As cores de Odamar Versolatto

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Vinícius Castelli

Diversas obras autorais tomam conta das paredes do apartamento de Odamar Versolatto em São Caetano. Assim como ele, sua casa respira arte. Na sala, cerca de 300 livros de arte dão charme ao espaço. No total, ele soma mais de 4.000, boa parte guardada em containers no interior do Estado. Ele admira os livros, se perde no olhar e lembra que, apesar de tanto gostar deles, já faz quatro anos que não compra um exemplar sequer. “Não tenho mais onde guardar”, lamenta. Mas garante que os prediletos, como Cartas de Monet, por exemplo, estão sempre por perto. E mesmo com todo o requinte do ambiente, que também é ilustrado por diversas tintas e pincéis, o ar de simplicidade está em suas palavras e também em detalhes, como em um bolo de chocolate ao lado de pratos ilustrados por pinturas com obras do próprio anfitrião, sempre acompanhado pela companheira Helena Teso, incentivadora de carteirinha do artista.

 
A paixão de Odamar pela arte surgiu cedo. Quando criança, já rabiscava no papel. Mas as pessoas ao seu redor lhe diziam que arte não servia para viver, que não dava di­nheiro. “Fui deixando para lá”, confessa. Mas um belo dia, em 1995, fez sua primeira exposição na região. De 39 trabalhos apresentados ao público, 33 foram vendidos. “Vi que sai com mais dinheiro de lá do que o que eu ganhava. E, além disso, com uma exposição agendada na França”, relembra. Com um sorriso no rosto e cheio de novidades, o artista plástico de São Bernardo comemora as novas obras e de como estão, aos poucos, sendo espalhadas pelo Grande ABC.A mostra conta com 80% de obras inéditas, faz parte do projeto intitulado Art District Brasil. A exposição, a céu aberto, coloca também fim ao hiato de 12 anos sem uma mostra do artista na região.
 
Se para Odamar a arte serve, entre tantas coisas, para dar beleza aos olhos das pessoas, nada melhor do que deixá-las à vista. “São obras gigantescas em espaços públicos”, explica ele, que quer que as pessoas tenham acesso aos trabalhos. As reproduções, ampliadas e adesivadas estão em áreas externas e internas de diversos pontos comercias de Santo André, São Bernardo e São Caetano. Algumas chegam a ter cinco metros de altura. Durante três meses as pessoas poderão emprestar os olhos para pinturas como Toda Nudez Será Castigada, que está na Rua das Figueiras e é o novo xodó de Odamar. “Para esse trabalho tive como inspiração a coisa da inocência, sabe? A mesma inocência do Nelson Rodrigues. Foi por conta de sua inocência que ele conseguia relatar as coisas com tanto esmero. É preciso ser inocente para se assustar com aquilo e a pele desse personagem (da obra) é puríssima”, explica o artista, apaixonado pelo resultado do novo trabalho.
 
A obra Toda Nudez Será Castigada está exposta em frente à loja Bontempo. Dentro do local há outra reprodução do artista e assim é em todos os espaços onde tiver sua marca. A ideia é que as pessoas façam três selfies em diferentes pinturas de Odamar, um check-in pelo Facebook ou Instagram no comércio onde as obras estão expostas e adicionar a hashtag #odamarvesolatto. Quem fizer isso ganhará gravura do artista plástico. Basta retirar em frente ao comércio com obra exposta. “As pessoas que passam de carro até dimi­nuem a velocidade para ver a obra. Além disso, quem trabalha dentro do comércio (onde também há obra de Odamar) disse que o astral mudou, está melhor, depois que colocamos a pintura lá”, conta Helena. Em Santo André, além da Rua das Figueiras, as pinturas podem ser vistas também na Avenida Portugal. Em São Bernardo, a Rua Jurubatuba é um ponto para avistar as pinceladas de Odamar. Em São Caetano, olhos atentos na Avenida Goiás, um dos locais ilustrados por ele. A ideia desse projeto é dele e de Helena.
 
 
PARIS, ETERNA INSPIRAÇÃO
Odamar conta que os primeiros rascunhos para a mostra foram feitos em Paris, França, onde vive há quase três décadas. Na verdade, ele divide seu tempo entre a capital francesa, seu local predileto, Miami, nos Estados Unidos, e o Grande ABC. “Ter inspiração em Paris é mais fácil”, diz ele, que já se lembra com saudade dos cafés da 'Cidade Luz', dos bons vinhos e dos amigos que vivem lá. “Paris é a casa onde escolhi para sossegar meu facho”, brinca. Sua ida para a França foi casual. Seu irmão, o estilista Ocimar Versolatto, já vivia lá. Odamar passou a expor seus traba­lhos em Paris. “Vai indo, indo e indo. Teve série de facilitadores. Um dia você acorda, está falando francês e pronto.”
 
Além de saborear ostras aos domingos, Odamar gosta de caminhar por Paris. “Meus dias nunca são iguais”, diz ele, que confessa gostar de encontrar pessoas pela rua, parar e conversar. “A convivência é a coisa mais importante”. Mas, para ele, não é necessário estar em Paris para criar. “Não me preocupo em ficar no ateliê para iniciar qualquer processo. Posso estar em Hong Kong, Taiti. Onde eu estiver é fácil de trabalhar.” Antes de finalizar, Odamar, ainda com um sorriso estampado, diz que nas artes plásticas ele volta a ter a insustentável le­veza do ser, título de um de seus livros prediletos. É o que gosta de fazer e o que fará para sempre. Para o futuro, por enquanto Odamar quer pensar nas próximas paradas do Art District: outras partes do Brasil e Paris. Voilà!
 



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