Cultura fora da lei em São Bernardo

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Miriam Gimenes

 A composição da equipe de profissionais do CAV (Centro de Audiovisual de São Bernardo) fere edital desde sua fundação, em 2012. Coordenadores, técnicos e professores possuem relações profissionais e pessoais, o que não é permitido pelo documento. A Prefeitura de São Bernardo, que administra a entidade, faz vista grossa ao descumprimento legal.

De acordo com os editais 003/2012 e 002/2014 (que têm de ser renovados a cada dois anos), “nenhum membro da comissão (de seleção de propostas) poderá participar como concorrente ou ter qualquer vínculo profissional ou empresarial com os proponentes inscritos, ou de parentesco direto.” Contrariando as determinações, Sérgio Martinelli, coordenador-geral do CAV desde a inauguração, Luis Catenacci (coordenador de produção e apoio a projetos) e Marisa de Lucca (coordenadora do núcleo de produção), que fizeram parte da comissão de seleção de técnicos e arte-educadores, escolheram para as vagas pessoas com quem mantêm relação pessoal e comercial há anos.

A exemplo, Martinelli, Jarbas Valim (assistente de coordenação em animação), Catenacci e Lucas Malina (arte-educador) eram sócios na Films&Arts Comunicação Ltda. até 2012. Como os editais não permitiam relações profissionais, Martinelli saiu da sociedade, assim como Valim e Malina. Só que, em maio deste ano, Valim (subordinado de Catenacci) voltou a ser sócio da empresa, que ganhou mais um dono: Bruno Jorri, arte-educador do CAV. Coincidentemente, a Films possuiu o mesmo endereço da Martinelli Films Cinema e Comunicação Ltda, empresa de Martinelli, em São Paulo.

Outra integrante da equipe do Centro de Audiovisual é Marisa de Lucca. Além de ser sócia do arte-educador Lucas Malina na empresa Lucca Comunicação Ltda, ela é sua mulher e participou da comissão para seleção de funcionários. E tem mais: a empresa, que segundo a Junta Comercial de São Paulo, tem sede em São Bernardo, descreve em seu site o mesmo endereço da empresa de Martinelli.

A equipe de reportagem esteve no endereço da Lucca Comunicação, no Rudge Ramos, e constatou que se trata da residência da mãe de Marisa. Segundo ela, é um escritório “para recebimento de correspondências”, mas Marisa também mantém o escritório na Capital.

Procurado sexta-feira, o secretário de Cultura Osvaldo de Oliveira Neto disse ter recebido e-mail anônimo com essas denúncias e “que pediu esclarecimentos às pessoas envolvidas e está apurando as respostas”. Prometeu para hoje um parecer oficial. Já Sérgio Martinelli não quis responder às questões.

Segundo o especialista em Direito Público Alberto Luis Rollo, caso sejam constatadas as irregularidades, Neto tem de tomar providência. “Se não fizer nada, pode figurar em improbidade administrativa dos responsáveis caso denúncia chegue ao Ministério Público.”

E esses não são os únicos problemas enfrentados pelo CAV. Há alguns meses, os funcionários ameaçaram parar por falta de pagamento, que agora deve ser feito pela Telem S/A, ganhadora da licitação para gerenciar a Companhia Vera Cruz. Esse imbróglio voltou à tona na última semana, mas, pelo que o Diário apurou, o salário está em dia, de acordo com colaborador entrevistado dentro do CAV.




Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados