Profundo mergulho na história

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Vinícius Castelli

Livro ilustrado resgata importante fato ocorrido no Brasil durante a ditadura militar

Farto mergulho em histórias que o Brasil pouco conhece ou, quem sabe, resolveu deixar de lado por alguma razão. Traços impressionantes das mãos do ilustrador Fernandes e texto certeiro do jornalista e editor-chefe, Evaldo Novelini. ambos do Diário, promovem rica viagem aos anos 1930. Quem conduz a volta no tempo é Como Um Cavalo Salvou a Vida de Um Preso Político (Editora Boitatá, 72 págs., R$ 25, em média), que acaba de ganhar vida. O lançamento na região acontece em Santo André, na Biblioteca Nair Lacerda, e em São Caetano, na USCS (Universidade Municipal de São Caetano), com datas a confirmar.

A obra, contemplada via ProAc (Programa de Ação Cultural) e com prefácio assinado pelo jornalista, político e escritor Fernando Morais, abre a porta dos tempos em que o País vivia sob a ditadura de Getúlio Vargas e conta como a morte de um animal – que tinha mais amparo legal do que um ser humano – serviu para mudar o que viria a seguir.

A trama contada no livro apresenta como pano de fundo a Intentona Comunista, revolução que aconteceu em 23 de novembro de 1935, em Natal, Rio Grande do Norte, que tinha entre seus envolvidos o alemão Harry Berger – militante de esquerda e ex-deputado na Alemanha –, cujo nome verdadeiro era Arthur Ewert. Ele lutou com Luís Carlos Prestes, importante político brasileiro.

Berger foi preso e torturado na cadeia, onde permaneceu por nove anos. Na época, o advogado Heráclito Fontoura Sobral Pinto se sensibilizou com a causa e decidiu intervir. Aí sim o mote da história. Descobriu um episódio específico de um homem que foi preso por ter matado seu animal e pensou: ‘se as leis amparam aos animais, tem de amparar aos homens’. Resolveu ir à luta e encontrar maneira de ajudar Berger. O advogado teve como chão o Decreto de Proteção e Defesa dos Animais.

A história surgiu na vida de Novelini em 2007, quando um amigo, que teve o assunto como tese de doutorado, lhe entregou as páginas para que lesse. A paixão pelo fato foi instantânea, mas ainda não havia surgido a ideia de ter obra a respeito. “Só pensei em fazer um livro no ano passado. Na verdade, o Fernandes me perguntou se tinha alguma história boa e me lembrei dessa”, diz o escritor.

Juntos, Novelini e Fernandes se debruçaram em árduo, porém prazeroso trabalho de pesquisa para começar a construir a obra. “Todo livro que pudesse ter algo a respeito eu queria ler. Nem na biografia de Harry Berger é narrado esse episódio”, conta o jornalista. Ele explica que, na verdade, Berger era um personagem secundário da revolução. “Mas ele pagou pelo ódio da ditadura Vargas.”

Fernandes conta que, para ilustrar as páginas, teve de buscar por fotos e relatos que contavam como as coisas eram no período. “Ele foi preso em um lugar, depois transferido. Fomos descobrindo as coisas e ilustrando”, diz o artista que, para conceber a obra, optou por trabalho orgânico, usando papéis sulfite e vegetal, caneta e estilete. O resultado: a cada virada de página uma enxurrada de detalhes e a experiência de vivenciar, ainda que tanto tempo depois, uma história que quase foi apagada.




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