De dentro do castelo

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Rodrigo Mozelli

Dono de ponto turístico e artístico de Ribeirão Pires, Robson Miguel abre os portões da sua casa

 

Nascidos em Ribeirão Pires e moradores do Grande ABC sempre ouviram falar de um tal de castelo do bairro Quarta Divisão. Seu morador, Robson Miguel, inclusive, faz parte da ‘lenda urbana’ que se tornou o lugar. Histórias sobre os dois (dono e castelo) estão no imaginário popular da região. Mérito (e culpa) do artista e historiador de 56 anos, que mora na Rua do Castelo, 310, desde 1999.

Considerado até um pouco polêmico por sua excentricidade, o fato é que Robson sempre movimentou Ribeirão Pires com sua contribuição artística – ele é formado em violão clássico e lançou 27 CDs e 19 DVDs – e também por suas histórias ligadas aos povos indígenas. O dono do castelo tem descendência cafuza (miscigenação entre índios Guarani e negros) e é casado há nove anos com a índia We’e’na Tikuna Miguel, 27, da tribo Tikuna, do Amazonas.

Ontem, mais uma vez, convidou a população para conhecer seu lar. Há um tour diário e com monitor para quem quiser visitar o local, que faz parte da 9ª Primavera dos Museus. Neste ano o projeto tem como tema Museus e Memórias Indígenas. Robson fez questão de oferecer, inclusive, café da manhã, almoço e outras atrações para quem se interessou em ir ao lançamento de mais um livro de sua autoria: Índios: Uma História Contada Pelos Verdadeiros Donos do Brasil (Galeria das Letras, R$ 39,90, em média), no qual traça perfil do indígena. “Me sinto querido pelo cidade e para os que falam mal de mim digo que devem me conhecer primeiro para depois me respeitar como pessoa”, enfatiza.

A equipe de reportagem esteve entre seus 100 convidados. Robson é atencioso e se sai bem ao explicar as curiosidades no que tange à sua área de pesquisa. A chilena e pintora Francisca Rayen, 28, mora há dois anos em Ribeirão Pires e conheceu o artista ao fazer tour pelo castelo. “Fiquei encantada. É importante uma pessoa que resgata a história do Brasil.” Quem também acompanha o trabalho de Robson é o estudante de História e morador de Suzano Ricardo Alexandre da Silva, 45. “Lendo registros de resgate da cultura indígena e sobre a origem de Ribeirão Pires, conheci o trabalho do Robson. É importante para a história local.”

Além de acompanhar o lançamento do livro do artista e a exibição dos quadros de sua mulher (obras, aliás, que fazem parte do Museu Nacional Indígena), a equipe percorreu parte do castelo. Instalado em área de 2.056 m², conta com 13 banheiros, nove quartos, além de diversas passagens secretas (em quadros, por exemplo). Decorações típicas também não faltam ao espaço, como réplicas de espadas e escudos. Por mais que pareça não fazer sentido algum, a paixão do artista por violão tem a ver com a construção da sua morada. Ele descobriu que o instrumento surgiu na Era Medieval dentro dos castelos. “Foi concebido para reunir violonistas, mas tinha de pagar aos artistas para virem. Foi então que professores e alunos começaram a me visitar para saber mais sobre a cultura do Brasil e descobri o real propósito da minha casa”, conta Robson, com orgulho.




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