Suando a camisa

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Raija Camargo

 Que atire a primeira pedra quem não prefira ficar até mais tarde na cama e abusar de alimentos calóricos assistindo a um bom filme aquecido pelas cobertas quando o inverno chega. A academia fica de lado e os exercícios físicos em segundo plano, já que, além da preguiça, nesta época do ano o corpo acaba ficando menos exposto. Mas, por outro lado, é fato também que quando começa a esquentar o clima, em meados de setembro, bate o desespero e as pessoas correm – literalmente – para a academia de ginástica mais próxima querendo o resultado milagroso do famoso 'projeto verão'. A verdade é uma só: o segredo de quem está bem no verão é efeito do trabalho duro o ano inteiro, especialmente no inverno. Quem se desespera e quer tirar o atraso está mais propenso a sofrer lesões e a não obter o ganho desejado, uma vez que o metabolismo está desacelerado e os músculos enfraquecidos, além do alto percentual de gordura estocado no inverno preguiçoso. Portanto, o projeto verão deve mesmo é começar agora.

Para tentar driblar a preguiça no frio, o bancário de Santo André Marcus Alarcon, 37, tomou uma decisão simples: trocou seus treinos que aconteciam logo pela manhã para o período noturno. “Não adianta: no inverno, queremos dormir até mais tarde mesmo. Eu treinava bem cedinho, mas mudei para o fim da tarde, assim não tenho desculpas para não ir”. Marcus é orientado por seu personal trainer, Caio Couto, entusiasta da ideia de adotar a rotina de exercícios físicos durante todo o ano como um estilo de vida. O profissional explica que os treinos praticados no inverno ajudam a aumentar cerca de 30% o gasto calórico. A conta aumenta pelo fato de a temperatura ambiente estar baixa e o corpo precisar elevar a temperatura interna para manter o equilíbrio térmico.

Quem aposta nos exercícios físicos como parte da rotina, seja no calor ou no frio, sabe que eles não têm finalidade apenas estética. Os preguiçosos estão colocando a saúde em risco e deixando de combater os sintomas crônicos de algumas doenças. “Pessoas com problemas articulares sentem muitas dores no frio por conta da diminuição de irrigação sanguínea nas regiões de desgaste, principalmente quando esses se encontram nas regiões periféricas. Acontece porque o sangue tende a se concentrar no centro do corpo para manter o funcionamento dos nossos órgãos vitais. O exercício, além de melhorar a circulação sanguínea para todas as regiões, também aumenta a produção do líquido sinovial, substância que age como lubrificante natural para as cartilagens”, explica o personal trainer.

Marcus Alarcon faz coro e conta que após iniciar os treinos regulares adoeceu com menor frequência. “A gente passa a se alimentar melhor, então é mais difícil pegar uma gripe, por exemplo. Por ser um treinador comum e não um atleta, vi mudanças radicais e benéficas em minha rotina”. A advogada Natacha Lacerda, 29, também é exemplo de que vale a pena combater o frio. Ela sofria briga constante com a balança e amargava o 'efeito sanfona': perdia peso no verão e ganhava os quilos de volta no inverno. “Era horrível. Pensava em estar bem apenas no verão e, claro, fazia dietas malucas para conseguir emagrecer. Até que eu entendi que precisava manter um estilo de vida. Foi quando troquei o projeto verão pelo projeto vida”, conclui.

 

O que vai no prato faz a diferença

Sem a presença de exercícios físicos, a possibilidade do exagero na alimentação é quase certa. Isso acontece porque o organismo sente falta da boa sensação que a atividade física proporciona ao produzir substâncias, como a serotonina. O mesmo prazer é obtido após a ingestão de alimentos gordurosos, como feijoada, foundue, queijo e chocolate. Sem contar que no verão a propensão é ingerir mais líquidos e, às vezes, uma saladinha leve é opção satisfatória. Já nos dias frios, a maioria das pessoas dá preferência a alimentos mais quentinhos e calóricos.
 
O nutricionista e fisiologista Filipe Martins dá dicas para quem não quer sair da linha e manter a boa saúde. Ele destaca a importância de ingerir alimentos que contenham proteína, o que aumenta a sensação de saciedade, e evitar o consumo de carboidratos associados à gordura, como a famosa dupla pão com manteiga, porque o carboidrato libera hormônios que ajudam na captação da gordura, fazendo com que ela tenha uma maior absorção.
Nada de ir para a academia em jejum ou ficar sem comer depois do treino, a escolha dos alimentos é fundamental para otimizar os ganhos obtidos. “Antes de praticar atividades físicas, o ideal é consumir fonte de carboidratos complexa, como aveia ou frutas de baixo índice glicêmico.
 
Pêssego, ameixa ou pão integral são ideais para que esse carboidrato seja liberado lentamente e possa dar energia ao treino todo. Já após o exercício é indicado ingerir outra fonte de carboidrato, mas, desta vez, com alto índice glicêmico para evitar a janela imunossupressora que a atividade física provoca”, enfatiza o nutricionista, que lembra para outra importante medida: consumir, no mínimo, dois litros de água por dia.
 
 
Com que roupa eu vou?
 
Sentir-se confortável com uma vestimenta adequada é fundamental para a boa execução de qualquer tipo de esporte. Quem pratica atividades ao ar livre deve buscar tecidos que não atrapalhem a transpiração, ou seja, nada de sair com agasalhos pesados que dificultem os movimentos. Nestes casos, o dry fit é o mais indicado. O corpo concentra calor em seu centro, portanto é mais necessário aquecer as extremidades, como a cabeça, as mãos e os pés. Caso sinta calor durante o treino, a retirada de peças deve ser gradual para evitar possível choque térmico. Evite também lugares poluídos ao ar livre, pois o inverno registra mais incidência de problemas respiratórios. O alongamento deve ser realizado com mais repetições para evitar lesões e o aquecimento também deve acontecer com atenção especial.



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