Repleta de si

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Marcela Munhoz

Há mais de 150 anos, o escritor francês Honoré de Balzac (1799-1850) fez análise de jovem ‘dona de casa’ da sociedade parisiense pós-napoleônica. Nas seis partes do livro A Mulher de Trinta Anos, escrito entre 1829 e 1842, a personagem Julia vive muitos dilemas, está insatisfeita com o rumo que sua vida tomou e quer mais, muito mais. Segundo Balzac, a jovialidade embutida na maturidade da mulher desta idade a deixa mais perto de descobrir o que deseja, o que a deixa irresistível. “(...) a mulher mais jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido. (...) Entre elas duas há a distância incomensurável que vai do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de 30 anos satisfaz tudo e a jovem, sob pena de não sê-lo, nada pode satisfazer, descreveu. Porém, na trama, Julia acaba consigo mesma ao se arriscar sair do 'lar perfeito' e se aventurar.

Suzuki, 37, se encaixa no perfil da mulher moderna. Longe de ser um padrão e mais distante ainda de estar insatisfeita com o rumo que a sua vida tomou, a artista – descendente de japoneses, alemães, italianos e indígenas – orgulha-se de ser várias em uma. “A Dani de hoje já não é mais a Dani de ontem e a mudança é sempre positiva. Vivi um monte de coisas na vida pessoal, na profissional. Fui para o mundo, não tive medo. Apenas curiosidade e ansiedade. E tudo, absolutamente tudo, valeu a pena. Inclusive os erros. Foram eles também que me trouxeram até aqui”, conta. Solteira, a carioca tem a resposta na ponta da língua quando questionada sobre como anda o coração. “Encontrei a paz sozinha, sinto prazer em ficar comigo. Estou satisfazendo as minhas vontades. Faço o que quero, saio com quem eu quero. Prezo por essa liberdade. Quando aparecer alguém, espero que tenha amor próprio, que esteja ao meu lado para caminhar junto comigo. Por isso, sempre digo: não busco por uma metade, mas por alguém inteiro.”

É também mulher decidida a personagem que Dani interpreta agora na televisão. Roberta veio depois de 13 anos longe da novela Malhação, na Globo. A personagem entra na trama para provocar e consegue o que quer. “Nós temos algo parecido em relação à independência, no amor aos esportes. Mas ela não tem limites, não toma cuidado ao roubar o homem da outra. Acho que existe uma maldade aí. Neste quesito, somos completamente diferentes.” Para a atriz, tudo na vida é questão de decidir que caminho seguir. Tanto que foi no tema que ela se baseou para escrever e dirigir o curta Escolhas, protagonizado pelo ator Joaquim Lopes. “É sobre um cara que tenta recuperar a vida depois de algumas escolhas erradas. A ideia veio da minha observação da humanidade, como as pessoas acabam se metendo em situações complicadas por fazerem pequenas coisas erradas. Mas, afinal, o que é certo e o que é errado?”, questiona. Aliás, Dani está muito feliz por ter feito a escolha de se arriscar também do outro lado da câmera, nos bastidores. “Estou extremamente apaixonada. É o que realmente quero fazer. É maravilhosa a sensação de escrever e depois assistir à história pronta. Para este projeto consegui o ator perfeito, a equipe correta e diferentes profissionais que acreditaram no filme”, conta a diretora, que bancou o projeto do próprio bolso. “Aqui no País ainda é muito difícil e caro fazer cinema. Nem se compara ao que acontece no primeiro mundo. Mas tudo serviu de excelente aprendizado.” A experiência foi tão enriquecedora que agora ela está mais concentrada em dirigir e apresentar. “Não que eu vá recusar papéis para interpretar, mas é muito bom quando a gente pode desenvolver as coisas do nosso jeito.”
 
Foi metendo as caras e sendo quem realmente é que Dani se deu muito bem também apresentando programas na televisão. Ela esteve à frente, entre outros, do Demorô (2004), Mandou Bem (2005), Tribos (2006), Pé no Chão (2010), além do The Voice Brasil (2012) e Vamos Rachar? (2013). Suas experiências com Tribos e Pé no Chão foram parar em livro. “Conhecer novos países e pessoas com histórias e objetivos diferentes é fascinante. Ser apresentadora me proporciona este privilégio. Nos programas que faço não apresento produtos, mas seres humanos”, resume ela, que revela ter novos projetos nesta área. As viagens que fez durante anos, inclusive, influenciaram na vida espiritual de Dani. “Tive acesso a muitas culturas, religiões, crenças e ciências diferentes que me fizeram questionar a vida espiritual, a fé e até Deus. Hoje eu não tenho uma religião, mas acredito no poder da relação com o universo, nos valores da vida mesmo.”
 
MÃE, AMIGA
Por todas as aventuras que Daniele Suzuki passou na vida, uma das mais completas, segundo ela, está sendo a maternidade. O nome desta grande viagem é Kauai, 4. “Ele é parceiro, me ensina muitas coisas todos os dias. O que a gente tem é uma troca, uma amizade muito grande”, descreve Dani, que também está dividindo o seu tempo com outro projeto especial: os livros que está fazendo junto com Kauai e que devem ser lançados até o Dia das Crianças, em outubro. O primeiro é sobre uma lagartixa comilona, que experimenta frutas e se sente feliz. O segundo é sobre um menino que é cheio de ideias. Formada em Design Gráfico, as ilustrações são da mãe coruja. “Está sendo uma delícia poder viver isso com ele.”
 
 
Dani faz questão de frisar que todo o dinheiro arrecadado com a venda dos livros será revertido para a ONG Waves for Water, que tem o objetivo de levar água limpa para comunidades carentes pelo mundo. “É uma das minhas prioridades. A ONG é de verdade, genuína. É incrível o quanto um pequeno ato pode crescer com a ajuda das pessoas”, diz a artista, que faz questão de tentar entender o que acontece no Brasil e no mundo, politicamente falando. “É importante ir atrás. As leis já não fazem o menor sentido e sempre surgem notícias de novos casos de corrupção, violências e erros enormes dos governos. As pessoas estão cada vez mais alienadas, questionam pouco, estão confusas. Claro que, às vezes, tenho vontade de pegar minhas coisas e ir embora do Brasil, mas fico porque sei que tem gente fazendo a diferença. Isso me conforta um pouco.”
 
Ter Kauai também fez com que Dani –


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