'Vou de Uber, cê sabe'

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Raija Camargo

 “Se os motoristas do Uber não saírem do Rio de Janeiro vai acabar em morte”. Foi a resposta que a equipe de reportagem da Dia-a-Dia obteve ao questionar um taxista sobre o presença do aplicativo Uber na cidade. Os ânimos estão inflamados também em São Paulo e Brasília, onde ocorreram manifestações nas últimas semanas. Em Belo Horizonte o músico Marcel Telles e sua mulher, a repórter da TV Globo Luciana Machado, foram agredidos por um motorista de táxi, no bairro União, depois de embarcarem em carro chamado pelo aplicativo. O sindicato dos taxistas publicou em nota que repudia atitudes violentas, mas considera o serviço particular como 'clandestino.'

 
O Uber é plataforma de tecnologia que conecta motoristas particulares com passageiros que buscam esse tipo de serviço e está presente em mais de 320 cidades de 58 países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o método funciona desde 2009. Em maio deste ano, foi legalizado em Nova York, que já conta com 14.088 motoristas de Uber em comparação com 13.587 de táxis. O cadastro no aplicativo é simples. O usuário faz o download, registra seu número de cartão de crédito e, com a ajuda do GPS do celular, encontra o carro mais próximo. Após a corrida, o passageiro dá nota ao motorista e vice-versa. Se um dos dois não obtiver notas altas, o caso vai para análise e pode até ser banido do aplicativo.
 
Grande parte dos passageiros alega que o serviço oferecido pelos motoristas particulares é melhor. É o caso de Eduardo Iziqui, 28, que há três anos decidiu parar de usar o próprio carro e optou por transportes alternativos. “É chocante a disparidade na qualidade do serviço prestado. Muita gente acha que a diferença está nos carros, no banco de couro ou em outras 'frescuras'. Mas não. A diferença mesmo está na postura profissional. Em quatro meses que passei a utilizar o serviço, chamei táxi (ou tentei) cinco vezes. Me arrependi em todas”, conta. Entre os exemplos, cita que muitos taxistas não disponibilizam máquinas para passar cartão e dão volta até chegar ao destino.
 
A advogada Laila Mengarda, 27, usa táxi há seis anos em São Paulo e também se diz insatisfeita com o atendimento que vem recebendo. “Já registrei três reclamações no 156 (telefone de central da prefeitura da Capital). Uma porque o taxista fez um trajeto que usualmente eu pagava em torno de R$ 40 virar R$ 86. Em outra situação estava voltando de uma balada, o taxista trancou o carro e mudou o caminho, além de baixar o espelho retrovisor e fazer caretas nojentas para mim. Também me deixou muito angustiada quando um senhor quis fazer um caminho por sua conta, mas eu queria ir por outro. Choveu muito no meio do caminho e demoramos quase uma hora para chegar ao meu destino”, relembra.
 
A taxa cobrada por causa da troca de municípios pelos taxistas, algo rotineiro para quem se locomove entre as sete cidades do Grande ABC, é outra reclamação recorrente dos passageiros. No geral, os preços variam pouco – o Uber cobra R$ 2,42 por quilômetro rodado, já os táxis cobram R$ 2,50 – porém, na bandeira 2 o valor sobe para R$ 3,25, coisa que o aplicativo não possui. No fim, acreditam os consumidores, que quem sai ganhando são eles mesmos, já que a concorrência sempre estimula o aprimoramento dos serviços e dos preços.
 
O OUTRO LADO
Quando questionados sobre as impressões dos passageiros, os taxistas se defendem. As cooperativas entrevistadas pela equipe de reportagem garantem sim a qualidade no serviço, como ABC Rádio Táxi, de Santo André. “No nosso caso, como é rádiotáxi, todos os motoristas são cadastrados, legalizados e têm alvará, o que nos dá controle maior. Qualquer problema que tenha, desde o esquecimento de um objeto ou até cobranças de tarifas, há com quem reclamar. Além disso, todos os carros passam por vistorias, possuem ar-condicionado e um dos requisitos é que tenham, no mínimo, motor 1.4”, explica Hermínio Casemiro Neto, 38, diretor da empresa. Casemiro enfatiza que o serviço do Uber é ilegal. “É clandestino. O nosso posicionamento é contrário a esse tipo de serviço. É complicado porque as corridas já têm diminuído por conta da crise econômica instaurada no País”, conclui.
 
O Uber, por sua vez, se defende e diz que o serviço é legal. A empresa alega que a Constituição Brasileira, no artigo 170, garante a livre iniciativa, permitindo que todos exerçam atividade econômica, desde que a mesma não seja proibida. “A Política Nacional de Mobilidade Urbana (lei federal 12.587/2012) prevê claramente a modalidade de serviços de transporte individual privado (é nesta categoria que estão os serviços do Uber). E mais: a mesma Política deixa claro que essa modalidade de transporte é diferente daquela de transporte individual público (atividade privativa dos táxis)”, declara a empresa, em nota oficial.
 
EM QUE PÉ ESTÁ?
O Uber surgiu antes mesmo de existir uma legislação específica para a categoria. Agora, as autoridades estão correndo atrás para dar conta de resolver a polêmica. A Câmara Municipal de São Paulo já aprovou o Projeto de Lei 349/2014, que proíbe o uso de carros particulares cadastrados em aplicativos para transporte remunerado de pessoas, mas o projeto precisa ainda ser votado pela segunda vez e ser sancionado pelo prefeito Fernando Haddad (PT).
 
O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) também apresentou projeto de sua autoria que regulamenta o uso do aplicativo. De 12 de agosto, o PLS?(Projeto de Lei do Senado) 530/2015 inclui no Plano Nacional de Mobilidade Urbana tal modalidade, definida como “serviço remunerado de transporte de passageiros não aberto ao público, por intermédio de veículos particulares, para a realização de viagens individualizadas, previamente contratado por meio digital ou não”. O senador defende que é impossível proibir o fenômeno, por isso, o melhor é criar regra nacional.



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