, franzina e de timidez aconchegante começa a cantar Parabéns a Você. É de perder o fôlego a voz que brota daquela boca. É algo quase que sobrenatural o jeito da moça, que viria a se tornar uma das maiores cantoras de todos os tempos, de alcançar notas com tanta facilidade, de forma tão espontânea. O vídeo realmente existe e abre o documentário Amy.

A produção da On The Corner Films e de Asif Kapadia (de Senna, vencedor do Bafta 2012) lotou todas as salas nas quais foi exibido em sua estreia no mês de julho em Londres e já é considerado o melhor lançamento de documentário britânico da história. Agora, o filme – que mostra imagens inéditas, depoimentos e resume a história da cantora morta em 2011 – entra em cartaz no circuito nacional. Na região, o Shopping São Caetano terá a película, que estreia sábado e segue com sessões até terça-feira. Os ingressos já estão sendo vendidos pelo site www.cinemark.com.br e nas bilheterias do cinema.

Tanto Amy, a cantora, quanto Amy, o documentário, conseguem estimular todo tipo de emoção em quem os contempla. Admiração, tristeza, alegria, pena e choque dançam dentro da gente durante as mais de duas horas de projeção. Porém, o sentimento que realmente conduz a tal ‘valsa’ é a saudade que a britânica deixou. Mesmo quem não é tão fã assim da artista há de dar o braço a torcer quando o assunto é sua qualidade musical no cenário do soul, jazz e R&B contemporâneo. Sua morte aos 27 anos foi uma perda para a família, para os amigos, para os seguidores e, especialmente, para a música. “Daria a vida pela música. Só sirvo para fazer música”, fazia questão de dizer.

Quem gosta ao menos um pouquinho de arte deve, sim, assistir ao documentário (da mesma forma que precisa ver os filmes com as histórias de Cássia Eller, Kurt Cobain, Jimi Hendrix e Nina Simone, para citar alguns). A obra deixa claro que o caso de Amy – que morreu em casa após parada cardíaca e algumas internações em clínicas de reabilitação – não é tão incomum assim no show business. Como um pássaro, cantava feliz quando era livre, até que ficou famosa demais e se sentiu presa, invadida e vigiada. “Não acho que vou ser famosa, não acho que aguentaria”, declarou em uma de suas primeiras entrevistas. E não aguentou.

O documentário mostra também que a cantora sofria de bulimia desde a adolescência, que sentia muita falta do pai e que caiu no mundo das drogas com facilidade. Detentora de seis prêmios Grammy e autora dos álbuns Frank e Back to Black, do DVD Amy Winehouse – Live – I Told You I Was a Trouble e do CD Lioness: Hidden Treasures, lançado postumamente, a britânica também tem revelado seu lado divertido, bem-humorado e cheio de sonhos. Amy amava demais e entregou-se de corpo e alma a tudo, especialmente ao marido, Blake Fielder-Civil. Aliás, foi por ter sofrido tanto de amor por ele que saiu o segundo e mais famoso álbum da cantora, Back to Black.

Entre as cenas mais emocionantes - tirando as que os grandes e expressivos olhos de Amy preenchem as telonas – estão os relatos das amigas de infância da cantora, em tom de choro, sobre como ela mudou por causa das drogas (consumia heroína e até crack), o quanto ela precisava de ajuda e também a cara de criança em dia de Natal que a britânica faz quando Tony Bennett, seu maior ídolo e com quem gravou, anuncia que ela acabara de ganhar um Grammy. “A vida te ensina como viver se você viver tempo o bastante”, encerra Bennett sobre sua fã número um. E que fã.




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