'Me sinto ótima'

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Miriam Gimenes

'Me sinto ótima'

Juliana Didone cansou de ser a 'patricinha' da TV; embora o dicionário não explique, para ela, simples é sinônimo de felicidade

Foto: Divulgação

 Malhação completa duas décadas de existência. O ‘folheteen’, da Rede Globo, além de ser o mais longevo no ar, tem outro atributo ímpar: foi de lá onde saíram grandes talentos da teledramaturgia brasileira. Um deles foi a atriz Juliana Didone, 31, que protagonizou a 11ª temporada da série (2004 a 2005) ­– a segunda maior audiência de toda a história da atração –, como Letícia. Ela, que já havia tentado entrar na novela em 2002, sem sucesso, acredita que tudo tem seu momento certo. Tanto que foi desse teste que foi chamada para o primeiro papel na emissora. “Como disse (William) Shakespeare: ‘esteja pronto que a oportunidade vai aparecer’.”

 
Juliana sabe valorizar tudo o que acontece em sua vida. Esta oportunidade pioneira, que rendeu a Tati, de Desejos de Mulher (2002), foi determinante para tudo o que aconteceu a partir de então. “Acredito muito em esforço e sonho. O meu vem desde muito cedo, de forma genuína. Com 12 anos fiz meu primeiro curso e descobri que se quisesse ser atriz tinha de estudar muito.” Ela o fez. De lá para cá, passeou em diversos biótipos de personagens, até chegar ao que está fazendo agora, a Leila, de Os Dez Mandamentos, na Record. “Ela (personagem) é uma revolução mais de dentro para fora. Tirei o que há muito tempo tenho carregado das minhas personagens, sempre peruas, bem de família, com dinheiro. A Leila é escrava, não tem nada. Uma mulher extremamente simples e que, ainda com as dificuldades, tem uma fé em Deus como a minha.”
 
E foi essa crença e determinação que fizeram ela entrar de cabeça em todos os projetos, sem pensar no di­nheiro, emissora ou qualquer outro artifício. “O meu sonho sempre foi ser uma grande atriz, que tivesse possibi­lidades a oferecer para os traba­lhos que participasse. Fiquei dez anos na Globo porque aconteceu depois de muitos ‘nãos’ em outros lugares. A minha transição foi o ciclo da vida que se esgotou. Um novo ciclo abriu e nele fazem parte várias coisas, como a Record. Minha cultura é do presente, tudo pode acontecer.” Entre outros itens deste novo período (leia-se 2015) estão a participação na série As Canalhas, da GNT, no filme Superpai, lançado em fevereiro, e o papel de domadora de cobras na série O Hipnotizador, da HBO, que estreia este mês.
 
 
GLAMOUR?
O trabalho não cessa, mas ela não se arrepende da escolha que fez ainda criança. “A gente pode ficar horas trabalhando de madrugada, sábado e domingo, viajando longe da família, mas ainda assim é melhor trabalhar”, diz. Entre inúmeros cortes de atores que esta ocorrendo nas emissoras, ela mantém-se ilesa e acaba de renovar contrato com a Record até 2019. Só que, como tudo tem um lado B, a exposição é uma contrapartida do ofício que não a agrada. Ver suas fotos expostas em momento de intimidade também não. “A alternativa seria se isolar do que me dá prazer? Isso não vou fazer. Antes aparecer do que deixar de aproveitar do que faz bem para o meu espírito.” O nome disso? Maturidade.
 
É que, a partir dos 30 anos, ela diz que entrou em um processo de se aceitar como é, nua e crua. “Você não quer ser mais social. Quero exercer a minha essência diariamente. E, de repente, você percebe que a simplicidade é felicidade. Com a idade ganhamos carta branca para que a simplicidade da alma fique mais latente, não tem problema em errar, se mostrar fraca ou inconstante, expor opinião.” A atriz diz que, por isso, ama as crianças, porque elas não querem ser quem não são. “Vamos ganhando isso (pu­do­res) na adolescência. Dos 14 aos 25 anos queremos agradar os outros e es­quecemos da gente. Essa ideia do ‘linda, rica, magra e inteligente’ é fal­sa”, sentencia. A vida, segundo ela, é incomum, cheia de angústias, sonhos, louça para lavar e compromissos.
 
A ioga a auxilia neste processo. “Com a prática, recarrego minhas energias e faço uma espécie de te­rapia. Tentando não pensar em nada resolvo um monte de coisas.” Ela, que admira de Clarice Lispector a John Lennon – ‘gostava desde pirralha e queria ser ele quando crescesse’ – só quer agora paz de espírito. Por isso, a trilha do momento não poderia ser outra: Me Sinto Ótima, da Banda do Mar, que fala, entre seus versos, que ‘cansou de carregar milhões de medos’. “Estou em uma fase assim, de ser mais leve, de buscar o solar.” Então brilhe, Juliana.



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